Campanha quer atingir 12.500 euros para reparar a tela do setubalense Vieira Lusitano que está no altar-mor da Igreja de S. Sebastião
Os Amigos da Paróquia de S. Sebastião lançaram uma campanha para angariar 12.500 euros com vista à restauração da tela “A Distribuição dos Rosários”, atribuída ao pintor setubalense Vieira Lusitano. A obra, de grandes dimensões, encontra-se no altar-mor da Igreja de S. Sebastião.
Para isso, o grupo criou, em parceria com a paróquia, uma réplica de 1,80 metros fragmentada em múltiplas partes que por cada donativo – de cinco euros – vão sendo reveladas com peças de puzzle. Assim que se atingir o valor pretendido o puzzle fica completo o que significa o início do restauro, tal como afirma António Melo, promotor e membro dos Amigos da Paróquia de S. Sebastião em declarações a O SETUBALENSE. “Estamos a fazer um puzzle e, à medida que a comunidade setubalense participa com a compra das peças, vamos completando-o. Quando estiver completo, teremos o valor para o restauro. Isto não é um esforço de um só grupo, mas de toda a comunidade”.
Também o pintor setubalense Rogério Chora associou-se ao esforço de recuperação da tela, oferecendo o seu contributo artístico à causa. Para apoiar esta iniciativa, o artista entregou aos Amigos da Paróquia 100 litografias da sua obra “Barcos do Sado”, cuja venda reverte na totalidade para os trabalhos de restauro da pintura sacra. Cada exemplar será vendido pelo valor de 50 euros, entregue com certificado autenticado e assinado pelo artista, podendo ser adquirido através do contacto com a Paróquia de S. Sebastião.
O pároco de S. Sebastião, o Padre Casimiro Henriques, reforça o valor patrimonial da obra. “Olhamos para aquilo e achamos que é uma tábua que está presa à parede, mas efectivamente é um conjunto de esculturas que depois são anexadas. É uma verdadeira construção arquitectónica e também foi projectada para isso, para ser uma escultura monumental. Ela está numa calha, que entra e sai e, portanto, vem à boca do trono e sai quando é necessário – para descobrir e para fechar o trono – quando a comunidade assim o entende”, diz o também membro do Conselho Presbiteral da Diocese de Setúbal.
Considerada uma das maiores pinturas da cidade, e de autoria de um pintor sadino, a tela do retábulo da capela-mor tem-se degradado de ano para ano, ainda que tenha sido alvo de alguns restauros, estes foram pouco cuidados – o que obriga a uma intervenção para salvaguarda da sua integridade –, tal como esclarece o Padre Casimiro Henriques.
“É a obra de maior expressão na nossa igreja e está em mau estado. Precisamos de um restauro sério e profissional para evitar danos irreparáveis. Se não intervirmos agora, talvez não seja possível recuperar a pintura na sua totalidade”.
O pároco conclui que esta é uma das maiores obras do concelho de Setúbal. “Creio que esta até será a maior pintura da cidade. Mas acredito que, se não for a maior, está entre as maiores”. Apesar de a obra ser atribuída a Vieira Lusitano existem historiadores que apontam a possibilidade de esta ter sido feita por Pedro Alexandrino, também nascido em Setúbal.
Sabe-se que o restauro está estimado em cerca de 13 mil euros. “Já temos a empresa seleccionada. A escolha não se baseou apenas no preço, mas sobretudo nos princípios de restauro defendidos em cada proposta. Optámos pela que nos pareceu mais coerente com as necessidades da obra”, explica o padre.
Igreja tem sido alvo de vários trabalhos de restauro
Considerada Imóvel de Interesse Público, a Igreja de S. Sebastião, situada no Bairro de São Domingos, não deixa ninguém indiferente ao seu interior em estilo rococó e neoclássico. Tendo resistido ao terramoto de 1755, e passados 472 anos, a igreja tem requerido restauros constantes e custosos, que têm sido realizados por meio das várias iniciativas organizadas pelos Amigos da Paróquia de S. Sebastião nos últimos sete anos.
António e Isabel Melo, membros do grupo de amigos, elucidam que esta “é uma igreja antiquíssima na cidade, mas precisa de muita recuperação”. “É uma vantagem termos uma igreja enorme, mas também é um desafio. Está inserida neste programa de recuperação do património iniciado há sete anos”. E, agora, chegou a vez da grande tela do altar-mor.