Assembleia Geral extraordinária realiza-se sexta-feira, entre as 11 e 21 horas, na sala do Bingo
A três dias da Assembleia Geral Extraordinária do Vitória FC, que se realiza sexta-feira, entre as 11 e 21 horas, na Sala do Bingo, do Estádio do Bonfim, a tensão entre a direcção, liderada por Paulo Rodrigues, e a Mesa da Assembleia Geral (MAG), presidida por Nuno Soares, sobe de tom. Em causa está a reunião magna em que os sócios do clube vão decidir se revogam o mandato dos actuais órgãos sociais.
Em comunicado publicado na segunda-feira à noite na página oficial do clube, a direcção acusa Nuno Soares de ir contra os estatutos do Vitória. “O senhor presidente da MAG lamentavelmente tem a desfaçatez de ir contra os Estatutos do Vitória FC, ao ponto de marcar uma AG de destituição para dia 04.12.2020, desfaçatez porque a MAG neste momento encontra-se com três demissões e não só duas como comunicado pelo próprio, os três referidos elementos estão contra a uma AG comum extraordinária, com o único propósito da destituição da direcção que nem sequer está prevista nos estatutos”.
No entendimento da direcção “está expresso nos Estatutos a ilegalidade de realizar um AG extraordinária sem que haja reunião e discussão (direito ao contraditório) e ainda mais sem que estejam presentes pelo menos dois terços dos proponentes, neste caso teriam de estar pelo menos dois terços dos 113 sócios assinantes e vai contra todas as AG previstas, daí terem pedido a demissão os três, sendo unicamente da responsabilidade do senhor Nuno Soares tudo o que dela depois venha a acontecer ao Vitória”.
O documento refere ainda que o líder da MAG “se rege por influências de outras pessoas que têm todo o interesse em prejudicar o Vitória”, afirmam, reiterando “que não cumpre com os próprios Estatutos como devia ser o seu dever e de todos os que este cargo ocupam. Lamentavelmente, o senhor Nuno Soares a cada dia que passa, diz e faz uma coisa diferente consoante o objectivo que lhe interessa a ele e aos seus amigos próximos fazendo do Vitória FC, um clube que nem os seus próprios Estatutos respeita”.
Presidente da MAG responde a parecer do líder do CFD
A reação de Nuno Soares foi dada na resposta que este deu ao presidente do Conselho Fiscal e Disciplinar (CFD), Miguel Ângelo Aroeira da Silva, que emitiu, refere o líder da AG, um parecer em seu nome próprio sobre a reunião magna de sexta-feira. “O auto-intitulado ‘Parecer’, pelo que, o mesmo consubstancia uma inadmissível ingerência nas competências de outro órgão e, por conseguinte, uma manifesta violação dos Estatutos que ambos nos encontramos obrigados a cumprir e a fazer cumprir. Face ao supra exposto, o alegado ‘Parecer’ carece de qualquer enquadramento estatutário, pelo que, atentos os motivos acima referidos e salvo o devido respeito, o mesmo consubstancia uma grave e manifesta violação dos Estatutos e, por consequência, passível de acção disciplinar”.
E acrescenta: “Vossa excelência deveria estar preocupado com o correspondente processo disciplinar do sócio presidente da direcção, o qual foi já instaurado e respectiva tramitação é da sua responsabilidade; a direcção tem sido profícua na comunicação dos seus argumentos relativamente à AG em causa e acusações quanto a actuais e anteriores dirigentes, pelo que, poderá a continuar a fazer tal contraditório, como faz abundantemente nas redes sociais e órgãos da comunicação social. Por último, muito estranho que elenque os trabalhos em curso por parte da actual direcção, referindo-se aos mesmos como se V/Exa. estivesse (também) a desenvolvê-los, aconselhando-se novamente V/Exa. a cuidada leitura e análise dos Estatutos, em especial, das competências (e incompetências) do Órgão que V/Exa. preside”.
‘Vice’ da AG nega demissão
Filipe Beja, vice-presidente da MAG, esclareceu em comunicado a sua posição sobre a polémica em torno da AG. “Fui eleito através da lista B, de Paulo Rodrigues, por acreditar no projecto que existia na campanha eleitoral; a partir do momento da eleição, a obrigação de lealdade a ter é com o Vitória FC, e com aquele que é o seu maior património, os sócios; houve várias etapas durante este processo de AG extraordinária, por pareceres de diferentes pessoas e com diferentes interpretações, que levaram a diferentes medidas, até que o PMAG decidiu a realização de uma AG extraordinária com os moldes possíveis através do parecer da DGS”.
O dirigente admite que chegou a equacionar demitir-se do cargo, mas não o fez. “Existiu vontade e até cheguei a fazer o documento de demissão do meu cargo de vice-presidente da MAG, após comentários e publicações sobre mim e sobre funções profissionais que exerci, e que nada tem a ver com o amor que sempre tive desde que lembro como pessoa ao enorme Vitória FC. Nego assim a informação que consta no comunicado da direcção, que existem três demissões, uma vez que nunca entreguei a demissão a quem de direito, pelo que a mesma não está validada, e tão pouco deveria ser a direcção num comunicado a informar tal situação. Nunca emiti qualquer comentário público, após a eleição, sobre a gestão do clube no passado ou no presente, e não cabe a nenhum elemento da MAG a decisão de avaliar e decidir o futuro do clube, mas a todos os associados”, escreveu Filipe Beja.
Dívida da SAD nos 35 milhões de euros
A dívida da SAD do Vitória ronda actualmente os 35 milhões de euros, revelou o clube em comunicado publicado na sua página oficial. “A direcção liderada por Paulo Rodrigues, presidente eleito a 18 de Outubro, denuncia vários contratos que, no seu entendimento, têm prejudicado gravemente o Vitória de forma sistemática. “Recebemos um relatório no dia 18 outubro 2020 com os valores em dívida do PER (Processo Especial de Revitalização) que mencionava o valor em 20,7 milhões de euros, hoje temos mais informações e a dívida da Vitória FC – SAD anda aproximadamente no valor de 35 milhões”.
Críticas à Câmara Municipal
O comunicado assinado pela direção lamenta o facto de a Câmara Municipal de Setúbal, presidida por Maria das Dores Meira, continuar sem reunir com a direcção que foi democraticamente eleita pelos sócios do clube. “A senhora presidente sempre disse que tem a intenção de ajudar o Vitória FC, mas infelizmente até hoje não agendou nenhuma reunião de trabalho, não querendo saber nem nos permitindo apresentar as soluções que a direção tem para salvar e reerguer o Vitória. Não tendo havido até agora a necessária disponibilidade e vontade, ficamos todos os vitorianos expectantes sobre qual é a ajuda que a CMS quer efetivar. Hoje (ontem), 30.11.2020, enviámos uma carta à senhora presidente da Câmara, dando-lhe conta de uma série de ocorrências levadas a cabo no Vitória FC, identificadas pela direcção, que lesam o Vitória em mais de 8.5 milhões de euros referentes à VFC- SAD”.