Manuel Fernandes: “A retoma económica não pode pactuar com o trabalho fora do sistema”

Manuel Fernandes: “A retoma económica não pode pactuar com o trabalho fora do sistema”

Manuel Fernandes: “A retoma económica não pode pactuar com o trabalho fora do sistema”

Manuel Fernandes assumiu a presidência distrital da UGT a 15 de Novembro. ©ALEX GASPAR

A UGT Setúbal defende que a gestão laboral tem de pôr um ponto final em vícios que fragilizam a economia e os trabalhadores

Para o presidente da UGT Setúbal as empresas não podem sentir que tudo podem. Receia que algumas de referência do distrito usem ilegalmente a lay-off, e quer regulamentar as empresas que vivem da economia paralela. Diz Manuel Fernandes que a Autoridade para as Condições de Trabalho tem de ser chamada a pôr ordem no mundo do trabalho ressurgente desta crise pandémica.

Que mensagem vai deixar neste 1.º de Maio ao distrito de Setúbal?
Olhando para a realidade no distrito, escolhi três pontos que considero mais importantes. Em primeiro lugar, a necessidade de salvar todos os postos de trabalho possíveis. Tendo em conta que mais de 90% das empresas do distrito são micro e pequenas empresas, é natural que algumas não consigam reerguer-se.

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Um segundo pilar da minha mensagem é sobre o trabalho não declarado e economia paralela, que têm uma enorme dimensão. Só na primeira semana de Abril, cerca de uma centena de pessoas contactaram a UGT Setúbal a expor a sua situação social trágica. São pessoas que estavam em trabalho não declarado e não receberam o mês de Março. Agora em Maio esperamos nova avalanche destas situações. A retoma económica não pode pactuar com o trabalho fora do sistema.

Num terceiro ponto vou assinalar que se o Estado foi lesto a acudir às empresas e ao trabalho declarado, tem de responder também à tragédia do trabalho fora do sistema.

Quais os números da UGT Setúbal relativamente aos trabalhadores despedidos nesta crise, e aqueles que estão em lay-off no distrito?
Não se sabe ao certo. Lamento é existirem empresas no concelho de Setúbal, e espero que não aconteça nas de referência, que não entrando em lay-off estão a preparar-se para aplicar esse regime, isso é ilegal. A UGT Setúbal está a acompanhar a par e passo a situação, e espero que essas empresas não sigam esse caminho; têm de ter responsabilidade social.

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Quanto ao número de desempregados, sabemos que já estamos ao nível dos 10 mil no concelho de Setúbal, mas são números de Março, por isso desactualizados. Em lay-off, ultrapassa os 45 mil trabalhadores. Temo que a taxa de desemprego no distrito ultrapasse a de 2013, quando houve o pico da crise económica, em Março.

Que medidas tem o Governo de tomar para que as pequenas empresas consigam conter despedimentos?
O Governo já tomou medidas importantes. O lay-off é a melhor forma de assegurar postos de trabalho, no contexto em que estamos a viver. Não podemos esquecer que com este regime, 2/3 do salário do trabalhador é pago pelo Estado, isto é uma ajuda grande para os empresários.

Qual a responsabilidade das grandes empresas do distrito para alavancar a economia regional?
O distrito tem as três maiores empresas exportadoras do país: a Autoeuropa, em Palmela, a Navigator, em Setúbal, e a Galp, em Sines. É inaceitável que no distrito, a trabalhadores altamente qualificados, se paguem salários abaixo da média da região norte do distrito de Lisboa, isto é desigualdade social. Tem de existir um salário mínimo de referência regional.

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Que decisões governativas têm de ser aplicadas para a retoma da economia e do emprego?
Reforçar a capacidade fiscalizadora da Autoridade para as Condições de Trabalho tem de ser uma das primeiras medidas. Não pode continuar a existir trabalho não declarado. As empresas não podem sentir-se num contexto em que tudo podem.
Nos incentivos às empresas o Governo já avançou com moratórias e linhas de crédito. Lamentavelmente, a União Europeia obriga os estados a endividarem-se, ora se o Governo não se consegue financiar a fundo perdido, também não o consegue fazer para com os empresários.

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