Do sexismo

Do sexismo

Do sexismo

2 Dezembro 2020, Quarta-feira
Cristina Rodrigues - Deputada não inscrita

A discriminação baseada na diferença de género ainda é, infelizmente, intrínseca à nossa sociedade. Embora a nossa realidade actual seja diferente da vivida há uns meros 40 anos, não podemos ignorar a gritante desigualdade entre mulheres e homens, sendo disso exemplo os dados do recente Relatório sobre o Progresso da Igualdade entre Mulheres e Homens no Trabalho, no Emprego e na Formação Profissional – 2019.

Segundo este relatório, entre outros números igualmente exemplificativos, apesar das mulheres terem mais qualificações – em 2019 a percentagem de mulheres (60,6%) no ensino superior era muito superior à dos homens (39,4%) – , tal não se traduz em maior empregabilidade e melhores condições de trabalho. Pelo contrário, verifica-se que apesar da taxa de desemprego ter vindo a diminuir, esta redução foi mais significativa nos homens do que nas mulheres, sendo estas as mais afectadas pelo desemprego. Uma situação que se agravou no actual contexto de pandemia pois a mulher possui vínculos mais precários e trabalha maioritariamente nos sectores mais afectados pela crise.

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O relatório adianta também que continuam a existir assimetrias muito significativas entre ambos os géneros no plano remuneratório. Os salários médios das mulheres são inferiores em 14,4% aos dos homens. Isto significa que a diferença salarial traduz uma perda média de 225,5 €/mês para as mulheres em relação aos homens.

Um outro estudo de 2019, “As Mulheres Hoje em Portugal – quem são, o que pensam e como se sentem!”, da Fundação Francisco Manuel dos Santos, revela, por seu turno, que as mulheres ainda dedicam quase 6 horas por dia a tarefas domésticas e relacionadas com cuidados aos filhos, independentemente de estarem empregadas. Em relação ao trabalho doméstico especificamente, as mulheres responsabilizam-se por de 74% contra 23% do efectuado pelos seus companheiros. A investigação concluiu que “serão necessárias cinco a seis gerações para que se alcance uma distribuição equilibrada das tarefas domésticas entre sexos”. Não admira por isso que as mulheres portuguesas padeçam de um cansaço generalizado e se sintam constantemente subvalorizadas!

Mas esta será talvez a face mais palpável do sexismo, ou talvez, melhor dizendo, os seus resultados mais quantificáveis. De facto, na construção de estereótipos que são a base desta desigualdade entre sexos, importa, em primeiro lugar, perceber afinal o que é o sexismo. Nesse sentido, o Comité de Ministros do Conselho da Europa publicou, em Março do ano passado, a primeira definição desse conceito acordada a nível internacional, como sendo “qualquer expressão (atitude, palavra, imagem, gesto) baseada no pressuposto de que algumas pessoas, maioritariamente mulheres, são inferiores devido ao seu sexo”. Agora, pensemos, quantas vezes somos testemunhas de posturas, atitudes e comentários que, aparentemente inocentes, contribuem para que esta realidade se mantenha? E mesmo que as nossas convicções sejam contrárias ao sexismo, temos consciência do nosso importante papel no seu combate? Temos consciência de que esta é uma luta de todos? E de que podemos, e devemos!, em muitos momentos e situações alertar para a sua existência? Não é uma questão de mulheres contra homens, como muita gente ainda pensa, mas de uma sociedade verdadeiramente justa e equilibrada, que só será plena na integração de todos e na profunda compreensão da nossa importância como seres humanos, independentemente do género.

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