Para amanhã está convocada uma ação de protesto junto ao hospital do Barreiro. PCP e PS arrasam medida anunciada pela ministra da Saúde
A intenção do Governo em concentrar as urgências de obstetrícia no Hospital Garcia de Orta, em Almada, o que implicará o encerramento desta valência no Barreiro e um funcionamento apenas de contingência na unidade hospitalar de Setúbal, está a gerar revolta entre utentes e também responsáveis políticos dos dois partidos que repartem o poder autárquico na região (PCP e PS). Para amanhã, pelas 19 horas, está agendada uma ação de protesto junto ao Hospital Nossa Senhora do Rosário, no Barreiro, convocada por comissões de utentes e União de Sindicatos de Setúbal.
E a Comissão de Utentes dos Serviços Públicos do Barreiro engrossa o leque de críticas de que a ministra da Saúde, Ana Paula Martins, tem sido alvo nos últimos dias, face ao anúncio da governante de criar uma urgência regional de obstetrícia, feito no passado dia 17 em audição parlamentar na comissão de saúde.
“Com esta notícia quer dizer que o serviço de maternidade vai encerrar no Barreiro. Onde fica, neste ‘novo projecto piloto’ da ministra, o Hospital do Barreiro e o seu serviço? Este serviço sofreu obras recentemente de quase 1 milhão [de euros] para agora ficar a ganhar pó? As grávidas dos 4 concelhos [Alcochete, Barreiro, Moita e Montijo] terão de fazer quilómetros para chegar ao Garcia de Orta, quando têm um serviço disponível no Barreiro?”, questiona, em comunicado, a comissão de utentes, que lembra o impacto negativo que tem vindo a ser causado pelo atual funcionamento das urgências de obstetrícia em rotatividade entre os três hospitais, implementado durante o Governo do PS. “Tem deixado um rasto de adversidades pelo caminho, com dois falecimentos prematuros, com bebés a nascer em ambulâncias, nos carros das utentes. Não podemos, de todo, aceitar este desfecho”, afirma a comissão de utentes do Barreiro.
PCP e PS criticam tutela
A intenção do Governo é também alvo de duras críticas por parte da Direção da Organização Regional de Setúbal do PCP, que considera a medida “incompreensível, inqualificável, inaceitável e cobarde”.
“Incompreensível, porque o Hospital Garcia de Orta não tem capacidade para assegurar o serviço de urgências de toda a região; incompreensível, porque a solução apresentada é a construção de um Centro Materno-Infantil, no perímetro do Garcia de Orta, obra que ainda nem está projetada e que a ministra reconhece poder vir a demorar 2 ou 3 anos; inqualificável, pois o que prevê é deixar as grávidas sem garantia de serviço e porque assume expressamente que as grávidas do litoral alentejano vão ter como única maternidade de referência a situada no concelho de Almada; e cobarde, porque [o anúncio] não assume com clareza a intenção de encerrar serviços no hospital do Barreiro, no imediato, e no de Setúbal a prazo”, justifica o PCP, em comunicado.
Também em comunicado, a estrutura distrital do PS não poupa críticas à solução do Governo. “O Partido Socialista do distrito de Setúbal, os seus deputados, autarcas, dirigentes e candidatos a autarcas, nada têm contra o robustecimento da urgência de obstetrícia do Hospital Garcia de Orta. Mas, não aceitam, nem podem aceitar, que a criação desta urgência regional implique encerramento das urgências de obstetrícia e ginecologia existentes. Tal decisão é incompreensível, inaceitável e prejudica gravemente a prestação de cuidados de saúde no distrito de Setúbal”, afirmam os socialistas.
“Na iminência da instalação, no nosso território, de grandes investimentos – como é o caso da Terceira Travessia sobre o Tejo e do novo aeroporto – torna-se evidente que o crescimento populacional só vai aumentar, o que implica um reforço, e não uma contração das respostas e das infraestruturas públicas. Por outro lado, dados recentes do INE apontam para o aumento da taxa de mortalidade infantil na península de Setúbal, o que torna ainda mais inexplicável que se pretenda diminuir os locais e não reforçar a prestação de cuidados de saúde materno-infantil. A isto acresce a natureza do território do distrito, com concelhos e freguesias muito distantes de Almada, nomeadamente os quatro concelhos do litoral Alentejano”, adiantam os socialistas, que, a concluir, exigem que a intenção do Governo “seja travada e que se mantenham e reforcem os serviços de urgência de obstetrícia” atuais.