Na sequência da passagem dos 75 anos do fim da 2ª Guerra Mundial, vamos falar de uma personalidade notável, pouco conhecida do público: Alan Turing.
Alan Turing foi o matemático inglês que conseguiu descodificar as comunicações alemãs durante a Segunda Guerra Mundial.
No período que antecedeu esse conflito bélico, os alemães criaram e desenvolveram uma máquina criptográfica, a fim de codificarem as suas mensagens, para manterem as respectivas comunicações secretas. Esta máquina foi apelidada de “Enigma”, devido à extrema dificuldade em decifrar os seus códigos e à sua elevada complexidade matemática.
Para alcançar este feito, Alan Turing concebeu teoricamente a “máquina de Turing”, que lhe permitiu desenvolver, secretamente, uma máquina computacional que decifrava a “Enigma”, após os aliados terem conseguido capturar um desses equipamentos.
Durante os seus estudos, criou um novo conceito, que hoje está no topo da Ciência e da Tecnologia: a Inteligência Artificial.
Tratou-se do primeiro computador completo de cripto-análise eléctrico, que foi desenvolvido em Bletchley Park, escola operacional de códigos, cifras e decifragem, durante a Segunda Guerra Mundial, onde trabalhou Turing.
Em virtude de ter conseguido decifrar os códigos das mensagens dos alemães, Turing salvou milhares de pessoas. Os comboios navais aliados que navegavam pelo Atlântico Norte, eram avisados antecipadamente da posição dos submarinos alemães, permitindo também a sua intersecção pela Marinha e Força Aérea britânicas.
Desenvolveu também trabalhos na área da Matemática, Lógica, Computação, Biologia e Filosofia, tendo sido o primeiro a abordar de forma estruturada a inteligência artificial.
Após a 2ª Guerra Mundial, Alan Turing esteve envolvido num projecto patrocinado pelo governo inglês, para a construção de um computador. Trabalhou no National Physical laboratory (NPL).
Em 1954, os tribunais ingleses aplicaram-lhe uma sentença vergonhosa: a castração química, em virtude de ter assumido publicamente a sua homossexualidade.
Muito provavelmente devido à pressão social que sofria, bem como todas as complicações pessoais inerentes, Alan Turing acabaria por se suicidar, com apenas 41 anos.
Em 2009, o primeiro-ministro britânico, Gordon Brown, pediu publicamente desculpas, em nome do Estado, pelo tratamento desumano a que foi sujeito.
Em 2013, Alan Turing viu concedido pela rainha Isabel II um perdão oficial em nome do Reino, embora me pareça que não haja nada para perdoar. Um pedido de desculpas formais, também em nome da Coroa Britânica, teria sido mais oportuno, em minha opinião.
Os trabalhos por si desenvolvidos permitem-me, por exemplo, estar neste momento a escrever este texto em formato digital, num computador pessoal.
A sua máquina constitui provavelmente o maior legado para a ciência da computação.
A história de Turing foi celebrizada através do filme intitulado “O Jogo da Imitação” (ou “Imitation Game”, em inglês), realizado por Morten Tyldum em 2014, com Benedict Cumberbatch no papel do cientista.
Por decisão do governo britânico, Alan Turing vai ser o rosto da próxima nota britânica de 50 libras, apresentada recentemente pelo Banco de Inglaterra.
A nova nota de 50 libras deverá entrar em circulação em 2021.
Fica aqui uma evocação de um génio que salvou inúmeras vidas.