Do porão à 1ª classe, no barco da Covid-19

Do porão à 1ª classe, no barco da Covid-19

Do porão à 1ª classe, no barco da Covid-19

22 Maio 2020, Sexta-feira
Cristina Rodrigues - Deputada não inscrita

Muito se tem dito sobre “estarmos todos no mesmo barco”, perante a Covid-19.
De acordo, no mesmo barco mas em classes muito diferentes… Enquanto alguns vão no porão, outros viajam com certeza em primeira classe.

Segundo a Rede Europeia Anti Pobreza, existem no nosso país mais de 2 milhões de pessoas em risco de pobreza ou exclusão social e cerca de 1,7 milhões encontram-se em risco de pobreza monetária. “A Península de Setúbal é a quarta região mais pobre do país”, alertava, em 2018, a Plataforma para o Desenvolvimento da Península de Setúbal. Bem sei que estes números nos parecem uma mera abstracção, mas traduzem casos bem reais e alguns deles mesmo à nossa porta!

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Muito recentemente, foi divulgado pelo Presidente da Cáritas Diocesana de Setúbal um aumento das pessoas em situação de sem-abrigo na cidade, na ordem dos 150%, havendo mesmo casos de pessoas que se deslocaram de outros concelhos do distrito na tentativa de receberem algum apoio. A Cáritas de Setúbal tem ainda garantido alimentação a muitos cidadãos que têm um tecto mas cujas dificuldades económicas, agudizadas pela pandemia, não lhes permite fazer face às despesas mais básicas. Estas instituições de solidariedade estão a sofrer uma grande pressão adicional para encontrar respostas capazes para quem delas necessita.

Mas este não é o único exemplo de como Setúbal se encontra delapidada. No final de Fevereiro, dezenas de pessoas viram parte das suas casa demolidas, na Quinta da Parvoíce. Embora estas construções estivessem em situação irregular e num local sujeito a aluimento de terras, os seus moradores receberam o aviso de demolição com parcos dias de antecedência. E se um dos principais motivos para estas obras seria, segundo o próprio documento, “condições de segurança”, não deixa de ser curioso o facto de todo o material demolido continuar onde tombou pela acção das máquinas, pondo em causa a circulação de quem ainda lá vive. E estas são pessoas que trabalham, com projectos de vida mas a quem simplesmente lhes falta os meios financeiros para viver noutro lugar. Há agora famílias cujas condições são ainda mais lamentáveis: algumas sem o anexo ainda que lhes serviria de casa de banho, outras sem o que lhes serviria de cozinha e outras que têm como vizinhos mais próximos os escombros de demolições que decorreram há quase 3 meses!

Mais perto da capital, em Almada, há quem viva também em situação digna de nota para que não caia no esquecimento. Os bairros Torrão, Cova do Vapor e Terras da Costa são zonas severamente carenciadas onde há centenas de pessoas com grave escassez material a todos os níveis, havendo mesmo habitações sem electricidade. O mais chocante, parece-me, é o caso das Terras da Costa, onde residem cerca de 50 agregados familiares que, sem água canalizada, recorrem a um chafariz para ter acesso a um dos bens mais essenciais…

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E enquanto há uns que lutam pela sua sobrevivência e outros tantos que lutam em prol destas pessoas, continua a haver injecções de erário público em grandes bancos, cujos accionistas e gestores não toleram perder um cêntimo, tudo com a conivência do nosso Governo. Faz-lhes falta descer ao porão do barco!

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