Criar habitação de rendas baixas no concelho é uma das prioridades de Paulo Silva. Lamenta que o Governo não assuma este compromisso
O comunista Paulo Silva gere há três anos a Câmara Municipal do Seixal, tendo substituído neste mandato o também comunista Joaquim Santos, que deixou a presidência. Para continuar a liderar a autarquia, a CDU deu-lhe a confiança de ser o candidato cabeça de lista às autárquicas 2025.
“Tem sido muito positivo todo o apoio que tenho recebido da população do concelho do Seixal desde o momento em que foi anunciada a minha candidatura, tem sido muito estimulante”, afirma Paulo Silva, acrescentando que alguns destes apoios vêm “dos mais variados quadrantes políticos”.
É também por isso que afirma que o “projecto da CDU deve continuar porque temos vindo a trabalhar e a resolver problemas”.
Considera que a sua candidatura, decidida pela CDU, à presidência da Câmara Municipal do Seixal, é uma continuidade natural?
Sim. É uma continuidade natural face ao trabalho que tem vindo a ser desenvolvido nestes quase três anos que levo como presidente da Câmara Municipal. Têm sido três anos em que temos mantido o trabalho de desenvolvimento do concelho do Seixal e, para mim, também de muita aprendizagem.
Apesar de ser natural do concelho do Seixal e de o conhecer muito bem, as funções de presidente são sempre diferentes. Foram anos de aprendizagem e sinto-me hoje mais capacitado para o exercício destas funções do que quando as comecei a exercer. E, é sem dúvida, um voto de confiança do meu partido na forma como tenho exercido este mandato que tem continuado o grande trabalho de desenvolvimento que a CDU tem feito no concelho do Seixal, e que nestes 50 anos depois do 25 de Abril, transformaram este concelho, que era um dos mais atrasados do País, num dos concelhos mais desenvolvidos.
Hoje, é um exemplo de desenvolvimento, o que demonstra a nossa capacidade de trabalho. Enquanto a média de execução do PRR na Área Metropolitana de Lisboa está em 26.9%, no concelho do Seixal está em 48.8%. Somos o concelho com maior execução, isto resulta do nosso trabalho.
Portanto, a CDU continua a ter competência para gerir o concelho do Seixal.
A CDU é a força política mais bem posicionada e aquela que melhor conhece o concelho do Seixal, sabemos o quererem as suas gentes e o modo como resolver as suas necessidades.
Caso não consiga a maioria absoluta considera a possibilidade de fazer uma aliança pós-eleitoral?
Se não conseguirmos a maioria absoluta vamos ver a maneira de conseguirmos que a Câmara seja governável. É uma situação que teremos de analisar. Estou convicto de que, pelo trabalho realizado, pela obra feita e por todo o feedback que tem vindo da população, não só vamos ganhar como vamos conseguir a maioria absoluta.
O PS acusa a gestão CDU na Câmara do Seixal de falta de planeamento estratégico. Como comenta esta crítica?
Comento essa crítica como outras do PS que foram buscar a um manual de candidatos autarcas. Foram buscar chavões e vão mandando para o ar, porque depois nada concretizam
É falta de planeamento estratégico como? Somos o concelho que mais está a apostar no desenvolvimento no parque escolar. Somos aquele que mais está a atrair empresas para o seu concelho, como é o caso da Hovione e da Siemens. Somos o concelho que mais está a crescer, portanto, nós temos planeamento estratégico e excelentes técnicos na câmara a fazer esse planeamento estratégico. Os factos e o desenvolvimento do concelho falam por si. O desenvolvimento estratégico está a ser feito desde o 25 de Abril.
Nestes três anos de mandato conseguiu atingir os objectivos a que se propôs?
Gostaria de ter conseguido construir a alternativa à Estrada Nacional 10, mas, infelizmente, por questões externas à Câmara Municipal, não conseguimos avançar com ela, falta-nos ainda os pareceres da Agência Portuguesa do Ambiente e da Comissão de Coordenação e Desenvolvimento Regional para conseguirmos avançar com essa obra estratégica. Ainda em termos de mobilidade, espero que consigamos concretizar a variante do Fogueteiro, para que quem sai da auto-estrada ou vem de Fernão Ferro e quer ir para a Torre da Marinha, Paio Pires, Arrentela ou Seixal não tenha que ir à rotunda do Fogueteiro.
Na educação estamos a avançar com um plano muito elevado de concretização de escolas. Pretendia ainda que o hospital do Seixal, não sendo uma obra da responsabilidade da Câmara Municipal, tivesse dado passos mais importantes e que a construção tivesse avançado.
Esperava também que houvesse financiamento para avançar com a requalificação nas escolas do segundo e terceiro ciclo e secundárias, bem como para a construção da escola de segundo e terceiro ciclo e secundário de Fernão Ferro, mas, não houve o financiamento que o Governo estava obrigado a dar e, por isso, as obras não avançaram.
