Petição pública defende a recuperação e musealização do edifício, pelo seu valor arquitectónico e simbólico, e propõe que seja integrado no projecto urbanístico em curso da Baía do Tejo
Um grupo de cidadãos do Barreiro está a mobilizar a população pela defesa e preservação do edifício onde funcionou, desde 1943, o Posto Médico da Companhia União Fabril (CUF), na Rua da União, e que está agora em vias de ser demolido, conforme prevê o projecto urbanístico da Baía do Tejo que deverá avançar este mês de Fevereiro.
A petição defende a manutenção e preservação do edifício do Posto Médico da CUF, construído num cruzamento entre a Rua da União e a Rua da CUF e inaugurado a 18 de Abril de 1943. Segundo os seus defensores, trata-se de um património de “características únicas no país” com elevado valor histórico, arquitectónico e imaterial.
O edifício, que ocupa uma área de 700 metros quadrados, tem uma configuração conventual e dois pisos centralizados por aquilo que foi um jardim. Ali funcionaram um bloco operatório, salas de internamento e até um laboratório, a par de serviços de radiologia, pediatria, fisioterapia e maternidade que chegaram a atender 10 mil pessoas nos primeiros meses de funcionamento.
O engenheiro António Ferreira, um dos defensores da causa, aponta-o como um marco da “visão social de Alfredo da Silva (fundador da Companhia União Fabril), que na altura foi pioneiro em dar condições e cuidados de saúde aos seus trabalhadores”, fundando a Caixa de Previdência do Pessoal da CUF e Empresas Associadas em 1940.
“A qualidade construtiva, materiais e estética e todo o desenvolvimento formal em torno de um claustro” são outros dos argumentos a favor da recuperação do edifício, que hoje se encontra visivelmente degradado. “Poderia não ter chegado a este estado, bastava ter-se feito uma cobertura para evitar a entrada da chuva pelo telhado”, que cedeu visivelmente este Inverno, refere Regina Dinis, arquitecta e uma das impulsionadoras da petição.
Integrar Posto Médico no novo projecto
O imóvel do antigo Posto Médico da CUF, situado na Rua da União, é precisamente um dos “edifícios obsoletos” com demolição anunciada para este mês, no sentido de se fazer o “reperfilamento da Rua da União, desde o Largo Alexandre Herculano até à Rua da CUF”, previsto no projecto urbanístico encomendado pela Baía do Tejo ao gabinete de arquitectura RISCO e que foi apresentado em 2015.
Sobre o que nascerá no exacto local do edifício em questão, a arquitecta Regina Dinis tem dúvidas. “Não conseguimos bem perceber o que está previsto, parece um anfiteatro ou uma pequena praça arborizada”, comentou junto do DIÁRIO DA REGIÃO, analisando algumas das imagens do projecto.
Os impulsionadores da petição pública “Na defesa do Posto Médico da CUF” frisam não estar contra o projecto da Baía do Tejo – que ao longo de dois hectares pretende criar um corredor ecológico urbano a ligar a zona industrial ao centro da cidade do Barreiro – e avançam com sugestões.
A principal é a “manutenção de todo o edificado do lado poente da Rua da CUF de forma a preservar a unidade do tecido urbano industrial daquela rua, reforçando o valor do seu edifício mais emblemático, o Posto Médico da CUF”. E propõem ainda a “musealização do antigo Posto Médico da CUF a par com a Casa Alfredo da Silva”, assim como a “integração do edifício no roteiro para a interpretação do património industrial em todo o antigo complexo industrial”.
No sentido de mobilizar a população na defesa daquele edifício, que integrou as valências sociais daquela cidade industrial do Barreiro, foi criada a petição pública online “Na defesa do Posto Médico da CUF” e um grupo de discussão na rede social Facebook que conta com mais de 700 membros.
Regina Dinis, arquitecta, António Ferreira, engenheiro, Orlando Santos, Rosa Santos e Ricardo Ferreira, historiador, são os impulsionadores da petição e pretendem alertar a opinião pública para a defesa daquele património industrial.
A Companhia União Fabril foi fundada em 1865 pelo empresário Alfredo da Silva. No complexo fabril, dedicado à produção de adubos, óleos, azeites, sabões e rações, produtos químicos, metalúrgicos, metalomecânica, têxtil, tintas e construção naval, chegaram a trabalhar 8 mil pessoas. A empresa foi nacionalizada em 1975, sendo que hoje é a Baía do Tejo que gere toda a área, na qualidade de parque empresarial.
Fotos: Diário da Região/D.R.