Soflusa promete soluções para constrangimentos de circulação que têm ocorrido ao longo das duas últimas semanas. Utentes perspectivam uma crise sem precedentes no transporte público fluvial
A Soflusa anuncia a contratação de quatro novos mestres de embarcação para resolver os constrangimentos registados nas últimas semanas. Utentes consideram que é pouco e avançam que a empresa precisa contratar os serviços de mais uma embarcação com urgência.
Após reunião realizada ontem com a administração da Soflusa, a deputada do Bloco de Esquerda, Joana Mortágua, declarou a O SETUBALENSE-DIÁRIO DA REGIÃO que a empresa “garantiu a contratação de quatro novos mestres de embarcações até ao Verão e estão ser preparados planos de contingência para evitar que, até à conclusão do processo, voltem a ocorrer situações com as do dia 10 de Maio”. Um anúncio que já havia sido veiculado pelo Secretário de Estado Adjunto e da Mobilidade.
Apesar da intenção da empresa, a deputada afirma que, “a situação da Soflusa, até ao momento, é basicamente a mesma que na semana anterior”. Uma situação que, no parecer da deputada se deve a “investimentos feitos a ‘conta-gotas’ pelo Governo, com um concurso para renovar a frota da Transtejo-Soflusa que estará apenas concluído em 2023”, quando o passe Navegante entrou em vigor agora.
Quase dois meses depois da revolução social do Navegante, Joana Mortágua, confirma que, “nenhum operador de transporte da Área Metropolitana de Lisboa realizou, até ao momento, o desdobramento de carreiras previsto, para responder à maior afluência de utentes. Apenas a TST aumentou a circulação de carreiras em alguns períodos”.
Recorde-se que, no âmbito da Estratégia Nacional para a Mobilidade Activa, apresentada a 28 de Março, pelo Governo, no Barreiro, está previsto o aumento até 30% da cobertura transportes públicos dentro da Área Metropolitana de Lisboa. Uma meta que se perspectiva alcançar até 2020, no sentido de complementar a entrada em vigor do passe social Navegante.
Utentes duvidam de soluções apresentadas
Sobre o anúncio de contratação de quatro novos mestres, José Encarnação, da Comissão de Utentes dos Serviços Públicos do Barreiro (CUSPAS), vem contrapor a informação veiculada pela Soflusa ao Bloco de Esquerda.
“Durante a última reunião que tivemos com a empresa, no dia 17 de Maio, fomos informados por Marina Ferreira, presidente do Conselho de Administração da Transtejo – Soflusa, que a empresa iria, de facto, ter quatro novos mestres, recorrendo à promoção de quatro marinheiros”, explica o dirigente. Após esta reorganização interna, a empresa abrirá então concurso para “a contratação de apenas dois marinheiros”.
Quanto à possibilidade de a Transtejo-Soflusa ter novas embarcações, José Encarnação confirma que haverá uma renovação de frota, mas apenas direccionada para a Transtejo. “Uma decisão do Governo, devido à situação da Transtejo ser, aparentemente, mais grave que a da Soflusa. Ainda assim, as embarcações prometidas estarão disponíveis apenas daqui a alguns anos, deixando os utentes sem resposta até lá”.
“Não podemos culpar o Navegante”
Com um aumento de 7% na afluência de passageiros a utilizar os serviços da Soflusa, José Encarnação destaca que, “não podemos estar sempre a culpar o Navegante”.
À semelhança de Joana Mortágua, também José Encarnação considera o novo passe social como “uma excelente medida”. Contudo, na sua opinião, “seria de esperar que, com a implementação desta medida, a afluência de passageiros aumentasse consideravelmente. O Governo deveria ter despertado antes para a situação dos transportes públicos e reforçado as condições para o desdobramento das frotas”.
Sobre esta situação José Encarnação reflecte, “vem aí Julho e o passe familiar vai entrar em vigor. Nesse momento sim, estaremos com a nossa capacidade de transportes completamente esgotada”.
Greve na Soflusa regressa
Os mestres da Soflusa voltam a entrar em greve hoje e amanhã. A greve será parcial, com três horas de paragem por turno. Em reivindicação mantém-se a contratação de novos profissionais.
Estes trabalhadores já se encontram a fazer uma greve às horas extraordinárias, no entanto, devido à “falta de profissionais” na Soflusa e aos “constrangimentos” associados, decidiram levar o movimento mais longe e paralisar até sexta-feira, segundo informa Carlos Costa da Fectrans – Federação dos Sindicatos de Transportes e Comunicações.
Relatório de fiscalização ignorado
Em Abril de 2018, um relatório de fiscalização produzido pela Autoridade da Mobilidade e dos Transportes, apontava que na Soflusa a relação entre a falta de embarcações e a falta de pessoal já era preocupante. Assim como a situação dos pontões, a necessitar de melhoramentos.
O relatório a que O SETUBALENSE-DIÁRIO DA REGIÃO teve acesso indica que a Soflusa está a operar com oito navios, sendo que apenas seis são mantidos em circulação permanente. Quanto a operacionais a empresa precisaria de 21 mestres para manter a circulação regular de carreiras nos horários previstos.
Actualmente, a Soflusa conta apenas com 16 mestres e 3 encontram-se em situação de baixa médica.