O início de uma nova vida após a restauração do concelho em 1926. E o peso de dois clubes no panorama desportivo: Palmelense e Pinhalnovense
Palmela tem sido predominantemente agrícola, destacando-se pela produção de vinho, azeite, cereais e frutas, sustentando uma economia rural baseada em latifúndios e pequenas explorações familiares.
Nos últimos 170 anos, o concelho atravessou transformações profundas nos domínios do desporto, da política local e da acção social, reflectindo os grandes ciclos da história nacional, mas também afirmando características próprias que distinguem este território no contexto regional e metropolitano.
No plano político, o concelho sofreu uma reviravolta em 1855, com a sua extinção administrativa e integração no concelho de Setúbal, no contexto da reorganização territorial promovida pelo regime liberal. Esta perda de autonomia durou até 1926, quando o concelho de Palmela foi oficialmente restaurado, uma conquista reivindicada pelas elites locais e pelas populações rurais, que se sentiam distantes do poder setubalense. Este momento marca o início de uma nova etapa de afirmação política e administrativa, com reflexos directos no reforço da identidade local e no surgimento de novas freguesias, como Pinhal Novo (1928).
Com a transição democrática de 1974, o concelho passa a viver em liberdade e sob novas regras de participação cívica. As primeiras eleições autárquicas livres, em 1976, deram início a uma governação dominada pelo PCP, que tem gerido a Câmara Municipal desde então. A política local passou a pautar-se por uma forte aposta nos serviços públicos, no apoio ao movimento associativo, na valorização das freguesias rurais e na promoção da coesão territorial. Palmela tornou-se um exemplo de governação de proximidade, com forte investimento em equipamentos sociais e educativos.
Acção social e desporto
Em termos de acção social, a história do concelho revela um percurso coerente de construção de respostas comunitárias assentes na solidariedade, muitas vezes apoiadas no tecido associativo. Ao longo do século XX, destacam-se iniciativas como a fundação de instituições particulares de solidariedade social.
A partir da década de 1980, a Câmara Municipal passou a desempenhar um papel mais activo, com a criação de gabinetes de acção social, programas de apoio à habitação degradada, bolsas de estudo e parcerias com entidades locais. Nos anos de 2000, multiplicaram-se as respostas de apoio à infância, juventude, idosos e pessoas com deficiência, bem como os projectos de desenvolvimento comunitário em bairros periféricos.
A crise económica de 2008 e, mais recentemente, a pandemia de covid-19 (2020–2021) intensificaram a intervenção social no concelho, levando ao reforço das medidas de emergência alimentar e da cooperação entre o município e a rede de solidariedade local.
No plano desportivo, o concelho de Palmela sempre revelou um dinamismo expressivo, sobretudo após os anos de 1950. A fundação de clubes como o Palmelense Futebol Clube (1924) e o Clube Desportivo Pinhalnovense (1948), entre outros, comprova a importância do desporto na vida social do concelho.
Tal como o Palmelense, o Pinhalnovense é um dos clubes com maior expressão no concelho, não só pela sua longa história e pelas participações nos campeonatos nacionais da 2.ª e 3.ª divisões, mas também pelo trabalho contínuo na formação de jovens atletas. O Pinhalnovense atingiu projecção nacional ao disputar fases avançadas da Taça de Portugal, enfrentando clubes de primeira linha e promovendo o nome de Pinhal Novo no panorama do futebol português.
Com o tempo, outras modalidades, além do futebol, ganharam espaço no concelho: natação, atletismo, ciclismo, ginástica, judo, karaté, futsal e desportos de aventura. A construção de equipamentos, assim como a criação da Palmela Desporto, contribuiu para diversificar a oferta e democratizar o acesso ao desporto, sobretudo junto das camadas mais jovens.
Em síntese, o percurso de Palmela nos últimos 170 anos tem sido marcado por uma constante busca de equilíbrio entre tradição e inovação, entre justiça social e dinamismo cívico. A autonomia conquistada, o vigor do associativismo, o investimento público em educação, saúde, acção social e desporto, e a participação cidadã deram corpo a um concelho que, sem deixar de ser rural em muitos aspectos, se afirma hoje como um espaço de qualidade de vida, cidadania activa e envolvimento comunitário.