Indicações da linha SNS 24 são contrárias a normas publicadas. Até ao momento a DGS não comentou a falta de alternativas de transporte
No Barreiro e Moita há pessoas com suspeita de contágio por Covid-19 a serem encaminhadas para realização de testes no Centro ADC – Comunidade de Coina, através de transportes públicos. A solução é apresentada após contacto com a linha SNS 24, para triagem e prescrição de teste à Covid-19.
Foi deste modo que os casos de Maria Duarte e Maria Alexandre foram processados. No primeiro caso devido a sintomas compatíveis com Covid-19 e no segundo, não só devido a sintomas compatíveis, mas também ao facto de um familiar com o qual coabita estar infectado.
As utentes contactaram a linha SNS 24, de acordo com as indicações da Direcção-Geral da Saúde (DGS), que as encaminhou para o ADC Coina. Ao questionarem o serviço sobre o facto de não terem transporte próprio e não quererem colocar familiares, amigos ou um motorista de táxi em risco “foi indicado que, nesse caso, os bombeiros devem ser contactados. Não restando alternativa devem ser utilizados transportes públicos, porque a resposta do SNS termina após a indicação de encaminhamento para o ADC Coina e prescrição do teste”, explica Maria Alexandre destacando que “já tinha indicação para permanecer em “isolamento profilático”.
“Se quisesse outro tipo de apoio também poderia pagar uma taxa para que um laboratório realizasse o teste ao domicílio, mas teria de aguardar mais tempo e não podia esperar mais. Já estava a aguardar para fazer teste há mais de dois dias”.
Recorde-se que o ADC Coina é um dos edifícios reservados para utentes encaminhados pelo Serviço Nacional de Saúde (SNS), de modo a evitar o recurso a centros de saúde e hospitais, quando ainda estão em avaliação e sem sintomas graves.
Bombeiros sem acordo com SNS
Após contactar a Corporação de Bombeiros Voluntários Sul e Sueste para saber se teriam resposta, Maria Alexandre tomou conhecimento que “devido à falta de meios não estão a efectuar o transporte de casos suspeitos de Covid-19 para a realização de testes, sem que os mesmos venham encaminhados de um hospital”.
Eduardo Correia, presidente da direcção dos Bombeiros Voluntários Sul e Sueste, confirma a situação.
Em declarações a O SETUBALENSE o responsável afirma que “o Corpo de Bombeiros do Sul e Sueste não tem efectuado transporte de doentes suspeitos Covid-19 para a realização de testes no ADC Coina”. Por um lado, “porque os meios materiais e humanos são finitos”. E por outro, porque “não foi possível estabelecer acordos com a Segurança Social e o Serviço Nacional de Saúde”.
O responsável esclarece que “a actividade de transporte de doentes decorre fundamentalmente a pedido de várias entidades do SNS”, entre as quais consta a “ARSLVT [Administração Regional de Saúde e Vale do Tejo], CHBM [Centro Hospitalar Barreiro Montijo], HGO [Hospital Garcia de Orta], CHULN [Centro Hospitalar Lisboa Norte] e IPO [Instituto Português de Oncologia]”.
Na maior parte destes casos, “a prestação do serviço de transporte de doentes suporta-se em contratação pública”. Mas, no que diz respeito aos utentes suspeitos de infecção por Sars-CoV2 e aos doentes Covid-19, Eduardo Correia, lamenta que as diversas entidades do SNS apesar de terem sido “confrontadas logo em Março de 2020 com o mais do que expectável acréscimo de custos que a utilização dos Equipamentos de Protecção Individual (EPI) iria acarretar, tenham declinado responsabilidades”. E ónus tem sido remetido para “as entidades transportadoras”.
O presidente da direcção da AHBV do Sul e Sueste aponta que “não é possível continuar a garantir a missão dos corpos de bombeiros sem que os custos operacionais sejam cobertos, sob pena de implosão e fecho de portas”. E recorda que apesar das dificuldades, desde Março até ao presente, os Bombeiros Sul e Sueste ainda asseguraram “o transporte de perto de 600 doentes suspeitos ou confirmados Covid-19”.
O jornal O SETUBALENSE questionou a Direcção-Geral da Saúde (DGS) e a ministra da Saúde, Marta Temido, sobre os potenciais riscos que a deslocação de utentes em transporte público acarreta e os problemas que as corporações de bombeiros estão a enfrentar. Mas, até ao fecho desta edição o ministério da Saúde e a DGS não esclareceram se estão a ser equacionadas soluções a curto prazo.
“Não queremos colocar os outros em risco”
Para a utente Maria Alexandre a falta de resposta da linha SNS 24 é uma situação “em tudo contrária ao que a DGS anuncia nos meios de comunicação” e comenta: “não queremos colocar os outros em risco, quando usamos os transportes públicos, mas as opções disponíveis não chegam em tempo útil”.
Aliás, no seu site oficial a DGS indica que “a realização dos testes laboratoriais deverá ser realizada no prazo máximo de 48 horas, após contacto pelo doente ou seu representante” e ter sido recebida a requisição do teste. Mas, após ter recebido a requisição no dia 7 de Novembro”, Maria Alexandre apenas conseguiu marcar o teste para “18 de Novembro, num dos laboratórios que mantêm acordo com o SNS”. Por isso, optou por contactar novamente o SNS 24 e recebeu a indicação para deslocar-se, em transporte público, ao ADC Coina “apesar de já ter indicação para isolamento profilático”.
Neste aspecto, a informação disponível no site da DGS também é contrária às sugestões dadas pelo SNS 24 à utente, uma vez que “as pessoas em isolamento não devem fazer deslocações para o trabalho, escola, espaços públicos ou outros locais”.