Supressões de carreiras e atrasos no cumprimento de horários voltaram a registar-se. Tem sido um calvário para os utentes
Os anos passam, esfumam-se, mas o pesadelo, volta e meia, reacende-se. Os utentes da Transtejo/Soflusa que necessitam de ver assegurada a normal ligação fluvial entre Montijo e Lisboa continuam a sofrer – nos planos pessoal e profissional – com a supressão de carreiras ou o incumprimento de horários de transporte. O calvário continua.
Os avisos de perturbações ao normal serviço da transportadora avolumam-se no site da empresa e são reveladores de que nem uma compra elétrica de milhões – inicialmente até desprovida de baterias – foi suficiente para acalmar as sucessivas marés vivas de constrangimentos.
O fado parece não ter fim à vista. Os problemas de cancelamento de carreiras e atrasos no cumprimento das travessias mantêm-se. E voltaram a emergir com intensidade nas últimas semanas, o que levou o executivo municipal do Montijo a aprovar, na reunião de quarta-feira passada, por unanimidade, uma moção a exigir à administração da empresa e ao Governo, através do Ministério das Infraestruturas, “a rápida resolução dos problemas sentidos para que o transporte fluvial possa funcionar regularmente”.
Ao mesmo tempo, o município evoca a defesa do “direito fundamental à mobilidade dos cidadãos e do transporte fluvial na ligação Montijo-Lisboa como meio essencial de transporte e marco da identidade do Montijo”.
No documento, que foi apresentado por Maria Clara Silva, o município lembra que “nos últimos dias tem-se verificado uma série de constrangimentos na ligação fluvial entre Montijo e Cais do Sodré, designadamente atrasos e suspensão de carreiras ou a realização de serviços em embarcações que não têm as características nem a dimensão adequada ao transporte em causa”.
“Estes constrangimentos são inaceitáveis e prejudicam gravemente os utentes na sua vida pessoal e profissional. Sendo que muitos desses utentes pagaram antecipadamente um passe para depois não o poderem usufruir na plenitude. É urgente que esta situação seja resolvida”, adianta.
No texto é ainda sublinhado que Maria Clara Silva, no passado dia 28 de agosto, “oficiou o conselho de administração da Transtejo/Soflusa, expondo as reclamações que a Câmara Municipal tem recebido e reivindicando uma resposta rápida”. “Como o problema persiste, surge a necessidade de robustecer esta tomada de posição, fazendo-a chegar a outros patamares de decisão”, é ainda justificado no documento, que será enviado à administração da empresa bem como ao ministro das Infraestruturas.
Oposição diverge na solução
Durante a discussão da moção, João Afonso, vereador eleito pelo PSD, considerou que existe “uma gestão incompetente do transporte público no Rio Tejo há décadas”.
“A Transtejo/Soflusa tem o monopólio do transporte público no Rio Tejo. Acho isto completamente inaceitável. Há muito tempo que o transporte de passageiros no Tejo deveria estar liberalizado. Permitir que outras empresas fizessem concorrência nas mesmas condições contratuais que a Transtejo. Mas não. Nós queremos continuar a apoiar estas empresas públicas completamente falidas, do ponto de vista financeiro, do ponto de vista operacional, que prestam um miserável serviço às pessoas”, atirou.
Pela CDU, o vereador Joaquim Correia contestou a visão do social-democrata. “Sobre a liberalização dos transportes, veja o comboio. Liberalizámos aquela linha da Fertagus e o problema que nós temos hoje: a Fertagus não tem comboios que cheguem, as pessoas vêm amontoadas, não cumprem horários, etc. A liberalização não resolve os problemas. Serve é para encher os bolsos de alguns à custa do Governo. Temos é de ter barcos em quantidade e com qualidade para fazer o transporte para Lisboa, tal como temos de ter comboios para resolver o problema da Fertagus. E, se calhar, era necessário passar a Fertagus para a esfera pública”, defendeu.
A moção a remeter à administração da Transtejo/Soflusa e ao ministro das Inbfraestruturas foi aprovada por unanimidade.