Em 1989, um derrame de petróleo atingiu a costa de Almograve e deixou marcas profundas no ambiente e na memória local
Em Abril de 1989, a costa do concelho de Odemira foi palco de um dos mais graves desastres ambientais registados no litoral português. Um derrame de crude, proveniente do navio-tanque “Marão”, afectou significativamente a praia de Almograve e zonas envolventes, causando impactos profundos e duradouros no ecossistema local.
A costa alentejana, conhecida pela sua beleza natural e relativa preservação ambiental, foi surpreendida por uma maré negra que atingiu rapidamente várias zonas sensíveis. A extensão do derrame obrigou à activação de equipas de emergência, que, com os meios disponíveis na época, enfrentaram grandes dificuldades na contenção e remoção do crude. Os trabalhos de limpeza prolongaram-se por semanas, envolvendo entidades públicas, militares, técnicos ambientais e cidadãos voluntários.
O desastre afectou uma área costeira protegida, inserida no actual Parque Natural do Sudoeste Alentejano e Costa Vicentina. A biodiversidade marinha e terrestre da região, incluindo espécies de aves, moluscos e peixes, sofreu perdas severas. A contaminação das águas e do substrato rochoso comprometeu habitats e cadeias alimentares, com efeitos que se prolongaram muito além do desaparecimento visível do petróleo.
As consequências não se limitaram ao ambiente. As actividades económicas locais, nomeadamente a pesca artesanal e o turismo sazonal, sofreram um forte abalo. A imagem da praia de Almograve, antes procurada por visitantes nacionais e estrangeiros em busca de tranquilidade e natureza, foi temporariamente associada à poluição e ao risco ambiental.
O caso de Almograve representou um alerta nacional para a vulnerabilidade da costa portuguesa a acidentes com hidrocarbonetos. Na sequência do incidente, foram reforçados os protocolos de segurança marítima, os planos de contingência e a vigilância da navegação junto à costa. O episódio também contribuiu para o desenvolvimento de maior consciência ambiental na população e para o debate público sobre os riscos da actividade petrolífera perto de zonas naturais.
Ao longo dos anos seguintes, a zona afectada passou por um processo de recuperação ambiental. A regeneração natural da paisagem costeira, aliada a acções de monitorização e gestão ambiental, permitiu que Almograve voltasse a integrar os roteiros turísticos e ambientais do país. No entanto, o desastre de 1989 permanece como uma mancha na memória colectiva da região, lembrando a fragilidade dos ecossistemas costeiros face a intervenções humanas de grande escala.
Mais de três décadas depois, o episódio continua a ser referido em estudos ambientais e planos de prevenção de acidentes. Serve como exemplo claro das consequências ecológicas, sociais e económicas que resultam da falta de preparação ou da insuficiência de meios para lidar com emergências marítimas.
A história de Almograve ensina que a preservação do património natural exige não só cuidados permanentes, mas também a capacidade de resposta eficaz perante a inevitabilidade de acidentes. O crude desapareceu da areia, mas a lição permanece.