“Se eu fosse uma laranja e me tentassem espremer, não sairia nem uma gota de sumo.”
Já sentiu, mesmo rodeado de pessoas, um vazio que ninguém consegue preencher? Foi assim que o Renato, na sua primeira consulta, descreveu o vazio e a solidão que o acompanham. Mas ele não está sozinho. Na Europa, mais de metade das pessoas sente esse vazio constante — e entre os jovens de 18 a 24 anos, são quase dois terços (STADA Health Report, 2024). Em Portugal, cerca de um em cada cinco portugueses afirma sentir-se frequentemente só.
Muitas vezes, trata-se de um vazio que cresce mesmo no meio da multidão. Surge quando falta um vínculo interno capaz de nos sustentar. A solidão emocional nasce daquilo que não foi nutrido por dentro — e não do que nos falta por fora.
Desde que nascemos, precisamos de cuidado, afeto e atenção. Olhares empáticos e vínculos consistentes acolhem as nossas necessidades emocionais — não apenas as físicas. Quem recebe esse alimento de forma consistente aprende a estar consigo, a valorizar-se e, em certos momentos, a ser serenamente a sua própria companhia. O deserto da solidão dá lugar a um espaço interno habitável.
Quando o amparo emocional de alguma forma falha ou não é suficiente, não se constrói a base interna emocional capaz de sustentar, processar e acolher os sentimentos – é aí que a solidão emocional se instala.
Para lidar com esse vazio, muitas vezes agarramo-nos a relações que prometem segurança, mas que só aumentam a dor e a distância de nós mesmos. Outras vezes procuramos refúgio nos ecrãs ou precisamos ter sempre barulho à volta — televisão ligada, música constante — porque o silêncio torna-se ensurdecedor. Há quem esteja sempre a executar tarefas numa espécie de fuga que mascara o desconforto interno. E há quem sinta o corpo inquieto, dificuldade em adormecer sem estímulos externos, como se não fosse possível simplesmente desligar. A pessoa pode ainda sentir que se perde de si própria: não sabe o que fazer consigo.
Talvez também se reveja nestas palavras. A boa notícia é que não somos laranjas sem sumo: dentro de nós há sempre algo que pode ser cuidado e reencontrado.
A Psicoterapia Psicanalítica surge como um espaço onde se pode nutrir o que faltou, transformar o vazio em terreno fértil e aprender a estar consigo mesmo, encontrando paz e companhia interior — porque, mesmo que pareça impossível, há caminhos para reencontrar o que nos falta por dentro.