Depois da estreia no Fórum Municipal Luísa Todi esta quinta-feira, o próximo palco a receber “Purgatório” será o do Teatro Nacional Dona Maria II
Numa criação do Teatro O Bando e do Coro Setúbal Voz, a produção Purgatório, a segunda estação de A Divina Comédia, estreia esta quinta-feira, dia 6, no Fórum Municipal Luísa Todi, pelas 21h30.
“Este espectáculo começou com um convite do Teatro O Bando ao Coro Setúbal Voz para participar nesta segunda parte da obra icónica de Dante. A Divina Comédia está dividida em três partes: O Inferno, feito há dois anos, O Purgatório e o Paraíso”, começa por dizer Rui Águas Trindade, presidente do Coro Setúbal Voz, a O SETUBALENSE. “O nosso coro tem uma personalidade própria quando está a actuar. São pessoas amadoras que trabalham de forma profissional e este espectáculo é muito bonito e muito forte”, adianta. Os 44 coralistas, que actuarão numa dinâmica entre corpo e canto, serão as almas que, no Purgatório, “percorrem as sete cornijas”.
O presidente do coro setubalense diz que “é importante que o espectador se sinta movido para uma não realidade, se sinta noutra dimensão e se interrogue sobre os seus pecados e virtudes” e acrescenta que “o espectáculo tem uma dimensão de dramaturgia muito forte. O diálogo, por si, é muito forte. O espectador sente-se guiado nesta viagem”.
Com texto de Dante Alighieri, tradução de Sophia de Mello Breyner Andresen, dramaturgia de Miguel Jesus e encenação de João Brites, o espectáculo, que conta com Fernando Luís, Nélson Monforte, Rita Brito, Sara Belo como actores e leva a palco 44 coralistas do Coro Setúbal Voz, pode ser visto até ao dia 9, em Setúbal, no mesmo horário. No domingo a sessão é às 17h.
Sobre a parceria, Miguel Jesus explica que “o Coro Setúbal Voz é uma presença completamente assoberbante, de um impacto estrondoso e por isso a dramaturgia não podia fugir disso. Teve de fazer disso a sua força”. Por Purgatório vir “na sequência de um desenho de uma trilogia”, o dramaturgo já pensa no que aí vem, e diz que depois de Inferno, em 2017, e de Purgatório, este ano, “dizem os grandes mitos que em 2021 conseguiremos fazer o Paraíso”, explicando que “cada um dos espectáculos está sempre feito sob a lógica de pensar em cada um deles no aqui e agora, dado o contexto histórico e aquilo em que estamos envolvidos”.
Já para o encenador João Brites, “a ideia de Purgatório é a ideia da maioria. Uma massa de pessoas, muitas vezes silenciosa. Neste gesto artístico, estamos a falar de nós próprios e as questões que pomos não são para pensar, são para sentir”.
A dramatofonia, música e direcção musical são de Jorge Salgueiro, elemento comum ao Coro Setúbal Voz e ao Teatro o Bando. A ele, junta-se também Juliana Pinho, na coralidade. “Comecei a trabalhar com o Coro Setúbal Voz em Fevereiro e aquilo que mais me impressionou desde o início quando os via cantar era o facto de cada um ter um rosto que contava uma história”, refere. “Neste espectáculo em concreto, enquanto espectador, as pessoas têm a possibilidade de se reconhecem nesta multidão que é apresentada, que é tão diversa mas também sente”, continua.
Para Juliana, a melhor metáfora para Purgatório é o Metro e a azáfama que lhe está inerente: “tens que andar e não tens tempo para encontrar a pessoa que está sentada ao teu lado. Tens que seguir estas pontes que não sabes onde te levam mas não podes parar. E acho que ensinar-lhes que não é mostrar, é sentir, não é teres uma ideia e mostrá-la, é teres uma ideia e depois tens que materializá-la através da sensação, foi o trabalho mais importante que fiz com eles”. Na cenografia, está Rui Francisco e os figurinos e adereços são de Clara Bento. Dora Sales é a responsável pela assistência à encenação e cenografia. A produção está a cargo de Filipa Ribeiro. O Purgatório segue para o Teatro Nacional D. Maria II, entre 14 e 24 de Novembro.