“O apagão de abril mostrou-nos que há vida (e trabalho) para lá da conectividade permanente.”
O apagão elétrico que Portugal viveu no dia 28 de abril de 2025, teve impactos evidentes: empresas paradas, serviços interrompidos, e emergiu a dependência excessiva dos sistemas digitais exposta à luz do dia. Mas, enquanto profissional de Recursos Humanos, vejo nesta crise técnica uma oportunidade para repensarmos práticas e políticas no seio das organizações.
Privados da conectividade, muitos trabalhadores libertaram-se da pressão constante e puderam reencontrar tempo para estar com a família e reconectar-se com a sua esfera pessoal. Foi um vislumbre claro do que significa, na prática, promover a conciliação entre a vida profissional e pessoal — um dos pilares que deve orientar as políticas de RH no futuro imediato.
Além disso, este episódio revelou como a desconexão digital forçada permitiu recuperar o contacto humano direto, reduzir a sobrecarga informacional e aliviar o stress, um dos grandes desafios na prevenção do burnout.
Deste prisma, lições concretas para os gestores de pessoas devem ser consideradas, tais como:
– Flexibilização efetiva dos horários e modelos híbridos, adaptados às necessidades individuais e familiares;
– Políticas estruturadas de desconexão digital, com tempos protegidos de silêncio comunicacional, entre trabalhador e organização;
– Valorização do contacto humano presencial, criando espaços para relações interpessoais autênticas;
– Programas de desenvolvimento de competências emocionais e gestão da incerteza, essenciais para preparar equipas para reagirem com resiliência e evitar comportamentos ansiosos ou disfuncionais em cenários de crise.
O comportamento social registado com picos de consumo irracional e corrida aos bens essenciais é um alerta claro de que a literacia emocional, a cultura de resiliência e a preocupação com os outros precisam de ser reforçadas também em contexto organizacional.
Se quisermos retirar as devidas aprendizagens deste episódio, temos aqui uma oportunidade para reconfigurar o modelo de trabalho dominante, tal e qual como havíamos efetuado na pandemia Covid-19, sendo menos dependente da hiperconectividade, mais flexíveis, mais saudáveis e sobretudo mais humanos.
É tempo de as organizações assumirem a liderança nesta transformação, promovendo não apenas eficiência e produtividade, mas também equilíbrio, saúde emocional e coesão social. Precisamos de um modelo de trabalho mais equilibrado e mais humano.
O apagão de abril foi um alerta! A verdadeira luz que precisamos de acender agora, são as políticas laborais mais conscientes, que devolvam tempo às pessoas, reforcem as relações humanas e preparem equipas para enfrentar desafios com resiliência e solidariedade.
Porque, no final, as empresas são feitas de pessoas e é na energia humana que reside o verdadeiro motor das organizações e não entre cabos!