Jovem estudante considera que a IA tem mais-valias, mas não deixa de olhar para os seus perigos. Quanto à criação de conteúdos pela máquina, admite que estes nem sempre são fáceis de identificar
Pedro Santos, 21 anos, é estudante na área da engenharia do ambiente e não considera que a inteligência artificial possa, por completo, substituir profissionais nesta área.
Licenciado em Engenharia do Ambiente na Faculdade de Ciências e Tecnologia da Universidade Nova de Lisboa (NOVA FCT) e a tirar o mestrado na mesma área e na mesma instituição de ensino superior, não esconde já ter utilizado ferramentas de IA mas afirma estar desperto para os perigos desta – até ao nível ambiental.
Em entrevista a O SETUBALENSE o aluno da faculdade sediada em Almada, que está agora a realizar Erasmus na cidade de Pádua, em Itália, conta que a máquina veio facilitar algumas das metodologias académicas, mas não totalmente, e concorda que a IA deveria ser controlada, não só por empresas, governos, mas também pela população que deveria ter uma palavra a dizer sobre este novo fenómeno que veio para ficar.
Na tua vida, pessoal ou académica, utilizas ou já utilizaste alguma ferramenta de inteligência artificial? Se sim, de que forma?
Copilot, ChatGPT, Invideo AI, DALL-E, ChatPDF, Transkriptor, Humanize AI. Utilizei para transcrever áudios para texto, obter informação, resumir documentos, gerar imagens, gerar perguntas com base em documentos fornecidos para me ajudar a estudar. Responder a questões feitas em aulas ou exercícios. Ajudar-me a mexer em softwares novos que não entendo bem como funcionar. Planear viagens e fazer roteiros.
Consideras que estás devidamente informado sobre o que são as inteligências artificiais?
Diria que sim. Sei as bases de como funciona uma inteligência artificial, como são aplicadas e de que forma. Também estou familiarizado com os impactos ecológicos destas devido ao armazenamento, arrefecimento necessário em que é utilizada água, a energia necessária para manter os servers[servidores] a funcionar.
Estando a frequentar o Ensino Superior consideras que a IA pode ter vantagens para a aprendizagem ou para o desenvolvimento de trabalhos?
100%. As inteligências artificiais vieram facilitar a vida dos estudantes de uma maneira extraordinária. Podemos pedir para resumir apresentações, para nos fazer textos/guiões para trabalhos. Mesmo que não utilizemos exactamente o fornecido, dá-nos uma ideia de como começar os trabalhos.
Achas que a IA será capaz de substituir trabalhadores na tua área?
É um talvez, mas não por completo. É possível, pois com base em dados, a IA consegue escrever relatórios anuais de empresas, consegue controlar e analisar os níveis de diferentes compostos nas águas e realizar os ajustes necessários de reagentes. No entanto é sempre preciso existir mão de obra humana.
Estás desperto para os perigos e mais-valias que a IA pode trazer?
Gosto de acreditar que sim e que a minha opinião não vem de filmes de ficção científica, no entanto, não sei se é verdade. As mais-valias são óbvias e estão à frente dos nossos olhos, os perigos por vezes escondem-se: os impactos ambientais, a educação e aprendizagem de jovens que recorrem cegamente às IA e que não procuram a informação fidedigna, com bases científicas.
Consideras que os jovens estão a utilizar de forma correcta a inteligência artificial?
Não existe correcto e incorrecto, na verdade. Claro que existe utilizações maldosas e difamadoras, mas não são apenas os jovens a tirar proveito. A meu ver, como utilizador, é justo utilizarmos a IA para nos facilitar a vida académica, para nos informarmos rapidamente de algo. O que sinto é por vezes falta de controlo naquilo que os jovens utilizam como fornecido da IA.
Como é que olhas para a possibilidade de a IA poder vir a substituir empregos/funções que aos dias de hoje são feitas por humanos?
É uma opinião dividida, pois existe muita falta de trabalho qualificado e não qualificado. E o facto de poder haver pessoas desempregadas pelo simples motivo de existir uma IA que poderá substituir o trabalho delas é assustador. Mas utilizar uma IA, poderá ter, não sei, vantagens económicas.
Achas que a IA pode vir a substituir empregos no futuro? Se sim, quais?
É muito possível. Tradutores, designers, agentes de viagens, economistas. Empregos pelos quais não exista uma necessidade de ser humano, de recorrer às emoções. No caso dos designers é mais complicado, pois a arte pode querer demonstrar algo, fazer-nos sentir algo, no entanto, já é possível redigir um texto muito completo que a IA gera aquilo que pedimos.
Pensas que a inteligência artificial pode ser prejudicial para o jornalismo?
Sim, pelo facto de que certas notícias são feitas com base em factos que uma IA pode utilizar e gerar algo do zero sem nunca ser preciso alguém a mudar. O jornalismo não é apenas textos que contam os factos, existem um enredo, um objectivo por trás da reportagem, uma emoção a querer ser transmitida.
No entanto, uma IA pode fingir ser humano e ter emoções pois foi pedido o que se queria transmitir algo ao leitor.
E para as redes sociais?
A IA directamente nas redes, com base nos conteúdos gostados vai nos dar mais desse tipo, gerando uma polarização, já notável. Pois se alguém tem uns certos ideais, o conteúdo mais recorrente será esse, não dando sequer hipótese de conhecer novos pontos de vista, isolando-nos numa bolha daquilo que acreditamos ser o correcto. Indirectamente, nos conteúdos com IA criados com o intuito dar falsas informações, distorcer o que foi dito por alguém, fabricar de raiz coisas que alguém nunca diria.
Nas redes sociais, e aos dias de hoje, achas que se identifica facilmente um conteúdo que é produzido por IA?
Claro que existem conteúdos que são fáceis de identificar, no entanto, existem outros que apenas alguém com conhecimento naquele assunto poderá identificar. Como distorcer ligeiramente entrevistas e conversas de modo a ‘sensacionalizar’ ou distorcer factos ditos por pessoas com influência.
Se pudesses criar um robot com IA o que é que ele fazia?
Cozinharia refeições, lavaria a loiça depois, limpava-me a casa. Resumidamente, um robot que fizesse as tarefas mundanas e repetitivas de casa de modo a ter mais tempo para actividades que efectivamente gosto e gostaria de dedicar mais tempo.
Achas que a criatividade corre riscos perante a inteligência artificial?
Não. Uma IA nunca (espero) substituirá a mente humana, pois não tem sentimentos, desejos, aspirações. Parte da criatividade deriva de emoções, de vontades de exprimir algo, de libertar o que a nossa cabeça devaneia, algo que uma IA nunca terá pois precisa sempre de ter uma base para criar algo, e ser criativo é imaginar algo que não existe.
Achas que a IA deve ter limites?
Nada deveria ter livre-trânsito, e a IA apesar de tudo o que tem de bom, existem muitas formas de poder ser utilizada com más intenções. Além de que, uma vez que tem acesso a informação pessoal, poderá ser uma arma, tão ou mais perigosa do que as físicas.
Quem é que achas que devia controlar as inteligências artificiais: empresas, governos ou a sociedade? E porquê?
Todas? O poder de controlo não deve ser apenas gerido por uma entidade. Acho que deve ser uma combinação de todos, consoante o assunto. A sociedade deveria ter voz de modo a demonstrar a sua opinião, os governos a regulamentar/proibir/censurar o uso das IA e as empresas porque foram elas as criadoras da IA.