O meu amigo e grande Setubalense António dos Santos, ex-aluno e impulsionador do museu dos ex-alunos do Orfanato Municipal de Setúbal, teve a gentileza e a amizade de me oferecer o seu recente livro. Uma obra, intitulada “Cadernos de Leitura Feira de Sant’Iago, suas histórias e visita dos Duques de Bragança a Setúbal”, que fez com que eu me recordasse de alguns episódios da Feira de Sant’Iago.
Recordo com muitas saudades as feiras de Sant’Iago e ainda me lembro de alguns locais em que elas se realizaram. Reza a história que houve abertura da feira da praia em 25/07/1886 e em 1873 no largo de Jesus (antigamente praça Miguel Bombarda). Estou recordado na minha infância, da feira se realizar na Avenida Luísa Todi, Praça da República, no parque do Bonfim e ultimamente no parque das escolas (hoje Auditório Zeca Afonso). A mais recente mudança para as Manteigadas não foi do meu agrado, e o antigo local onde se realizava (Auditório Zeca Afonso) deveria ser aproveitado para um parque com vida, isto é: relvado, parque infantil, cafés, esplanadas, um mini anfiteatro, etc.
Algo semelhante ao que foi feito com o antigo parque de campismo, que foi transformado num belíssimo e atraente parque urbano da Albarquel deveria ser realizado no local onde está presente o Auditório Zeca Afonso. O que foi feito no Auditório Zeca Afonso não é nada, gastou-se tanto dinheiro mal projetado, que daria para fazer algo diferente, que seria um belo cartaz turístico e ficaria bem enquadrado com a Avenida Luísa Todi.
Em 1967, na Feira de Sant’Iago, realizou-se um espetáculo de exposição de faisões, com grande êxito. Numa das feiras na Praça da República, havia um lago artificial para barcos, que foi uma grande atração e inédito nessa feira. Lago esse que foi colocado no final da Praça da República, próximo do Quartel do Onze. Na Praça da República, ainda me lembro das festas da Nossa Senhora do Cais, com cavalhadas e outros divertimentos. Na primeira feira, em 26/07/1886, realizou-se uma tourada na Praça de São João (sítio do antigo convento de São João), o bilhete custava 20 reis. As feiras primavam por ter belíssimas entradas e todos os anos eram diferentes. Os programas desde 1950 eram executados pelo técnico de tipografia, já falecido Fernando Basso. O saudoso Américo Ribeiro era quem fotografava as feiras. E os tradicionais vendedores ambulantes, à entrada da feira, com as canastras das camarinhas de Tróia, a medida era um copo de vidro, a água fresquinha também em copo de vidro, em bilhas de barro e os célebres tremoços saloios.
Lembro-me de um episódio inédito: antigamente o pessoal de Alcácer do Sal vinha de barco, num galeão, no primeiro domingo da feira. Passavam a manhã na Tróia e à tarde vinham para a feira em Setúbal. Sucede que uma vez uma senhora trazia uma grande melancia para o almoço, mas quando chegou à Tróia e a subir as escadas da ponte, no último degrau, deixou-a cair. A senhora ficou muito triste, desolada, e o desabafo dela foi: “Levantei-me muito cedo para apanhá-la, e o trabalho que me deu até chegar ao barco, e no final em Tróia ficámos sem sobremesa.” Foi triste esta peripécia, mas foi real. E quem ainda não se lembra desse tempo da célebre e grande barraca das farturas do Barafusta, do cinema do Casino. Eram servidas acompanhadas com jarros de barro, com um belíssimo vinho branco seco e sempre com um conjunto musical a tocar. Era tradicional os feirantes da loiça de barro ficarem mais uns dias para além do prazo da feira.
José Mourinho
No dia 03/10/2017 foi inaugurada oficialmente a rua com o nome do Setubalense e treinador de futebol, com a sua presença e da CMS. Estas e outras homenagens devem e deveriam ser em vida e não depois, como foi feito muito bem a José Mourinho. Espero que esta homenagem seja uma boa iniciativa para futuras homenagens.