Jovem do Pinhal Novo continua aventura pelo mundo. O criquet, o designer de moda italiano, o Hinduísmo e a rapariga “sem nome”
Vem na nossa direcção uma rapariga que ao cruzar-se connosco responde a Shaggy, no mesmo sorriso, a mesma palavra: “Hi!”
Conheci este rapaz turco de 26 anos em Shiraz, ainda no Irão, faz um mês ou coisa que o valha e viajámos juntos uns dois ou três dias. Não diz “Olá”, “Por favor”, “Com licença”, nem “Obrigado”. O abordado a primeira palavra que lhe ouve é exactamente, e sem rodeios, o assunto a ser tratado. A segunda tem vezes em que não existe. Dá para ficar embaraçado depois de ele abruptamente virar costas às pessoas sem agradecimento ou esboço de apreciação, ainda assim é do mais prático que há, comigo a ficar para trás de mão no peito e acenando com a cabeça “dhanyavaad”.
Reencontrámo-nos em Bombaim, na Índia e, por aquela hora, passávamos perto de Churchgate, por um enorme descampado destinado ao desporto-rei [naquele país] – o cricket. Muitas partidas aconteciam em simultâneo debaixo de um sol de 20 e muitos graus, já cadente. Aproximava-se a hora de ponta e Shaggy procurava pelo melhor sítio para tocar a sua harmónica e ukelele a fim de fazer uns trocos, quando se cumprimentam sem interromperem os respectivos e opostos caminhos.
Desperdiçar ocasiões destas tendo em conta a frequência com que acontecem pareceu-me imperdoável. Chamo-a e pergunto-lhe o seu destino, estava à deriva com uma máquina fotográfica ao pescoço e aceitou o nosso rumo entusiástica por ter encontrado viajantes, em vez de turistas.
Nessa noite, ainda dormimos em casa do Manuj, um designer de moda indiano fascinado com os novos manequins que hospedava. Na tarde seguinte levou-nos ao cinema para uma película de Bollywood, que era o hit pela ocasião do festival Holi (o maior festival da Índia é conhecido pelas tintas orgânicas em pó com que as pessoas se pintam umas às outras enquanto dançam pelas ruas; estão a ver uma color run? – não tem nada a ver).
Mas acabámos por trocar a amabilidade do designer pela candura da rapariga de que nunca chegámos a saber o nome. Baptizámo-nos de A, B, C, sendo ela a B. Passeámos a cidade noite e dia juntos, conhecemos-lhe os amigos, comemos de mão direita a sua comida, dormimos no seu apartamento e… “Mazaguia”. É a palavra que aqui usam para “boas memórias” e que talvez fique aquém neste contexto.
Estou a estudar as histórias implícitas ao Hinduísmo, têm personagens lindíssimas com corpos humanos azuis e com vários braços. Homens com asas e bico de pássaro em vez de boca, mulheres com metade da cara de um elefante. Isto tem tudo uma boa explicação, segundo as escrituras deles e quando estiver preparado vou tentar a minha versão. Pedro Pinela