Pedro Pinela “leva nas orelhas” por cumprimentar iranianas com beijos e aperto de mão

Pedro Pinela “leva nas orelhas” por cumprimentar iranianas com beijos e aperto de mão

Pedro Pinela “leva nas orelhas” por cumprimentar iranianas com beijos e aperto de mão

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Jovem do Pinhal Novo continua a explorar as tradições dos quatro cantos do mundo e apresenta no DIÁRIO DA REGIÃO mais uma crónica das experiências que vai vivendo na aventura que iniciou pelo globo. Está no Irão e esqueceu-se que os hábitos são poucos comuns aos ocidentais

No outro dia fui ao barbeiro, aqui, em Tabriz, no Irão. No salão estavam três homens, incluindo o barbeiro e excluindo-me da equação. O Sadeq, meu anfitrião nesta cidade, foi comigo para acertar o preço que havia de pagar e depois foi embora, deixando-me sozinho com este grupo de iranianos dentro do qual ninguém falava inglês.

Como é que é um salão de cabeleireiro no Irão? Não tem grande diferença comparado com os barbeiros europeus, é um espaço onde se juntam homens que fazem a festa sob qualquer pretexto. Riam abundantemente enquanto esperava pela minha vez até que chega o filho do barbeiro, miúdo de 13 anos, que faz a tradução de algumas perguntas básicas do interesse dos adultos. De onde é que venho, para onde vou, como fui ali parar.

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A conversa, intervalada de gargalhadas deles, termina na oferta do corte de cabelo e num convite para que vá jogar à bola na manhã seguinte. Aceito, obviamente. Troco qualquer monumento ou museu por este tipo de contacto com locais.

Então na manhã seguinte, o Saeed e o Hamed vão-me buscar a casa e conduzem-me até ao pavilhão. Jogamos 5 para 5 durante hora e meia, no final da qual me espera outro convite.

Pedro Pinela com os amigos que participaram na partida de futsal

O Hamed põe-me em contacto com a sua irmã, ela sim fala a língua comum, e diz-me que ela e a sua família fazem questão que vá almoçar a sua casa. Aceito, obviamente. Troco qualquer restaurante de comida tradicional pelo interior de uma casa de família.

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Logo nas apresentações, puxo de dois beijinhos a Habibeh, a mãe de Hamed, que fica extasiada pela abordagem ocidental que não consegui controlar fruto do meu nervosismo. Cumprimento então a Marjan, irmã de Hamed, com um aperto de mão que, mesmo assim, segundo a cultura deles não devia ter acontecido. Nesta ocasião, quando um homem é apresentado a uma mulher, não existem cumprimentos que envolvam o toque. Abana-se a cabeça de forma cortês e está.

Parque Elgoli, o maior e mais famoso da cidade. Este parque antes da revolução iraniana, em 1979, era reservado à realeza. Depois passou a ser um espaço público
Parque Elgoli

(Sabiam que, nos transportes públicos, homens e mulheres vão separados? Até por portas diferentes entram: os homens pela porta da frente, junto ao motorista, as mulheres pela porta de trás. E elas sentam-se a partir da segunda metade do autocarro e eles na primeira metade).

Almoçar sem mesa e homem feito para descansar

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Entro na sala de estar e sento-me num dos quatro enormes e elaborados tapetes que cobrem o chão. Falo com a Marjan que a certa altura me diz que toca alguns instrumentos tradicionais, vai buscá-los e, sem vergonha, o que me espantou, começa a demonstrar como se tocam. Os seus nomes santur e daf, que se fazem acompanhar ou por uma guitarra tar, um violino ou perfazendo a banda que acompanha o(a) cantor(a).

Guardam-se os instrumentos e põe-se a mesa, sendo que não existe mesa. Estende-se um plástico fino sobre o tapete, comida e pratos lá para cima e comemos todos sentados no chão. A sopa é feita com a água de cozer o frango, tiras de cenoura, massinhas e uma especiaria que faz com que o caldo seja dum cor-de-laranja vivo. Passada esta fase, encho metade do prato com arroz (como é hábito) e eles olham para mim como se isto fosse eu a ser contido no que comia. É suposto encher o prato de arroz até só sobrar espaço para umas tiras de frango que vamos repondo à medida que comemos.

Um recanto da sala de estar: as fitas que estão na parede são a propósito do aniversário de Marjan
Instrumento musical, denominado Daf
Mesa posta para o almoço

O pão. Não existem carcaças, nem mafrinhas, muito menos pães de quilo, como não devem imaginar. O pão são lençóis de massa que passadas duas horas passam de lençóis a placas tal é a velocidade com que ficam rijos. Parte-se esta placa ao tamanho que se queira e come-se.

Acabado o almoço, recostam-se os homens numa almofada contra a parede, enquanto as mulheres tratam da loiça. Tentei ajudar mas o pai do Hamed, que chegara a casa para o almoço, não me deixou. Fez sinal que estivesse quieto e que me sentasse ao seu lado a fazer a digestão. Daí a um bocado ressonava a pender para o meu ombro. Pergunta-me a Marjan: e tu, não fazes a sesta?

Hamed na companhia do pai

 

Marjan

Acordo da sesta, estavam as mulheres descompostas sem o lenço sobre a cabeça. Quando reparam que já estou desperto voltam a cobrir-se e vão buscar um prato cheio de fruta (limões doces, laranjas, maçãs e pepinos). Voltamos a reunir-nos num círculo no tapete, cada um com o seu prato e faca para as cascas e comemos.

Entretanto, chega o Saeed, que depois da bola se havia separado de mim e do Hamed. Faz a família rir que nem doidos, goza com os meus dois beijinhos a Habibeh. Ameaça-me com dois beijinhos à minha mãe e acabamos por sair para um chá, no Parque Elgoli. Lá discutimos a proibição do álcool, as diferenças nos relacionamentos entre homens e mulheres entre a Europa e esta parte da Ásia e a proibição de se dançar em público que, ainda assim, foi o que me causou maior impressão. Dias repletos, como este foi, dão boas noites de sono.

Saeed

Pedro Pinela com DIÁRIO DA REGIÃO

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