Nuno Cruz: “O executivo anterior deixou mais de 200 mil euros de dívidas. Não vou descansar até estar tudo pago”

Nuno Cruz: “O executivo anterior deixou mais de 200 mil euros de dívidas. Não vou descansar até estar tudo pago”

Nuno Cruz: “O executivo anterior deixou mais de 200 mil euros de dívidas. Não vou descansar até estar tudo pago”

Novo presidente começa mandato com a prioridade de recuperar financeiramente a União de Freguesias de Setúbal. Lamenta a ausência de resposta da Câmara Municipal e defende um diálogo sem exclusões

Com a prioridade de devolver estabilidade à União das Freguesias de Setúbal, Nuno Cruz admite que encontrou uma junta “em situação grave”, com pagamentos em atraso e dívidas ao movimento associativo. Em entrevista a O SETUBALENSE, o novo presidente, eleito nas últimas autárquicas, assegura que está a preparar uma reorganização profunda e um plano de reequilíbrio financeiro.

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Sublinha que a governação local só será eficaz com diálogo e lamenta a ausência de cooperação inicial por parte da Câmara Municipal, mas garante que está disposto a reunir “três vezes por dia” com Maria das Dores Meira se isso for necessário para resolver os problemas da freguesia.

Foi eleito presidente da União das Freguesias de Setúbal, uma das maiores vitórias do PS no concelho. Que significado tem este resultado para si?

Permita-me a correção. Foi mesmo a maior vitória e a única eleição que conseguiu a proeza de ultrapassar a barreira dos 30%, não só graças a uma excelente equipa, como também a uma estratégia que teve em atenção as características do eleitorado deste freguesia e, não menos importante, a muito apoio de inúmeros militantes e amigos do PS.

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A título pessoal, encaro esta vitória como mais um grande desafio, provavelmente, o maior desde que comecei a trabalhar. Chegar à liderança de uma junta de freguesia permite tomar decisões, ajudar a melhorar a vida das pessoas, e é isso que me motiva, ajudar o próximo.

Não diria que tem um significado político. As autárquicas são uma eleição especial. A maioria dos eleitores votam pelas pessoas, votam nas equipas, nos projetos, esquecendo um pouco as origens políticas dos candidatos. Em súmula, não espere que apresente hoje aqui a minha candidatura à câmara municipal em 2029 (estou a brincar).

A União das Freguesias é uma área complexa, com realidades muito diferentes entre si. Que diagnóstico faz da situação atual e quais são as prioridades imediatas?

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Diria que divido a questão em duas partes. A junta em si mesmo e o território.

No dia 4 de novembro entrámos na sede da junta e encontrámos uma realidade bem diferente da que esperávamos encontrar. Não quero centrar-me num discurso de crítica aos executivos anteriores, terão o seu mérito, mas a situação financeira e a forma de organização que encontrámos não nos permite iniciar o mandato focados no cumprimento dos 50 compromissos apresentados. Vamos iniciar agora uma fase fundamental de reorganização dos serviços da junta e de recuperação da situação financeira, que considero grave.

Indo mais a fundo na sua questão, sim, a UFS, a freguesia com o maior património histórico da cidade, e onde praticamente a maioria da população procura os principais serviços, caracteriza-se por ter uma área urbana com grande densidade populacional e depois, uma área rural, com características únicas, mas com problemas desafiantes.

Depois temos outras duas realidades, o centro histórico e os bairros da periferia.

São desafios e problemas distintos, para os quais teremos de encontrar soluções, mas, claramente, este executivo tem o foco na melhoria da qualidade de vida nos bairros, onde no nosso entender, foi descurada a limpeza, os espaços públicos e a segurança.

É nessas três áreas, juntamente com a mobilidade, que encontra as prioridades para este executivo.

No discurso de tomada de posse disse: “Não vim fazer promessas, vim trabalhar”. Isso é um recado político ou uma forma de se distanciar de estilos de governação anteriores?

Tem a certeza que disse essa frase? (risos)

Não, não é recado nem um distanciar de qualquer estilo de governação. Sou eu, é a minha forma de ser e de estar. Sabia que a tempestade Claúdia já me obrigou a calçar as galochas e a agarrar na vassoura?

