Candidata independente vai ser interrogada pela PJ sobre as alegadas ajudas de custo que recebeu e a utilização indevida dos cartões de crédito da autarquia
Maria das Dores Meira, candidata independente com apoio do PSD e do CDS, deverá ser constituída arguida em breve e vai ser interrogada pela PJ sobre as alegadas ajudas de custo que recebeu e a utilização indevida dos cartões de crédito da autarquia, de acordo com uma notícia avançada pelo jornal Público.
Foi a partir de documentação fornecida pelo município que os investigadores concluíram que da última vez que governou autarquia, entre outubro de 2017 e outubro de 2021, e apesar de ter carro oficial com motorista, a suspeita recebeu perto de 35.500 euros da câmara a título de ajudas de custo por ter usado a sua viatura particular em deslocações de serviço que totalizaram 98.500 quilómetros.
As autoridades apuraram, porém, que as inspeções periódicas obrigatórias feitas aos dois carros que tem em seu nome, um Mazda de 2008 e um Toyota Celica de 1989, mostram que neste período os dois veículos não percorreram mais de mil quilómetros.
Outra das questões investigadas foram as viagens dentro e fora do país e do registo dos gastos efetuados com os dois cartões de crédito que estavam atribuídos à ex-autarca. De acordo com esta notícia, os inspetores perceberam que foram várias as vezes em que Dores Meira parece ter estado em dois sítios diferentes ao mesmo tempo.
Um dos relatórios já produzidos pela PJ, onde está um “cronograma com discrepâncias”, é assinalado que a 23 de março de 2018 Dores Meira reportou estar em serviço no Brasil, mas de 22 a 25 do mesmo mês também disse encontrar-se em Madrid. No mesmo quadriénio, terá auferido de ajudas de custo referentes a 146 dias de estadia fora do país o valor de 12 mil euros.
Estes inquéritos foram abertos entre 2021 e 2023, mas a candidata independente nunca foi chamada pelas autoridades. De acordo com o jornal Público, isso pode dever-se em parte à estratégia dos investigadores, mas a falta de recursos humanos nesta unidade também teve um peso significativo na lentidão das averiguações.
São várias as viagens que Dores Meira fez no âmbito de Setúbal pertencer ao Clube das Mais Belas Baías do Mundo que estão a ser investigadas, com a PJ a prestar mais atenção a uma deslocação de duas semanas ao Japão no Outono de 2018.
O evento em causa tinha uma duração de apenas quatro dias, mas a delegação de sete pessoas chegou a Tóquio logo no dia 7 desse mês, só tendo regressado no dia 22. Neste sentido, o objetivo dos investigadores passa por perceberem quem pagou a despesa dos dias de estadia que não foram custeados por este clube e também o porquê de dirigentes como os chefes de divisão da contabilidade, do controlo orçamental e do desporto fazerem parte da comitiva setubalense.
Ex-autarca está de consciência tranquila e disposta a falar
Dores Meira afirma estar de consciência tranquila, deixando a garantia que não cometeu nenhum crime. “Não sou arguida de nada e não tenho conhecimento de nenhum processo em curso a respeito da minha pessoa. Se houver algum processo, quero ser ouvida”.
A ex-autarca lamenta estar a ser “vítima de uma perseguição política em plena campanha eleitoral”, e fala de “pressões” dos seus adversários políticos “sobre instituições públicas e sobre redações para que se continue a fazer notícias sobre este assunto”.
Em declarações ao jornal Público, Dores Meira justifica que a duração da viagem ao Japão, que, segundo o município, custou 14.500 euros aos cofres municipais, relaciona-se com as reuniões institucionais ali realizadas. Quanto a esclarecimentos adicionais e mais detalhados, a candidata apoiada pelo PSD afirma que só os poderá fornecer quando conseguir aceder a documentos que a autarquia lhe tem negado.
As questões que estão a ser investigadas pela judiciária também já foram objeto de uma auditoria feita por uma sociedade de revisores oficiais de contas, a pedido da Câmara Municipal de Setúbal. Realizada pela Júlio Alves, Cabral, Saraiva & Associado, Sociedade de Revisores Oficiais de Contas, Lda., a auditoria apurou que Dores Meira, durante o último mandato que exerceu, fez várias despesas ilegais, tendo usado verbas municipais “para fins de natureza pessoal ou recreativa”.
A candidata independente à presidência da autarquia sadina já adiantou que vai apresentar queixa contra “os responsáveis pelo relatório encomendado pelo executivo CDU”.