O proprietário da funerária C. Lázaro defende um contentor frigorífico no hospital para os corpos contaminados
O acondicionamento e manuseamento dos corpos de pessoas que morreram com Covid-19, colocados nas morgues dos hospitais está regulamentado pela Direcção-Geral da Saúde (DGS). No caso do Hospital de S. Bernardo, em Setúbal, da parte da agência funerária C. Lázaro existem algumas dúvidas se a norma está a ser bem respeitada. Mas a administração do hospital garante que cumpre.
Explica César Lázaro, proprietário desta funerária, que “na casa mortuária os cadáveres contaminados, ou suspeitos, com Covid-19, estão misturados com os outros corpos”, por isso, “não consigo garantir às famílias se os seus entes queridos, que não tenham falecido com esta infecção, estão ou não contaminados”.
No entanto, a norma da DGS refere que “até à data, não há evidência de contágio e infecção pela exposição aos corpos de pessoas que morreram com SARS-CoV-2/COVID-19. De facto, a probabilidade de emissão de gotículas ou produção de aerossóis é inexistente no cadáver”, apesar de tudo, recomenda a quem os manusear que “use Equipamento de Protecção Individual”.
Ora César Lázaro afirma a O SETUBALENSE não ter esta certeza e prefere não arriscar, por isso defende que o Hospital de Setúbal deveria estar equipado com um “contentor frigorífico para colocar os corpos infectados com Covid-19”, mais ainda, quando “a morgue do hospital é relativamente pequena”. Aliás, segundo afirma, nos hospitais de Almada e Barreiro “já foram tomadas medidas”.
Sobre o contentor frigorífico, afirma que já o referiu em reunião com a administração do hospital. “Aceitam, mas ainda nada fizeram”, lamenta. Sobre isto, a administração do hospital esclarece, em resposta O SETUBALENSE, que este “poderia vir a ser instalado para acomodar corpos, caso a capacidade instalada fosse ultrapassada. Felizmente o número de óbitos não atingiu, de forma continuada esse cenário”.
Para além desta questão, César Lázaro interroga-se ainda sobre a decisão da administração do Centro Hospitalar de Setúbal, tomada no início deste mês, de que “os corpos têm de sair despidos”. É que apesar de colocados em sacos, sendo estes duplos para os infectados com Covid-19, ao estarem na mesma morgue “pode ter existido contaminação”, daí os funcionários da C. Lázaro insistirem em “vestir os corpos ainda na morgue do hospital”.
Sobre o procedimento desta funerária, a administração do hospital confirma. “No caso dos óbitos não confirmados e não suspeitos, a maioria dos agentes funerários recolhe os corpos e leva-os para as suas instalações, onde realiza os cuidados ao corpo. Relativamente à agência C. Lázaro, a mesma por diversas vezes já vestiu corpos nas instalações da morgue do Hospital de São Bernardo”.
O que a administra do hospital não aceita são as dúvidas de César Lázaro sobre se a lei está a ser cumprida nesta unidade. “O Centro Hospitalar de Setúbal cumpre todas as normas emanadas pela DGS”, garante. A isto acrescenta que “no que diz respeito à Norma 02/2020 – COVID 19: Procedimentos Pós Mortem de 16 de Março de 2020 e actualizada a 03 de Julho de 2020, não nos podemos esquecer que vivemos um regime de excepção em situação de pandemia com procedimentos diferentes dos habituais”.
Perante esta directriz, “a gestão da morgue tem sido efectuada de forma a garantir todos os procedimentos de segurança, com circuitos definidos para corpos confirmados ou com suspeita de infecção por agente biológico do grupo III”.