O Museu da Música Mecânica, perto de Palmela, já teve 42 mil visitantes desde 2016
Há quem pense que são apenas caixinhas de música mas, perante essa ideia, Luís Cangueiro, a mente e as mãos por trás do Museu da Música Mecânica, ri-se. Não se ri de escárnio, mas sim de ouvir uma frase que, de já ouvida tantas vezes, causa-lhe alguma boa disposição.
É coleccionador deste tipo de material (que não, não são só caixinhas de música) desde o fim dos anos 80 e é em Arraiados, na zona de Palmela, que tem o museu. No entanto, foi o prazer pelas peças que fez o espaço tornar-se num que fosse visitável, pois não era esse o primeiro objectivo para o museu que abriu em 2016.
“A primeira ideia que eu tive foi criar aqui na quinta um espaço para guardar as peças. Para mostrar a amigos e família, como tanta gente tem. Depois, alguém me alertou para a ideia de poder fazer aqui um museu. Começou a ser construído em 2001”, explica, acrescentando que a burocracia e os projectos atrasaram a obra.
Sobre todas as peças, muitas delas autênticas obras de arte, que tem em exposição no museu, desde os primeiros gravadores de voz idealizados por Thomas Edison a gramofones, ou aparelhos bem mais intrincados, explica que são “instrumentos que tocam sozinhos, basta colocá-los em movimento”. É isto, precisamente, que define aquilo que é a música mecânica.
E Luís Cangueiro, professor de carreira depois de se graduar em 1962 em Coimbra, não se coíbe de demonstrar o orgulho de mostrar tamanha colecção aos demais: “Sinto-me orgulhoso por as pessoas poderem conhecer estas obras. Este era o objectivo do museu. E o investimento era obviamente muito grande para eu ficar sozinho a olhar para as peças. Fiquei surpreendido com o interesse que as pessoas têm tido. O museu foi inaugurado com a presença do Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, o que ajudou na visibilidade e agradecemos imenso”.
De facto, o Museu da Música Mecânica, até começar a pandemia, claro está, não se pode queixar de falta de interesse. Entre Outubro de 2016 e Fevereiro deste ano foram cerca de 42 mil pessoas que foram ver o que se passou nos últimos séculos ao nível das invenções e das descobertas na música mecânica.
E sobre os vários tipos de peças que tem, mais de 600 com 300 em exposição, explica entusiasmado: “Temos várias galerias. Nos estenógrafos, por exemplo, estamos no campo da gravação e depois chegamos ao tin foil, onde foi gravada pela primeira vez a voz humana. A música era gravada em cilindros, depois passou a discos, não como os conhecemos hoje, no princípio do século XX”. A conversa sobre este tema poderia ter sido interminável, dado o gosto e o conhecimento do coleccionador.
Outro dos motivos de satisfação é o facto de a colecção ser “abrangente”, mais do que “muitas no mundo, que são mais especializadas”. Assim, o primeiro museu de música mecânica em Portugal gaba-se de mostrar aos visitantes um pouco de tudo. Há ainda muito orgulho na fachada moderna e no edifício, que “sem janelas mas com muita luz natural”, como O SETUBALENSE pôde comprovar, aparece em revistas estrangeiras de arquitectura.
Mas desengane-se quem possa então pensar nesta colecção como individualista. Não o é, de todo. O amor à música mecânica estendeu-se à família e daí as galerias, onde foi possível ouvir sons maravilhosos de máquinas impressionantes, também terem sido mostradas por Teresa Cangueiro, filha do coleccionador.
“O meu objectivo, além de ter uma presença e participação aqui no museu, é também de continuar o legado do meu pai e tentar absorver conhecimento dele”, diz a também responsável por visitas de grupo.
E são várias, “dos três aos 90 anos”, em grupos que chegam a ser de centenas de pessoas, “grupos de motards, carros antigos ou até de caravanas, que já encheram o parque todo”, finaliza Luís Cangueiro.