Montijense destaca-se na área da Medicina Dentária do Sono. Este ano já havia sido eleita para a academia europeia da especialidade
Foi contactada pela presidente da American Academy of Dental Sleep Medicine (AADSM), Nancy Addy, a 17 de Abril. Susana Falardo Ramos, directora da Clínica N. Sra. Da Atalaia, no Montijo, acabava de ser nomeada para o comité científico daquela instituição norte-americana.
A tomada de posse, face à pandemia, teve lugar a 29 de Maio, por plataforma digital. O mandato foi iniciado três dias depois e passou a ser a primeira médica dentista portuguesa a integrar, em simultâneo, os órgãos das academias europeia e americana da Medicina Dentária do Sono.
Que leitura lhe merece esta recente nomeação para a academia americana, depois de ter integrado a 18 de Janeiro o conselho científico da academia europeia (EADSM) da especialidade?
Desde que conclui a minha licenciatura em 1996, a formação contínua pós-graduada fez sempre parte do meu percurso académico e clinico. Ao longo dos anos, fui traçando objectivos, escolhendo novos caminhos e alcançando novas metas. A eleição para a EADSM e agora a nomeação da AADSM representam o reconhecimento de todo o meu percurso académico, dos sacrifícios económicos, pessoais e profissionais que tive de tomar.
Por outro lado, ao ser a primeira médica dentista portuguesa a integrar simultaneamente o Comité Científico destas duas academias coloca sobre os meus ombros uma responsabilidade acrescida, mas que não me intimida. Estou muito feliz e grata por este reconhecimento.
Concretamente, que funções vai desempenhar?
Ao contrário da EADSM, onde ocupo o cargo de “Principal Secretary”, na AADSM não existe atribuição de cargos, mas sim um programa que teremos de cumprir durante um ano de mandato. Os 14 membros internacionais, que constituem o comité, terão de decidir e promover: programas de investigação na área da Medicina Dentária do Sono (quer na formação de clínicos, quer na educação e promoção ao nível da Saúde Pública); recomendar à AADSM candidatos para o Prémio Anual de Investigação e o Prémio Pierre Robin, atribuídos no congresso anual. E seleccionar palestrante e temas a abordar para o Comité Organizador desse congresso da AADSM, além de recomendar tópicos para o NIH Practice-Based Research Network (o NIH é o Instituto Americano de Saúde Pública).
Esta área clínica trata os distúrbios respiratórios do sono. Quais os sintomas e as consequências?
A medicina dentária do sono trata não só os distúrbios respiratórios do sono. Os sintomas mais conhecidos são o Síndrome de Apneia e Hipopneia Obstrutiva do Sono. Mas também trata os distúrbios de movimento, como o “Bruxismo do Sono”. Estas patologias afectam tanto adultos como crianças.
Nos adultos os sinais e sintomas são sono não reparador, cansaço ao despertar, alterações cognitivas e comportamentais (perda de memória, falta de concentração e irritabilidade), sonolência excessiva diurna e alterações metabólicas.
O “Bruxismo do Sono” pode surgir de forma isolada ou como mecanismo protector das apneias. Os sinais são desgastes de esmalte dentário, sensibilidade dentária, tensão muscular ao nível da face e pescoço, dores ao nível da articulação temporo-mandibular, podendo causar enxaquecas.
E nas crianças?
As manifestações são distintas das dos adultos, levando muitas vezes a um falso diagnóstico de Hiperactividade e Défice de Atenção. Os mais frequentes são ressonar, transpiração excessiva nocturna, dormir com a boca a aberta, dificuldade ao acordar, irritabilidade, enurese (fazer “xixi na cama”). Apresentam dificuldades comportamentais e de rendimento escolar, mastigam com a boca aberta e muito rápido ou muito lento.
O “Bruxismo do Sono” nas crianças também é muito comum e, além de se relacionar com as apneias, pode estar relacionado com a troca da dentição, comportamentos psico-sociais abusivos, como o “bullying”.
Como está implantada a medicina dentária do sono no nosso distrito?
Em Portugal, começa agora a dar os primeiros passos. Deveremos ser não mais de 10, os médicos dentistas dedicados a esta área. Com o título de “ Qualified Dentist”, pela academia europeia, somos neste momento quatro. Pela academia americana, sou a primeira. Julgo que, no Distrito de Setúbal, a Clinica Médico Dentária N. Sra. da Atalaia, onde colaboro com uma equipa médica e terapêutica multidisciplinar especializada na área, é a primeira a incorporar esta competência.