A radicalização do discurso em alguns sectores do espectro político nacional, nomeadamente a extrema-direita, está a despertar e a trazer à tona alguns sentimentos que já esperávamos estarem erradicados de uma sociedade plural e democrática como a portuguesa.
Temos diversos exemplos ao longo da história e em diversas latitudes de como grupos extremistas fomentam discursos baseados no ódio e conhecemos bem o seu modus operandi. Primeiro identificam um grupo minoritário com problemas latentes com a restante sociedade, para depois fazerem deles depender a causa de todos os males que assolam a nação.
Nos últimos tempos, fruto do crescimento e visibilidade desses movimentos, temos assistido em praça pública a discursos de índole racista e xenófoba, e que recentemente se materializaram numa petição que visava a retirada de cidadania e consequente expulsão de um cidadão nacional, fundamentada apenas pela expressão da sua opinião. Esta petição para além de imoral é ilegal e inconstitucional, servindo apenas para que possamos identificar os racistas que se escondiam e que agora vão saindo da toca.
Mas o objectivo deste tipo de acções é apenas colocar estes temas na agenda política. Após a adesão de algumas pessoas a esta petição sem sentido, logo o líder do partido de extrema-direita veio propor a criação de uma nova lei que reintroduziria a figura do exílio no nosso país. Porém sabemos que eles não irão parar por aí. Se agora querem expulsar estrangeiros, mais tarde quererão alargar o âmbito a todos os que não partilham das suas ideias fascistas. O processo é-nos infelizmente bastante familiar e de má memória, pois era uma prática corrente do regime fascista-provinciano salazarista, e era uma das armas preferidas contra todos os que lutavam pela liberdade e pela democracia.
Todo o preconceito assenta no desconhecimento e na ignorância. Essas são talvez as maiores armas que as ditaduras usam para controlar os cidadãos e permitir implementar as suas políticas restritivas e repressivas.
O racismo é talvez o sentimento mais baixo que o ser humano pode ter. A discriminação de outros baseada no tom de pele, na nacionalidade e na religião professada só é possível porque mesmo no século XXI a ignorância e o desconhecimento abundam mesmo nas sociedades mais desenvolvidas.
As crises económicas e de valores potenciam o surgimento destes movimentos. A internet e as redes sociais têm sido um eficaz meio que estes extremistas usam para a propagação das suas mensagens. Os algoritmos utilizados facilitam a encontrar e conectar quem pensa de modo similar. Já não é necessário procurar certo tipo de informação, porque ela dependendo da nossa actividade on-line, vem ter connosco.
Temos de combater como todas as forças os discursos de ódio e os movimentos antidemocráticos e não podemos permitir que sejam eles a marcar a agenda política. Ao mordermos o isco por eles lançados estamos a ajudá-los a cavalgar a onda do seu extremismo.
A liberdade, a igualdade e a democracia são valores fundamentais da nossa sociedade e que não podem ser postos em causa, temos de ser totalmente intolerantes para com a intolerância.
Não podemos fingir que nada se passa e que o racismo não é um problema. Todos os seres humanos são iguais, e ao permitir que alguns sejam discriminados, estamos no fundo a permitir que seja discriminada toda a humanidade.
O ódio não pode vencer.