Algumas das maiores conquistas da humanidade têm sido, sem dúvida, as alcançadas na saúde, sendo um dos seus resultados o aumento da esperança média de vida e o consequente envelhecimento da sociedade. Paralelamente, outras transformações demográficas significativas têm tido lugar, tais como a redução da natalidade e da população jovem.
Portugal não foge à regra. Segundo dados da PORDATA, em 1961 existiam 27 pessoas idosas por cada 100 jovens. Menos de 60 anos depois, em 2019, para o mesmo número de jovens, o número de pessoas idosas aumentou para 161!
Assim, cada vez mais, somos sociedades envelhecidas devido aos avanços tecnológicos, médicos e sociais mas, paradoxalmente, entendemos o envelhecimento de uma forma negativa, repleta de estereótipos que importa desmistificar.
Sobretudo, quando existem indicadores que esta é uma tendência demográfica que deverá acentuar-se nas próximas décadas. Segundo projecções da Fundação Francisco Manuel dos Santos, no ano 2030, a nossa população será ainda mais envelhecida, podendo o número de indivíduos com 65 e mais anos, constituir quase metade das pessoas em idade activa, sendo que actualmente equivale a pouco mais de um quarto.
Existem diversos desafios tanto no cenário actual como naquele que parece o mais plausível: como integrar as pessoas idosas e as suas necessidades específicas numa sociedade altamente discriminatória em relação à idade? Basta ouvir o discurso, bastante difundido, que parece colocar todas as pessoas a partir de uma determinada idade num único patamar – o da velhice. Falamos de pessoas, de indivíduos com as suas diversas idiossincrasias, experiências e formas de estar na vida; de cidadãos válidos, merecedores de respeito e de respostas que ajudem na promoção da sua qualidade de vida, com saúde, autonomia e independência.
Foi precisamente a necessidade de promover estas respostas que levou à criação, em 2017, da Estratégia Nacional Para o Envelhecimento Ativo e Saudável 2017-2025, nos termos do Despacho n.º 12427/2016, de 17 de Outubro, resultado dos esforços de um grupo de trabalho interministerial e intersectorial. Porém, esta estratégia não chegou sequer a ser publicada em Diário da República e, se a sua pretensão era cobrir o período de 2017 a 2025, que ilações podemos tirar desta inércia em relação aos compromissos do Governo para com esta faixa etária?
Importa garantir um trabalho sério sobre esta matéria, não só a nível de reflexão e análise mas sobretudo em termos de implementação de medidas eficazes. E se essa necessidade já era sentida, com o surgimento da pandemia agravou-se tal como se agravaram todas as vulnerabilidades pré-existentes na população maior de 65 anos. E, nesta fase, preocupa-me sobretudo o acesso à saúde em tempo útil e as mais que prováveis consequências do confinamento a nível da saúde mental. Foram estas pessoas, e em alguns casos continuam a ser, que cuidaram das gerações mais novas. Compete-nos a todos nós retribuir esse cuidado, seja no reconhecimento que o avançar da idade não significa necessariamente perda de capacidades, seja através do reforço das redes de suporte à pessoa idosa mais vulnerável.