É costume dizer-se que a “necessidade é mestra de engenho”. Quem é que nunca usou uma cadeira para chegar à última prateleira da estante? Cada um terá os seus exemplos, mais ou menos giros… Portugal até tem a palavra “desenrascanço”. Como é que isto se aplica à pandemia, em que até as palavras ganham novos sentidos?
Não quero com isto dizer que na defesa da vida o improviso é o melhor aliado. Não é. Apenas que em pandemia a urgência é mestra de adaptação. Há uma série de noções-chave que vêm sofrendo mutações e é útil refletir sobre isso. Uma delas é obviamente a da proximidade. Não tem sido fácil entender como profilaxia a necessidade de distanciamento entre pais, filhos e amigos. Já na ação política, de forma quase paradoxal, a necessidade de proximidade exponenciou-se.
Apesar de vivermos um fenómeno epidémico global, as respostas são locais na sua prática e são tanto mais eficazes quanto mais tiverem em conta as particularidades do contexto-alvo. Aqui, é fundamental o trabalho dos autarcas, em todas as suas valências. É verdade que é um trabalho de abelha, porque é de pormenor e sem a visibilidade que devia ter. Mas é tão indispensável ao sistema como a polinização. A todos eles, o meu agradecimento pelo seu papel de linha do meio que, ao assegurar a coesão, se torna linha da frente na ajuda às populações.
O Grupo Parlamentar do Partido Socialista tem continuado o seu roteiro “Manter a proximidade, em segurança”. Os deputados do círculo eleitoral de Setúbal reuniram com o Conselho de Administração da Unidade Local de Saúde do Litoral Alentejano (ULSLA), com o ACES Almada-Seixal, ACES Arrábida e ACES Arco Ribeirinho, bem como o Comando distrital de Setúbal da PSP com presidentes de câmara e com representantes das estruturas do PS. Na agenda, a resposta à pandemia, o processo de vacinação e as respostas das unidades de saúde. Buscámos a decisão política partilhada e fundamentada pela proximidade com aqueles que são os alvos da mesma e os seus representantes. A nossa presença, claro, foi digital.
Este é o tipo de ação política que temos de dinamizar. Nunca o do debate-cambalhota tão do agrado do PSD. O seu único objetivo tem sido a oposição “porque sim”. Ataca medidas para tirar proveito político e não para afiná-las ou ajustar-lhes a trajetória. Não é, aliás, a primeira vez que o PSD aproveita um estado de fragilidade do país como armadilha para votos.
Depois de atacar o Orçamento por “dar tudo a todos”, esta semana foi a vez do “tem medidas a menos” para apoiar famílias e empresas… Pelo meio, quis o adiamento das eleições autárquicas, por preocupações de campanha, claro. Mas que medo tem o PSD? E desconhecerá as implicações da gestão corrente para uma autarquia? Até parece que não houve atos eleitorais em conformidade sanitária, já em pandemia. O PSD precisa de se dedicar às lutas maiores de hoje. Mais do que nunca, a ação política tem de ser mestra de verdade e consenso entre o debate científico e o debate político.
Deixo aqui esta minha reflexão pela gratidão, apelando a ambas e à responsabilidade. Com ela, deixo também os meus votos de saúde.