Desde o surgimento da pandemia e com o encerramento das suas instalações, a colectividade mais antiga do Barreiro, tem vindo a enfrentar dias difíceis
A Sociedade Filarmónica Agrícola Lavradiense (SFAL), nascida na véspera de Natal, no distante ano de 1867, em plena Monarquia Constitucional e no reinado de D. Luís, por vontade de D. José Maria de Carcomo Lobo, proprietário da Quinta da Barra-a-Barra, escritor, poeta e empresário lisboeta do Teatro Apollo, é hoje a mais antiga colectividade do concelho do Barreiro e uma das mais importante do distrito de Setúbal. Foi também por iniciativa deste “amante das artes e letras”, que foi criada a Banda Filarmónica Lavradiense.
O fidalgo viria a edificar em 1871 o Coreto do Lavradio, junto à antiga sede, instalada no largo à entrada da vila, e que acabou por ser demolido em 1964, para entrada em funcionamento da Avenida Joaquim José Fernandes.
Há cerca de três anos e na mesma data em que comemorou os seus 150 anos, a organização comunitária viu o seu trabalho ser galardoado com a distinção “Barreiro Reconhecido”, atribuída pelo município barreirense. “É uma honra para a SFAL receber esta distinção, para os seus sócios e familiares, para os seus amigos, para a comunidade lavradiense, para o associativismo, para todos os que ao longo da sua história sentiram nesta colectividade, momentos inesquecíveis que guardam na sua memória e no seu coração”, afirmaram nessa altura os corpos gerentes da instituição, actualmente presidida por Eduardo Oliveira.
Ao longo dos tempos, a instituição tem vindo a receber “elevadas distinções”, de que são exemplos a Medalha de Ouro na Área da Cultura da Câmara do Barreiro e a atribuição da Ordem do Infante, pela Presidência da República, antes do 25 de Abril. Em 1993, outro ponto alto foi a condecoração pelo Presidente da República, Mário Soares, com a Ordem de Santiago.
Com perto de dois mil sócios, a associação continua a dar um lugar de destaque às actividades culturais, desportivas e de lazer, envolvendo boa parte da comunidade local, no entanto, e com a chegada da pandemia, neste momento, encontra-se a atravessar “graves problemas financeiros, com várias dividas contraídas e outras transactas”, devido à interrupção dos serviços desde o passado mês de Março. Os seus dirigentes estão apostados em recuperar alguns dos associados, através da criação de uma Comissão do Associativismo, para que as suas quotas possam reforçar os cofres da colectividade.
“Juntos pela SFAL!” apela à contribuição de todos
Com o encerramento obrigatório, devido à Covid-19, a actividade foi cancelada “pelo que não houve receitas nesse período. Para combater o problema, a sociedade colocou em marcha a campanha “Juntos pela SFAL!”.
Manuel Damásio, um dos membros da direcção, explicou a O SETUBALENSE que “a existência do café-bar, que tem 70 anos, e é a nossa principal fonte de receitas, acabou por tornar a situação provocada pela Covid-19 ainda mais dura em relação a outras instituições, porque temos quatro funcionárias e tivemos que recorrer ao lay-off para assegurar a manutenção dos seus postos de trabalho”.
A campanha é “imprescindível para manter as contas em ordem e permitir que a nossa velhinha SFAL” prossiga o seu trabalho. “Queremos muito voltar ao activo com os nossos atletas, músicos, espectáculos, teatros, animações, danças, avivar a cultura, o desporto e o associativismo da e na nossa Vila”, garante a direcção, que através das redes sociais já apelou a um donativo (NIB: PT50 0035 0389 0000 4182 5305 3) para manter vivo o trabalho da SFAL, que no próximo mês de Dezembro completa o seu 153º aniversário.
Obras melhoraram instalações
O percurso da Sociedade ficou ainda marcado pelo nascimento do TESFAL, que neste momento dispõe das vertentes de teatro revisteiro e teatro clássico e, em 2014, do TISFAL – Teatro Infantil da SFAL, que recomeçou o seu trabalho sob direcção de Lurdes Sales, num projecto que teve por intuito aproximar a colectividade da comunidade e das famílias, “criando públicos para o teatro e lançando sementes para o futuro”, uma das tradições mais importantes daquele espaço do Movimento Associativo
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Para além da participação no Sarau de Ginástica, que anualmente decorre no Pavilhão Municipal Luís de Carvalho, na Cidade Sol, a SFAL conta ainda com a publicação do Jornal Cachaporreiro, que em breve deverá retomar a sua actividade na versão online e, mais recentemente, foi aprovada pela autarquia barreirense a celebração de um contrato de depósito com a União de Freguesias do Barreiro e Lavradio, para a salvaguarda das antigas partituras, entre outros documentos importantes, para o estudo da História do concelho do Barreiro. A própria junta decidiu apoiar a Sociedade com 450 euros, para além do apoio de cinco mil euros já atribuído pelo município barreirense, para enfrentar as dificuldades causadas pela pandemia. Também a biblioteca, que armazena cerca de cinco mil livros, acolhe agora a sala da Direcção.
Após um período de obras na ala nascente do edifício, em 2009, que tiveram por objectivo “a melhoria das instalações, nomeadamente, a recuperação do terraço para eliminar infiltrações, pinturas e colocação de tectos falsos”, assim como melhorias na iluminação, foi reaberta a Sala de Convívio Augusto Martins (prestes a receber os associados).
“Pensamos que no próximo mês de Setembro, podemos voltar a trabalhar em pleno e desenvolver todas as nossas actividades”, conclui Manuel Damásio.
B.I.
Nome: Sociedade Filarmónica Agrícola Lavradiense
Também conhecida por: SFAL
Data de fundação: 24 de Dezembro de 1867 – 152 anos
Localidade: Lavradio
Principais actividades: Banda filarmónica, teatro, ginástica e dança
Actual presidente: Eduardo Oliveira