À medida que a IA ganha espaço na gestão de talento, impõe-se uma reflexão urgente sobre o seu impacto na formação, nas carreiras e no futuro do trabalho
A introdução acelerada da inteligência artificial (IA) nas organizações tem provocado uma transformação profunda na forma como as empresas gerem e planeiam as carreiras dos seus profissionais. A Gestão de Recursos Humanos (GRH) encontra-se numa encruzilhada em que as tecnologias avançadas tendem cada vez mais a automatizar processos e a reconfigurar competências e estratégias de desenvolvimento de talento.
Em Portugal, cerca de 8,6% das empresas com 10 ou mais trabalhadores já utilizam tecnologias de IA, um aumento face aos 7,9% registados em 2023. Este número cresce significativamente nas empresas de maior dimensão: 41,9% nas empresas com 250 ou mais trabalhadores e 15,4% nas empresas entre 50 e 249 trabalhadores. Deste prisma, observo que estamos perante uma mudança de paradigma que vai muito além da automatização de tarefas. O impacto da IA é simultaneamente promissor quanto desafiante, exigindo uma abordagem equilibrada, ética e baseada em dados para a tomada de decisão. Acredito que a ia está a reconfigurar competências, criar novas estratégias para desenvolver talento e a desafiar-nos a repensar o papel humano neste processo!
A crescente aplicação de IA nas práticas de GRH, segundo dados recentes do Instituto Nacional de Estatística (INE), em Portugal, cerca de 35% das empresas com 10 ou mais trabalhadores já utilizam ferramentas de IA para processos de recrutamento, avaliação de desempenho e formação interna (INE, 2024). Esta percentagem tem vindo a aumentar exponencialmente, refletindo a procura por eficiência, precisão e redução de enviesamentos na tomada de decisões relacionadas com as pessoas. Por exemplo, no recrutamento a IA, permite analisar um grande número de candidaturas com maior rapidez e objetividade, através da utilização de algoritmos sofisticados que permitem identificar perfis com maior potencial para a vaga, apoiando os recrutadores na tomada de decisão.
Contudo, é crucial sublinhar que a dependência excessiva destes sistemas pode intensificar problemas éticos, como a discriminação algorítmica ou a falta de transparência nos critérios de seleção, pois a tecnologia apesar de ser uma poderosa aliada, não é perfeita. É, por isso, fundamental que os profissionais de RH combinem o poder da IA com uma supervisão humana atenta e ética, garantindo uma gestão eficaz desta situação e que esta nunca seja uma substituição das pessoas e do seu espírito crítico.
A Tecnologia como aliada no Desenvolvimento Profissional
Através de plataformas inteligentes, a IA tem vindo a personalizar planos de formação e progressão, adaptando-os às necessidades e ambições específicas de cada colaborador, com a capacidade de analisar competências atuais, tendências do mercado, metas e objetivos pessoais sugerindo o percurso mais adequado que cada pessoa deve seguir consoante a sua ambição. As empresas que adotam estas soluções, reportam um aumento médio de 20% na retenção de talentos e melhoria no desempenho organizacional (Teleperformance Portugal, 2023).
Todavia, a integração da IA também trás preocupações sobre o futuro da empregabilidade, exemplo disso prende-se com a automação de tarefas repetitivas e administrativas, podendo levar à substituição de alguns postos de trabalho, exigindo dos profissionais uma contínua atualização de conhecimentos/skills, bem como de flexibilidade. De acordo com o relatório da Organização Internacional do Trabalho (OIT) de 2023, aproximadamente 14% dos empregos atuais na Europa apresentam risco elevado de automação nas próximas duas décadas, reforçando a responsabilidade das áreas de RH em promover uma cultura de aprendizagem contínua e reskilling, assegurando a empregabilidade dos colaboradores e a sua adaptação a este novo contexto. Em suma, a inteligência artificial representa uma oportunidade sem precedentes para revolucionar a gestão de pessoas, promovendo maior efi ciência, personalização e objetividade. Contudo, é imprescindível que as organizações adotem uma abordagem crítica, ética e centrada no ser humano, onde a tecnologia serve como ferramenta para potenciar, e não substituir as pessoas, a inteligência emocional e a capacidade de liderança dos profissionais de RH.
Adaptarmo-nos, formar-nos continuamente e agir com responsabilidade serão fatores chave para construir um ambiente de trabalho mais justo, inclusivo e preparado para os desafios que se avizinham!
Quero acreditar que o futuro da Gestão de Recursos Humanos será marcado pela integração harmoniosa entre tecnologia e humanidade, onde a IA apoia decisões informadas e justas, enquanto os profissionais mantêm o foco no desenvolvimento integral das pessoas e no fortalecimento das suas carreiras. A capacidade de adaptação, ética e formação contínua será a chave para navegar nesta nova era, onde a formação ética e o compromisso com o valor humano serão cruciais para garantir que a IA seja uma aliada no percurso profissional e não uma ameaça. Estamos perante um cenário de transformação, em que o sucesso dependerá da capacidade das organizações e das suas pessoas/decisores em combinar inovação tecnológica com sensibilidade e responsabilidade social.