Trabalho desde os 19 anos e sempre fui uma pessoa de terreno. Defendo uma liderança pelo exemplo, preciso de motivar os trabalhadores, e não há melhor forma do que dar o exemplo estando no terreno com eles, por isso, habituem-se porque vão mesmo ver-me muitas vezes no terreno a trabalhar.

Diria que escolhi a equipa perfeita para poder passar mais tempo com os trabalhadores em campo e menos tempo no gabinete.

Disse que nenhum executivo tem sucesso se não ouvir quem está no terreno. Vai haver uma nova forma de dialogar com associações, comerciantes e moradores?

O diálogo de que falei é uma forma diferente de encarar a política e o cargo que agora ocupo. O diálogo com todos, independentemente do seu pensamento político, o diálogo aberto e constante, e incluir nesse diálogo inclusive, as forças políticas que não têm assento na assembleia de freguesia.

Veja o caso do PSD. É para mim impossível ignorar um partido que faz parte da história da governação portuguesa, que tem uma forte implementação na freguesia, que tem bons quadros políticos. Temos o Livre, o PAN, outras forças políticas que concorreram. Temos de ter a humildade de saber ouvir todos. A frase que mencionei na tomada de posse falava disso.

Sobre o diálogo com o movimento associativo, comerciantes ou moradores, faz parte do meu percurso cívico e profissional. Não se esqueça que fiz parte de uma associação de moradores, há muitos anos que trabalho diretamente com o movimento associativo. Conhecer a realidade das associações, os seus problemas, facilita o diálogo que pretendo que seja constante.

Tendo em conta algumas limitações orçamentais, como vai gerir os recursos disponíveis e que prioridades financeiras vai definir?

Lamento ter de dizer isto, mas não posso aceitar que se diga que temos algumas limitações orçamentais. Não acho normal um executivo deixar a junta com mais de 200 mil euros de pagamentos em atraso. Mais de 20 mil euros de pagamentos por fazer ao movimento associativo.

Se fossemos uma empresa, provavelmente  estaríamos em falência e há muito que os seus gestores tinham sido despedidos.

Temos pagamentos urgentes para fazer, temos prestadores de serviço que ameaçam parar de colaborar com a junta. No início de dezembro a dívida será ainda maior, atendendo aos compromissos anteriormente assumidos.

 A prioridade neste momento e durante o primeiro ano de mandato será mesmo o reequilíbrio financeiro da junta e a procura de renegociação com vários fornecedores.

Já tivemos de tomar decisões difíceis. No primeiro dia decidimos não avançar com um almoço que já estava a ser preparado para 400 reformados. Cancelámos o almoço de Natal dos trabalhadores, suspendemos as horas extraordinárias dos trabalhadores e não iremos fazer qualquer gasto em publicidade.

Não vou dormir descansado até deixarmos de ter dívidas. Vamos conseguir, e após isso, sim, vamos focar a nossa atenção na concretização das medidas apresentadas.

Felizmente, mesmo sem grandes recursos financeiros, temos a capacidade e a criatividade para começar a limpar a freguesia e a cuidar dos nossos espaços públicos, pois acreditamos na dedicação e no potencial dos trabalhadores da junta. Todos juntos vamos cuidar da freguesia.

O que distingue a sua forma de liderar de quem o antecedeu na presidência da Junta?

Quem tem de responder a essa pergunta são os fregueses, são as associações, os nossos empresários.

A União das Freguesias passou por um momento conturbado no último ano, houve uma troca de presidência. Bem, uma coisa tenho a certeza, não me irão ver a desistir da freguesia a 10 meses das eleições, isso para mim é inconcebível e não respeita os eleitores. Penso que isso já seja uma diferença.

Sente que o trabalho enquanto vereador o ‘catapultou’ para ser presidente da junta?

Não, aliás, eu apenas fui vereador em regime de substituição. Sempre que fui chamado a substituir, fi-lo com a máxima dedicação, mas penso que isso não teve muita influência na escolha do presidente da concelhia e do secretariado.

