Brasileiro naturalizado inglês foi assassinado com quatro facadas nas costas enquanto fugia
Uma festa na noite das bruxas de 2017 na discoteca Best, em Setúbal, terminou com o homicídio de um homem de 27 anos que tentava fugir de uma rixa à porta do estabelecimento. Miguel Cabral, 25 anos, está acusado de homicídio qualificado por ter esfaqueado mortalmente Thiago Nascimento, 27 anos, brasileiro naturalizado inglês, à traição, pelas costas. O arguido ausentou-se do país ainda antes de ser identificado pela PJ e regressou um ano depois, tendo sido detido após reconhecimento na PJ por uma testemunha que não hesitou assim que viu a sua dentição. Tinha uma falha nos dentes.
Ontem, no início do julgamento, o arguido de 25 anos negou ter sido o autor do esfaqueamento e chorou perante o coletivo de juízes, reclamando a sua vida de volta. “Eu não fiz nada, quando fui detido pensei que tudo ia ser esclarecido no espaço de um ou dois meses”, afirmou. Sobre a sua ausência do país dias após o assassinato, o arguido defendeu que nada teve que ver com o ocorrido na noite de 31 de outubro de 2017. “Fui esfaqueado um mês antes no bairro da Bela Vista e já tinha acordado com os meus pais que ia passar uns tempos a Cabo Verde para me afastar da vida que levava”. Miguel referia-se ao consumo intensivo de drogas e álcool. A viagem comprada pelo arguido indicava o seu regresso a 31 de Dezembro, porém Miguel apenas regressou a Portugal a 19 de Setembro de 2018.
Na noite de Halloween, 31 de outubro de 2017, decorria uma festa na discoteca Best com a participação de um rapper do Cacém. A vítima, Thiago Nascimento acompanhou o artista, seu amigo. O jovem de 27 anos não queria ir, mas mudou de ideias. Antes de entrar na discoteca, ligou à namorada, com quem tinha um filho em comum.
De acordo com testemunhos recolhidos pela investigação, o artista evocou o nome do seu bairro no Cacém, o que não foi do agrado de vários jovens moradores do Bairro da Bela Vista, que exigiram que o cantor evocasse sim o bairro setubalense. Foi neste momento que começaram os confrontos, que passaram rapidamente para o exterior, onde arremessavam pedras da calçada à porta da discoteca.
Thiago Nascimento decidiu sair sozinho da discoteca e foi emboscado por alguns jovens que o esmurraram e pontapearam. Conseguiu ainda assim fugir, mas no seu encalce seguiu Miguel Cabral, de faca em punho. De acordo com o MP, o arguido conseguiu apanhar a vítima e desferiu quatro golpes nas costas, de cima para baixo. Os golpes atingiram o pulmão de Thiago que foi ainda assistido por elementos do posto da GNR, mas faleceu já no Hospital de São Bernardo, poucas horas depois. O MP considera que o arguido “não conhecia a vítima e foi movido apenas pela vontade de matar”.
A investigação acredita que o suspeito atirou a faca para debaixo do carro e pôs-se em fuga antes da chegada das autoridades. Saiu do país três dias depois, para a Ilha de Santiago, Cabo Verde, onde permaneceu com a tia. Assim que a PJ conseguiu a identificação do suspeito, foi à sua procura no Bairro da Bela Vista, porém, os inspetores receberam a indicação de que este tinha ido trabalhar para o Algarve. Miguel Cabral regressou a 19 de setembro de 2018 a Portugal. A Direção Central de Imigração e Documentação do SEF comunicou à PJ de Setúbal a sua chegada e foi notificado para comparecer na PJ, onde foi identificado em linha de reconhecimento e detido. Num primeiro momento, a testemunha teve dúvidas, que se desvaneceram assim que referiu que o poderia reconhecer por uma falha nos dentes. Foram depois realizadas análises ao ADN no Laboratório Nacional da Polícia Judiciária que não o excluíram como tendo manuseado a arma do crime. Miguel Cabral foi formalmente acusado de homicídio qualificado e na fase de instrução, negou praticar o crime, considerando que as provas, testemunha e ADN, não eram suficientes para provar que fosse o autor do homicídio. Manteve a mesma tese no início do julgamento.