Seis dos oito candidatos à presidência da autarquia debateram, no Auditório Fernando Lopes-Graça, propostas para os próximos quatro anos
O Auditório Fernando Lopes-Graça, em Almada, recebeu esta terça-feira seis dos oito candidatos à presidência da Câmara Municipal de Almada que, em duas horas e meia, explanaram os seus programas eleitorais e adiantaram medidas para melhorar a vida dos almadenses.
Num debate organizado pelo jornal O SETUBALENSE discutiram-se, principalmente, propostas relacionadas com a habitação, a mobilidade e a saúde no concelho que é o maior do distrito de Setúbal a nível de população.
A moderação esteve a cargo do jornalista Humberto Lameiras e o evento contou com o apoio da Aiset, e parcerias da Rádio Popular FM, Rádio Sines, Rádio Miróbriga M24, Rádio Pax e o jornal O Leme.
No palco estiveram Inês de Medeiros (PS), Luís Palma (CDU), Ana Clara Birrento (CDS-PP), Carlos Alves (IL), Marina Marques (PAN) e Sérgio Lourosa Alves (BE/Livre). Hélder Sousa Silva (PSD) não pôde estar presente por compromissos profissionais. Carlos Magno (Chega) chegou a marcar presença, inicialmente, mas abandonou a discussão devido a uma indisposição.
Habitação
Inês de Medeiros refere que em 2019 foi firmado um protocolo com o IHRU para a construção de 3500 fogos – numa primeira fase de 1100 fogos para habitação acessível, dos quais 620 estão já em curso. Salienta ainda que o município, até ao momento, já avançou com a empreitada de 100 fogos e que, no total já foram entregues “350 chaves”, mas que ainda há trabalho nesta matéria.
Carlos Alves adianta que a prioridade é mesmo a construção de casas. Propõe por isso o levantamento do património público para, posteriormente, “vender, reutilizar, reabilitar e para que famílias mais jovens possam escolher Almada para viver”. A descida de impostos, dar condições para que os jovens e trabalhar com o setor privado são outras medidas.
Luís Palma aponta dedos à gestão socialista e entende que o município tem de atuar mais na requalificação e construção de casas. O candidato diz que a construção de nova habitação tem de ter “uma perspetiva social de integração das pessoas e das famílias, oportunidades ao nível do emprego, como também da requalificação do espaço público”.
Marina Marques defende o reforço do investimento da construção pública, mas que é necessário pensar o local desses novos fogos. Entende que, para esta discussão que deve ser “intermunicipal”, é necessário deixar para trás “disputas políticas”. Na questão do arrendamento acessível explica que “o valor da renda tem de ser indexado ao rendimento” das famílias, e que devem existir “mecanismos de emergência” para casos de violência doméstica ou de género.
Sérgio Lourosa Alves compromete-se a travar a especulação na construção de habitações, e que já têm identificado nove mil edifícios devolutos, os quais querem reabilitar. Apoiar as pessoas em risco de despejo, vítimas de violência doméstica e sem-abrigo, com um plano habitacional de emergência social e ambiental, são outras propostas.
Ana Clara Birrento defende a criação de um programa de habitação acessível para jovens e famílias com menos recursos e aponta como necessidade a compreensão da carta municipal de habitação. Descarta, no entanto, o financiamento do Plano de Recuperação e Resiliência (PRR) e opta pelo pedido de dinheiros ao Banco Europeu de Investimento (BEI).
Carlos Magno não conseguiu apresentar as propostas do Chega e, neste momento, teve de abandonar o debate, devido a uma indisposição. Os candidatos puderam depois refutar as medidas de cada um.
Principais propostas de cada partido
O candidato da CDU prioriza a requalificação “integrada” do espaço público e defende mais trabalhadores no município – bem como a sua valorização. Ao defender uma política de “proximidade” pede que os cidadãos colaborem e possam explicar as necessidades das suas ruas e bairros. A construção de creches e o alargamento destas à rede pública e o apoio ao movimento associativo foram salientados.
Do lado da coligação BE/Livre a intenção é criar uma provedoria municipal dos direitos humanos. Criar um departamento municipal de consultas públicas, fomentar os coletivos de moradores, mais transparência autárquica e o reforço das medidas laborais para os trabalhadores da autarquia são outras propostas.
O PAN defende a criação da polícia municipal, instalação de videovigilância e trabalhar com as forças de segurança, ao nível da segurança. Na mobilidade defendem a reorganização do trânsito e mais transportes públicos (e mais frequentes) e, na higiene urbana, o reforço dos meios de limpeza e a sensibilização à população.
A candidata do PS referiu que, nos últimos mandatos, já foram reforçados os lares, os apoios continuados e os apoios à deficiência. Também que a câmara financiou todos os projetos de arquitetura para submeter ao PRR. Em questões de saúde diz ter sido firmado um protocolo com o Egas Moniz para apoiar a saúde oral e dentária e, nas escolas, o aumento do apoio à saúde mental.
O candidato da IL defende o reforço da ligação do município à Faculdade de Ciências e Tecnologias, que tem um polo em Almada, a utilização de tecnologias na higiene urbana são algumas das medidas. Outra proposta é a extinção da WeMob e a colocação dos trabalhadores desta na polícia municipal – que pretendem criar. Atração de grandes investimentos é também uma prioridade.
