A dança contemporânea, a arte urbana e o teatro de rua unem-se para contar uma história sobre a “reinvenção do amor num mundo onde ele é proibido”, num espectáculo apresentado na sexta-feira pelo Teatro do Mar, em Sines
O espectáculo de rua “Outcast”, criado e produzido pelo Teatro do Mar, companhia profissional de Sines, no distrito de Setúbal, é inspirado num poema escrito por Daniel Filipe, no final dos anos 60, intitulado “A Invenção do Amor”, disse hoje à agência Lusa a directora artística Julieta Aurora Santos, considerando que o texto continua a ser “contemporâneo”.
“É um poema narrativo que claramente criticava o antigo regime, embora lido hoje seja um poema absolutamente contemporâneo”, defendeu, falando da atualidade política internacional, mencionando, a título de exemplo, a eleição do novo presidente dos EUA, Donald Trump, e a situação dos refugiados.
Na nova produção criada por Julieta Aurora Santos, a luta pelo amor e pela liberdade de amar representa também o “inconformismo” com que se podem encarar essas e outras questões na actualidade.
“Perante o momento em que nós estamos, num estado-limite, será o facto de não nos conformarmos o alimento para continuarmos a lutar e a sobreviver, seja qual for a adversidade”, questionou, explicando que foi dessa reflexão que partiu a criação do espectáculo.
“Como é que conseguimos continuar a lutar e a vencer, o que é que encontramos dentro de nós para continuar a ter essa força, essa energia. Se nos conformarmos não lutamos para que as coisas melhorem, mudem, se transformem”, acrescentou.
O poema de Daniel Filipe, recordou, “fala de um mundo onde o amor é proibido e do que um casal faz pelas ruas da cidade manifestando esse direito”.
“O amor aqui é representado como ideia de poesia, de liberdade, de transformação, de afirmação e é de uma grande beleza e de grande pertinência”, disse.
O texto do poema em si não é usado, mas serviu de inspiração, esclareceu, falando do espectáculo que une várias linguagens artísticas – dança contemporânea, arte urbana com pintura em “stencil” e teatro de rua – em que os actores não dizem palavras, expressando-se por gestos e movimentos.
No espectáculo, que tem a duração de 35 minutos, as personagens “são criminosos perseguidos” por “reinventarem o amor num mundo onde este é proibido”, mas, simultaneamente são “uma espécie de ´super heróis` contemporâneos, ao ousarem enfrentar o sistema na defesa dos seus direitos”.
“Outcast” estreia na sexta-feira, às 22:00, no espaço exterior do ex-IOS, em Sines, voltando à cena no dia seguinte, no mesmo local à mesma hora. Em caso de condições atmosféricas adversas, o espectáculo será adiado para nova data a agendar, alertou a organização.
O espectáculo foi criado e é dirigido por Julieta Aurora Santos, contando com interpretação dos bailarinos Francisco Rolo e Diletta Bindi.