14 Agosto 2024, Quarta-feira

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O canto do cisne negro

O canto do cisne negro

O canto do cisne negro

24 Março 2020, Terça-feira
Cristina Rodrigues - Deputada não inscrita

Por muito que queiramos, nestes dias torna-se difícil abordar outro tema que não seja a Covid-19 e a forma como tem afetado a vida de cada um e cada uma de nós. Este cisne negro marca de forma inegável o início da década. O conceito de cisne negro aplica-se a eventos imprevistos e raros que transformam a realidade como a conhecemos, devido ao seu impacto socioeconómico.

Sabemos que a nossa economia não se encontrava de óptima saúde – em recuperação ainda dos efeitos da crise financeira de 2008 e da estadia da Troika que se prolongou até 2014 -, embora o Ministro de Estado e das Finanças, Mário Centeno, previsse um excedente no OE e afirmasse mesmo que este sector teria “todos os seus indicadores de sustentabilidade muito fortalecidos face ao que acontecia há cinco anos”.

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Mas vejamos, segundo as previsões actuais, os sectores económicos mais afectados por esta pandemia serão o turismo e o consumo de bens não alimentares, sendo que o primeiro representa no nosso país mais de 8% do PIB, e o segundo 64%!

Ao nível europeu, somos o 5.º país mais dependente do turismo e o 4.º mais dependente do consumo. E, assim sendo, o impacto económico em terras lusas será superior ao dos restantes países europeus, havendo a possibilidade de uma recessão de até menos 2% do PIB em 2020.

Com estes números em mente, mas numa perspectiva mais alargada, convido-vos a reflectir sobre esta situação em que vivemos. Até porque todo este cenário tem necessariamente de nos fazer pensar ou repensar o nosso modo de vida actual. O nosso modelo económico, penso, peca sobretudo pela sua orientação para o lucro, incentivando um consumo desenfreado, sem um olhar consciente para as consequências a longo prazo. Nesta equação, as Pessoas e o próprio Planeta parecem ser de importância menor: as primeiras são quase apenas mão-de-obra e consumidores, e o Planeta um recurso a ser explorado sem limites.

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O estado de emergência climática global é anterior ao estado da emergência nacional e ambos estão relacionadas.

Há muito que urge repensar a forma como estamos na Terra, tanto individual como globalmente. Mas agora, neste que é um momento decisivo, urge fazê-lo sem adiamentos e sem lirismos! Não podemos continuar a ignorar os avisos, pois esta pandemia, temo, será apenas o início de algo maior se protelarmos uma verdadeira e profunda alteração na nossa sociedade.

Esta crise acarreta grandes perdas e temos que estar preparados! Mas há também muito a ganhar. Prova disso são as notícias relacionadas com a diminuição das emissões de CO2, as cadeias de solidariedade nas comunidades que se prestam a ajudar os vizinhos mais necessitados, o aproveitamento das novas tecnologias para manter a proximidade, para trabalhar em casa ou para transmitir aulas e concertos gratuitos online…

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Não esqueçamos, por isso, que um cisne negro implica eventos disruptivos mas as suas consequências podem mudar o mundo de uma forma positiva! O canto deste cisne pode ser a dádiva de um mundo mais verdadeiro, mais Humano, mais conectado. E essa é uma escolha que também se encontra ao nosso alcance!

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