A candidata do CDS-PP propõe-se a atualizar a composição do Conselho Municipal de Saúde a fazer pressão junto das concessionárias dos transportes públicos – Transtejo, Fertagus e Carris Metropolitana – para que estas possam garantir mais conforto e mais horários aos passageiros. Na segurança entendem ser necessário “articulação” para a instalação de videovigilância e uma polícia municipal “de proximidade”.
Saúde
O candidato do BE/L defende que são necessário mais meios humanos e técnicos nos centros de saúde e hospital da região, quer que haja articulação dos transportes públicos até ao Hospital Garcia de Orta, e, ainda, garantir “resposta aos almadenses” com melhorias nos centros de saúde.
Por fim, a candidata do PAN aponta dois grandes problemas no Hospital Garcia de Orta: a falta de médicos e os “internamentos sociais”. Para esta unidade hospitalar propõe, por isso, o apoio a programas de internamento hospitalar domiciliário, para libertar camas e a criação de um programa de incentivos para a atração e fixação de médicos. Nos cuidados primários defende a renovação dos centros de saúde já existentes.
Do lado da CDU entende-se que há falta de investimento neste setor por parte do Governo e bate-se pela construção do Hospital do Seixal, para ‘desentupir’ o serviço em Almada. Mais centros de saúde na cidade – designadamente as USF Costa da Caparica e Feijó – é outra das medidas apontadas ao passo que critica o aparecimento de privados nesta matéria, porque “compete à esfera pública defender as necessidades das populações”.
A IL entende que é trabalho da autarquia pressionar a Administração Central para que haja melhores condições no hospital de Almada. O candidato quer avançar com as Parcerias Público-Privadas (PPP) e faz críticas ao governo “geringonça” porque, entende, só este impediu que “16 mil utentes beneficiem de um médico de família”. Critica o facto de ainda não estar construída a USF Feijó e ainda aponta dedos ao executivo municipal por estar à espera de fundos do PRR para investir.
O CDS-PP considera que o novo hospital do Seixal não seria uma solução para as urgências em Almada. Refere o edifício Rainha Dona Leonor, ao explicar que não se deve deslocalizar os cuidados de saúde de proximidade do centro da cidade. Revela também que, há tempos, a proposta da Administração Regional de Saúde de Lisboa e Vale do Tejo (ARSLVT) era disponibilizar 5M€ para a construção de um novo equipamento. Entende que é necessário ‘resgatar’ esta verba para se construir um novo espaço de saúde junto àquele edifício.
Do lado do PS a candidata diz que a USF Costa da Caparica já “está no terreno”, quanto à USF Laranjeiro e Feijó refere que vai ter de haver novo concurso – porque o primeiro ficou deserto. Aponta então as faltas no Garcia de Orta que “pode crescer e ter grandes serviços de ponta e que há vários anos tem uma carência grande de profissionais de saúde”. Com a transferência de competências o município recebeu a responsabilidade de 12 equipamentos de saúde que, segundo a candidata, já têm o levantamento feito quanto à necessidade de reabilitação.
Mobilidade
Carlos Alves aponta que a prioridade é reduzir o tráfego automóvel com a aposta na ferrovia ou na “liberalização da travessia fluvial” e até no alargamento e estudo do metro sul até à Costa da Caparica – e até à Charneca. Refere também melhores condições da Carris Metropolitana.
Sérgio Alves propõe “menos carros” através do programa “Almada em 15 minutos”. O reforço dos horários da Carris Metropolitana também é necessário, entende, bem como a acessibilidade em todas as estações de metro. Mais transportes públicos elétricos integrados, estudar a extensão do Metro Sul do Tejo para a Charneca e a Sobreda, são outras propostas que são capazes de trazer “mais emprego e comércio para estas freguesias”.
Luís Palma refere que o “grande investimento” deverá ser nos transportes que vão até outras localidades. Mais autocarros – e mais horários, também noturnos – da Carris em vários pontos do concelho e a articulação entre os vários meios de transporte são outras medidas. O candidato da CDU congratula o Passe Metropolitano, mas refere que é necessário este ser gratuito. A extensão do metro até à Costa da Caparica é entendido como um desafio pois este não entende “o modo como este alargamento vai chegar à Trafaria e à Charneca de Caparica”.
Mariana Marques quer combater o grande fluxo de carros na cidade e a que a solução para isto é “uma boa rede de transportes públicos interligados e sincronizados como existe em grandes cidades europeias”. Aumentar e sincronizar a rede de autocarros e trabalhar com a Fertagus para adquirir novos comboios são alguns dos meios para atingir este fim.
Inês de Medeiros defende que há a necessidade de uma nova travessia rodoviária – seja por túnel ou ponte que deve ter uma via dedicada a transportes públicos. Refere que as obras no IC20 foram “impostas à Câmara de Almada” e que o pórtico da A33 “não está lá a fazer nada”. Entende ainda que deve ser feita uma maior aposta no transporte fluvial.
Ana Clara Birrento diz que cabe às autarquias trabalhar com a Área Metropolitana de Lisboa para proporcionar à população melhores transportes. Uma das propostas da candidata é também a gratuitidade dos passes para os jovens até aos 26 anos e idosos, com o “trabalho em rede a articulação de horários” a ser também solução. Quanto à empreitada do IC20 aponta dedos à autarquia na falta de “tentativa de diálogo” com a Administração Central.