Deslocaram-se à sessão de câmara para obter esclarecimentos do autarca, que se reuniu com a administração da Unidade Local de Saúde do Arco Ribeirinho
Preocupados com o futuro, cerca de duas dezenas de profissionais de saúde do Hospital do Montijo pediram apoio e esclarecimentos ao presidente da Câmara, Fernando Caria, na reunião do executivo municipal de quarta-feira passada.
Em causa está o fecho do Serviço de Medicina – que cuida de doentes acamados com alta médica, mas sem condições de poderem ser tratados em domicílio –, onde trabalham aqueles profissionais. A administração da Unidade Local de Saúde do Arco Ribeirinho (ULSAR) vai passar aquela resposta (de retaguarda do Hospital do Barreiro) para as mãos de uma entidade externa, que, pelo menos até à passada sexta-feira, estava previsto ser a União Mutualista Nossa Senhora da Conceição. O acordo entre as duas partes estava praticamente feito – só faltava ser formalizado – e prevê a duplicação do número das camas existentes.
O processo tem vindo a ser tratado sob sigilo e, sem conseguirem obter esclarecimentos internamente, os profissionais do Hospital do Montijo tentaram obter respostas junto do presidente da autarquia, que, na última terça-feira, juntamente com os vereadores Céu Simões e Pedro Vieira, se reuniu nos Paços do Concelho com a administração da ULSAR.
E Fernando Caria reiterou as garantias que lhe foram dadas pelo Conselho de Administração da ULSAR, presidido por Ana Teresa Xavier, e divulgadas pelo município em comunicado, ao mesmo tempo que assegurou que o executivo camarário estará atento e determinado na defesa do hospital e dos profissionais que ali trabalham.
No comunicado da autarquia, é confirmado que a ULSAR vai entregar o Serviço de Medicina a uma entidade externa. “A administração da ULSAR informou que está em preparação a abertura de um concurso público internacional para a gestão do serviço… Reconhecendo a morosidade do processo e a necessidade de garantir resposta face ao previsto aumento sazonal de casos agudos, sobretudo de origem respiratória, a ULSAR avançará ainda esta semana com um procedimento de contratação excluída. Este instrumento permitirá a contratação temporária de uma entidade gestora, privilegiando instituições do concelho do Montijo, mantendo o objetivo de atingir as 50 camas. A previsão é de que o processo esteja concluído e adjudicado até janeiro de 2026”, lê-se no documento.
Serviço de Urgência e reação da CDU
Abordada também na reunião mantida com administração da ULSAR foi a questão da redução do funcionamento do Serviço de Urgência Básica do Montijo. A administração admitiu que “persistem dificuldades no seu funcionamento regular devido à ausência de um quadro médico próprio”, mas assumiu o “objetivo de manter o serviço” a funcionar “24 horas por dia”.
Além disso, foi também comunicado aos autarcas que “está prevista a instalação de uma ambulância de Suporte Imediato de Vida (SIV)” no Hospital do Montijo, previsivelmente no “primeiro trimestre de 2026”, bem como a criação de “uma Unidade de Cuidados à Comunidade (UCC) própria”.
Ontem, também em comunicado, a CDU reagiu sobre o encerramento do Serviço de Medicina e a redução do horário de funcionamento que se tem verificado desde o último verão no Serviço de Urgência Básica. Para a coligação a situação representa “mais uma machadada no Hospital do Montijo” e as preocupações aumentam.
“Pudemos constatar que estas preocupações estão bem presentes, tanto nos utentes, como nos profissionais de saúde, com a perspectiva de encerramento deste Serviço e provável transferência dos respetivos profissionais (enfermeiros e auxiliares) para o Hospital do Barreiro. Há também preocupação quanto ao Serviço de Urgência e à possibilidade de este passar a atender os utentes apenas das 8 horas até às 20 horas, deixando de estar aberto 24 horas ao serviço das populações, dando assim mais uma machadada no Serviço Nacional de Saúde”, afirma a CDU.
A coligação vai mais longe e responsabiliza os principais partidos que têm passado pelo Governo. “Decisões que fazem parte do plano de desmantelamento do Hospital do Montijo, e da sua entrega ao sector privado e social, que PSD e PS, de facto partilham.”
Ao mesmo tempo, a CDU exige da parte da Câmara do Montijo “uma atitude reivindicativa firme em defesa do Hospital, e do Governo medidas para não apenas manter em funcionamento os serviços existentes, como retomar as valências entretanto perdidas”. A terminar, a CDU diz que irá entregar “uma pergunta na Assembleia da República sobre a matéria” e apela “à participação dos utentes e profissionais de saúde do Hospital do Montijo no desfile” que se irá realizar amanhã, pelas 10 horas, desde o Centro de Saúde da Baixa da Banheira até ao Hospital do Barreiro.
Pressão Autarcas de Montijo e Alcochete pedem reuniões à ministra
Apesar da reunião mantida com a administração da ULSAR, Fernando Caria decidiu pedir uma audiência à ministra da Saúde, Ana Paula Martins, com o objetivo de esclarecer todas as matérias relativas ao Hospital do Montijo. Caminho igual também decidiu fazer Fernando Pinto, presidente da Câmara Municipal de Alcochete, logo após as notícias divulgadas por O SETUBALENSE sobre o Serviço de Medicina e o Serviço de Urgência Básica. As reuniões foram solicitadas separadamente, mas os dois autarcas estão em sintonia na defesa do Hospital do Montijo, apurou O SETUBALENSE. E, tal como a CDU, o Chega vai questionar a ministra no Parlamento, disse Nuno Valente, vereador do partido na autarquia montijense.