Acredito que a aposta que o partido fez em mim está mais relacionada com o facto de ter um percurso cívico e profissional que vai ao encontro do perfil dos candidatos escolhidos, pessoas com um percurso de vida feito no nosso concelho.

Falou numa equipa pronta a trabalhar “com todos, sem exceção”. Está disponível para incluir outras forças políticas ou sensibilidades da oposição em projetos da freguesia?

Sem dúvida. E sem linhas vermelhas ideológicas. Assumi para comigo mesmo um lema, com todos e para todos, e é isso que irá acontecer. Desde que sejam medidas ou projetos que respeitem os direitos individuais de todos os cidadãos, estaremos cá para as discutir.

A frase com todos e para todos é mesmo para cumprir, e verá isso em breve no novo formato de comunicação da freguesia nas redes sociais.

O PS tem agora responsabilidades renovadas nas freguesias e na Assembleia Municipal. O partido está a preparar um novo ciclo em Setúbal?

Independentemente dos resultados de cada ciclo eleitoral, o PS esteve sempre preparado para governar e teve sempre a responsabilidade de criar novos ciclos. É assim que funcionam os partidos democráticos.

As eleições decorreram há pouco mais de um mês e o partido terá, em princípio, eleições em janeiro, por isso, é normal que se abra um novo ciclo. O importante é que estejamos todos focados no mesmo objetivo, fazer mais e melhor pela cidade e pelas freguesias.

O que é que o Partido Socialista deve aprender com os resultados das autárquicas?

Um partido com a antiguidade, a história e a dimensão do PS não precisa de resultados eleitorais para tirar ilações e aprendizagens. Isso deve decorrer de um processo natural de convergência com os interesses das populações. Um partido que anda na rua e ouve a população, está sempre pronto a tomar as melhores decisões para um rumo acertado.

Ainda assim, e é uma opinião pessoal, o PS deverá olhar mais profundamente para a forma como construiu a sua estratégia de campanha. Foi uma enorme campanha, é verdade, mas penso que poderia ter estabelecido ainda mais proximidade com as pessoas.

Como se explicam as conquistas do PS em 3 juntas e na AM e uma derrota na Câmara Municipal?

Essa é uma discussão que o meu partido ainda irá fazer e que prefiro tê-la em primeiro lugar no seu seio.

Ainda assim, e porque não fujo a perguntas, a verdade é que a candidatura independente apresentou um cabeça de lista que é muito forte em campanha de rua, teve a capacidade de agregar interesses e aliado a isso, o facto de ter o apoio do PSD nacional, ajudou a agregar eleitorado.

Com a candidatura do Livre e do PAN, que não concorreram às juntas, creio que perdemos votos para a câmara que não perdemos para as juntas.

Mas não se esqueça que mesmo perdendo, o PS teve o melhor resultado dos últimos anos para a câmara. Isso deve ser realçado e deve-se fundamentalmente à liderança do presidente do PS Setúbal.

Vê margem para cooperação com o executivo camarário liderado por Dores Meira?

No dia em que entrámos na junta, uma das primeiras decisões tomadas pelo executivo foi solicitar uma reunião urgente ao novo executivo da câmara municipal. Infelizmente, até ao momento, não obtivemos qualquer resposta.

O facto de precisarmos de tempo para falar com os serviços não deve colocar em causa a cooperação institucional entre câmara e junta, e penso que essa reunião já deveria ter ocorrido, mas a responsabilidade neste momento está do lado da nova presidente.

Tal como disse no dia da tomada de posse, as instituições estão acima das relações pessoais entre os indivíduos.

Quer uma frase boa para uma capa de jornal? Não morro de amores pela Maria das Dores Meira, mas se tiver de reunir com ela três vezes por dia para resolver os problemas da freguesia e da cidade, assim o farei, com o  mesmo respeito que teria por alguém de quem goste fora das lides políticas.

Sinceramente, receio que a incapacidade da atual edil em lidar com as nossas divergências venha a prejudicar a cooperação entre as duas instituições. Essa responsabilidade recairá exclusivamente na presidente de câmara.

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