IA antevê um futuro de “equilíbrio entre urbanidade, natureza, inovação e cidadania” se houver visão e determinação dos agentes políticos. E antecipa a “consagração da Arrábida como Reserva da Biosfera”. Uma decisão que a UNESCO está para tomar em breve
O concelho de Setúbal, olhando para um horizonte de 170 anos, tem vindo a construir as bases de um futuro sustentável, inovador e inclusivo. A implementação do novo Plano Diretor Municipal (PDM) de segunda geração, desde 2025, reflecte uma estratégia de ordenamento territorial focada na preservação ambiental, na valorização das quintas de Setúbal e Azeitão e na limitação da expansão urbana sobre solo rústico. Este plano prevê 263 projetos nos próximos dez anos, representando um investimento global de cerca de 568 milhões de euros.
Em paralelo, a sustentabilidade ambiental e a resiliência climática ocupam um lugar central no planeamento futuro. Projetos como o CICLOP 7, PRARRÁBIDA e iniciativas do Portugal 2020 apostam na criação de ciclovias, requalificação da serra da Arrábida e na promoção de inclusão social. O Plano de Acção Climática (2025–2035) visa, inclusive, a elevação da Arrábida a Reserva da Biosfera, reforçando o equilíbrio entre ser humano e natureza. Além disso, o PDM inclui medidas de descarbonização e protecção ecológica em consonância com estratégias nacionais como o PNEC2030 e a Estratégia Nacional do Hidrogénio.
Na vertente tecnológica, Setúbal integra a iniciativa europeia “Smart Tourism Destinations”, apostando na digitalização do turismo para o tornar mais sustentável, acessível e eficiente. Esta modernização alia-se a um forte investimento em mobilidade urbana, com a requalificação de zonas como a Praça do Brasil, as Fontainhas e a criação de passadiços para Albarquel, bem como novos corredores verdes e interfaces de transporte.
Ao nível da habitação, há um reforço significativo da oferta pública e privada com a criação de cerca de 500 novas habitações e a promoção da reabilitação do património edificado. Este esforço procura garantir acesso à habitação sem desvirtuar a identidade urbana. A componente cultural é também estruturante, com o Plano Estratégico de Cultura 2030 a envolver activamente a população e a fomentar a participação cívica. Desde 2019, Setúbal é ainda membro da Rede UNESCO de Cidades de Aprendizagem, incentivando o desenvolvimento educacional contínuo e inclusivo.
Economicamente, o concelho caminha para uma diversificação estratégica, mantendo a importância do porto, mas investindo também em turismo qualificado, inovação tecnológica, energias renováveis e empreendedorismo local. Esta abordagem multidimensional permitirá, nas próximas décadas, transformar Setúbal num polo metropolitano ecológico com forte identidade cultural e social.
Se esta visão for levada avante com continuidade e eficácia, Setúbal poderá, até ao século XXII e além, ser reconhecida como um modelo europeu de sustentabilidade urbana, digitalização inteligente e coesão territorial.
A concretização desta visão dependerá em grande parte da capacidade da governação local e nacional em garantir a continuidade dos investimentos, a qualidade técnica na execução dos projetos e o envolvimento da população. Um dos factores críticos será a adaptação ao impacto das alterações climáticas, com medidas estruturais e de mitigação que deverão tornar Setúbal um dos concelhos mais resilientes da faixa atlântica portuguesa.
Setúbal já iniciou um percurso ambicioso nas energias limpas. Em Poçoilos, por exemplo, está em desenvolvimento um projecto pioneiro de produção de hidrogénio verde, com capacidade para 870 toneladas anuais, complementado por uma central fotovoltaica de 24 MW. Estes investimentos não só posicionam Setúbal como referência na transição energética nacional, como também podem gerar centenas de empregos qualificados e atrair parcerias científicas e industriais.
Inclusão, turismo e transformação digital
No domínio da inclusão social e equidade urbana, os próximos anos serão determinantes. A regeneração de bairros como a Bela Vista e o reforço da habitação acessível deverão integrar abordagens multidimensionais: urbanismo, educação, empregabilidade, saúde pública e cultura. O objectivo será inverter ciclos de exclusão e promover comunidades integradas e vibrantes.
A transformação digital da cidade será outro eixo estruturante. Sistemas de sensores ambientais, plataformas de dados abertos, inteligência artificial aplicada à mobilidade e serviços públicos online poderão tornar Setúbal uma cidade-modelo de “inteligência urbana”. Esta infraestrutura digital será essencial para uma gestão eficiente
dos recursos naturais, dos fluxos urbanos e da qualidade de vida.
Em termos culturais, Setúbal poderá consolidar-se como um destino literário e artístico de referência, ancorado nas figuras de Bocage e Sebastião da Gama. Eventos internacionais, residências artísticas, roteiros poéticos e escolas criativas poderão reforçar uma identidade cultural forte, local e global.
Por fim, o relacionamento entre cidade e natureza será decisivo. A consagração da Arrábida como Reserva da Biosfera, com gestão partilhada entre comunidades, autarquias e cientistas, poderá funcionar como símbolo e laboratório de inovação ecológica. Agricultura biológica, turismo ecológico, educação ambiental e ciência cidadã serão dimensões a aprofundar.
Com perseverança, planeamento e visão de longo prazo, Setúbal poderá ser, em 2195, uma referência europeia de equilíbrio entre urbanidade.