Na escola: ciclo sobre guerras portuguesas

Na escola: ciclo sobre guerras portuguesas

Na escola: ciclo sobre guerras portuguesas

29 Março 2017, Quarta-feira
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Decorreu na Biblioteca da Escola Fragata do Tejo (Moita), em Março, um «Ciclo de Conversas sobre Guerras Portuguesas» alargado aos familiares dos nossos alunos e público em geral. A organização esteve a cargo do docente da disciplina de História/9º Ano e do ex-combatente António Fidalgo, com o apoio do docente de Ed. Visual, Rui Torres. O objectivo da actividade foi a abordagem de conteúdos programáticos de História, trazendo à escola testemunhos directos de quem esteve envolvido na «Guerra Colonial».


Foram os próprios alunos os mensageiros do pretendido junto dos seus Pais/EE, fazendo o levantamento de ex-combatentes seus familiares e conhecidos, chegando a nós cerca de cinquenta respostas (em mais de cem pedidos), das quais sete foram afirmativas no sentido de se disponibilizarem a falar sobre o tema. Com regularidade nos chegaram, através dos alunos ou de um bilhete manuscrito, comunicações de alguém que «não queria recordar o assunto», «não se lembrava», «não sabia falar» ou não se sentia à vontade para enfrentar a nossa plateia.
O evento contou com a participação/testemunho dos ex-combatentes Adelino Bento, António Fidalgo, António Caldeira, João Vasconcelos, Porfírio Miranda, de um exilado em Paris, Francisco e de um ex-combatente mutilado, António os quais com conhecimento de causa e muita pedagogia animaram dez sessões, onde passaram mais de duzentos alunos. Enquanto o evento decorreu esteve patente, no mesmo espaço da biblioteca, uma admirável maqueta de um aquartelamento, «chigunga», em Moçambique, construída por António Fidalgo, em torno da qual alunos e convidados experienciaram uma pedagogia autónoma e reciproca.
Nas diferentes sessões os nossos convidados, na presença de alunos, professores e alguns visitantes, refizeram o seu percurso millitar, recordaram missões, espaços geográficos e por vezes lhes aflorou a emoção quando tropeçavam na «aldeia atacada e toda destruída», na tortura até à morte ou no paradoxo da guerra: atacar e destruir uma aldeia, matar e adoptar, com pena, a criança sobrevivente. As operações militares e o dia-a-dia das tropas portuguesas em Angola, Moçambique e Guiné-Bissau foram testemunhados directamente e as diferentes assistências tiveram oportunidade de ouvir na primeira pessoa e esclarecer-se sobre a vida num aquartelamento, a duração e intensidade de missões a pé ou de helicóptero, como eram atacados os aquartelamentos portugueses ou as posições dos guerrilheiros, que tipo de armamento se usava e como actuava a guerrilha, para que servia um aerograma, o episódio do «padre que se juntou à guerrilha», a opção consciente de quem se exilou em Paris para não colaborar numa «guerra injusta», etc.. Sobre o contexto internacional da nossa guerra ultramarina foram feitas referências a submarinos da URSS e telecomunicações, a armamento dos países de Leste e chinês, ao apoio que era dado aos guerrilheiros nos países limítrofes das colónias portuguesas, à utilização de armamento da NATO pelo exército português, e… à morte de uma guerrilheira vietnamita em Moçambique. Além das impressões dos diferentes relatos, impressionante foi a exposição real que António, vítima de uma mina, fez do seu corpo com estilhaços e uma perna artificial.
O principal registo que fica desta actividade aberta, foi o entusiasmo registado que despoletou interesses de outros colegas e alunos, no sentido de se memorar esse período da nossa História prolongando as visitações à maqueta, para ouvir as explicações de António Fidalgo.
A «Guerra Colonial» eclodiu em 1961 e prolongou-se até ao 25 de Abril de 1974, embora António tenha perdido a perna depois dessa data. Segundo dados do nosso manual, «Viva a História»/9, Porttugal enviou para as três frentes cerca de 800 000 soldados, registaram-se 8289 mortes, mais de 30 mil feridos, cerca de 140 000 com traumas psicológicos para toda a vida, morreram mais de 100 000 civis africanos e ainda hoje são milhares as pessoas que têm de saber lidar com as memórias desse conflito.
Resta-nos agradecer aos nossos convidados, alunos, colegas e restantes participantes.

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