São tudo obras que, eu espero que no próximo mandato, consigam ser concretizadas, sendo certo que vamos continuar, sem dúvida, a avançar com aquelas que a Câmara Municipal se propôs e que estamos a começar como é o caso do Centro de Saúde de Paio Pires, o Centro de Saúde de Foros de Amora, o Lar de Fernão Ferro, o Lar de Casal do Marco, o Lar de Idosos de Pinhal de Frades. Refiro ainda a rede de creches, que vai ser a melhor da Área Metropolitana de Lisboa. Portanto, há todo um conjunto de investimentos que estamos a começar e que iremos concretizar no próximo mandato.
No sector da habitação, depois dos realojamentos como o de Vale de Chícharos, o que falta ainda fazer?
Foi Vale de Chícharos e Rio Judeu, além da primeira fase de Santa Marta, num processo considerado exemplar em que não avançámos com a construção de novos bairros porque consideramos que há uma guetização dos bairros e isso é sempre uma caracterização negativa.
Não nos interessa apenas fazer o realojamento, pretendemos também promover a necessária coesão social das famílias a realojar, e estamos a conseguir esses objectivos. As queixas que temos, depois de quase 300 famílias realojadas, contam-se pelos dedos das mãos, e sobram dedos.
Mas, no plano dos realojamentos, ainda há muito trabalho a fazer, não avançámos mais por culta da administração central que não teve a mesma celeridade no trabalho que tem a Câmara Municipal do Seixal. Em Vale de Chichas só conseguimos avançar porque fomos buscar 20 milhões de euros previstos para outras obras, porque se parássemos o realojamento a meio, perdia-se todo o trabalho feito até então.
Já se referiu à Hovione e à Siemens. Como está a evoluir a economia local no Seixal?
Somos o concelho da Península de Setúbal onde estão constituídas mais empresas e onde são criados mais postos de trabalho, isto demonstra, sem dúvida, a dinâmica do município, a maior da Península de Setúbal; uma dinâmica que é transversal e, como costumo dizer, os nossos empresários são parte fundamental neste crescimento, desenvolvimento económico e atractividade que o concelho tem. As empresas sabem que têm uma câmara com grande dinâmica e que aqui os projectos andam mais rapidamente.
Quando olha para a Baía do Seixal, que futuro vê?
A Baía, antes do 25 de Abril de 1974, era para onde iam todos os esgotos do concelho do Seixal, sem qualquer tratamento. Eu que nasci no concelho, e aqui cresci, lembro-me bem desses tempos. Entretanto, o grande trabalho feito, permitiu o tratamento dos esgotos e que não fossem para a Baía, isto fez dela o nosso ex-libris, com grande potencial de desenvolvimento, não só ao nível de desportos náuticos como também a nível do turismo.
Tendo em conta tantos impasses, durante anos, se um dia um governo lhe disser que o hospital do Seixal não vai avançar, como reage?
Vamos continuar a lutar até que seja concretizado. Nunca iremos baixar-os-braços. Lembro que o Centro de Saúde de Paio Pires, reivindicado pela população durante mais de 40 anos, apesar de sucessivos governos dizerem que não iria avançar, neste mandato conseguimos levar a reunião de câmara o processo de concurso público para a adjudicação da obra.
Portanto, se for preciso, vamos continuar a lutar até que o hospital do Seixal seja uma realidade. Não tenho dúvidas disso. Eu costumo dizer que a população do concelho do Seixal é moldada pelo aço da sua Siderurgia, mais vale quebrar do que torcer. Tenho a certeza de que, mais ano menos ano, vamos ganhar a luta pelo hospital, por mais teimosa que seja a administração central.
Que propostas, prioritárias, vai apresentar à população para o próximo mandato?
Por um lado, concretizarmos e terminarmos as obras que estamos a iniciar, como a construção das escolas de primeiro ciclo e jardim de infância, de modo a conseguirmos terminar com o turno duplo e que todas as crianças do concelho tenham acesso ao jardim de infância a partir dos três anos, esta é uma das grandes prioridades em que estamos a trabalhar.
Portanto, vamos avançar com a construção de quatro novas escolas no imediato mais um Jardim de infância, além da requalificação e ampliação de outras e estamos já a preparar um segundo conjunto de escolas a construir para que este objectivo seja concretizado no próximo mandato.
Segundo aspecto: iniciar a rede de creches, algumas já estão a funcionar como a do Caracol, nas Paivas. As outras vão começar também em breve para ficarmos com uma rede de creches que garantam que todas as crianças do concelho tenham lugar numa creche da rede social, gratuita. A questão das creches é do mais importante para o crescimento do concelho do Seixal, é fundamental para a natalidade. O grande problema que se coloca aos jovens que querem ser pais é, quando acaba a licença de maternidade, onde vão ficar os filhos, por isso temos de ter uma boa rede de creche para lhes dar segurança.
É isso que vamos fazer com a construção de novas creches na Torre da Marinha, Pinhal de Frades, Pinhal do General, Paio Pires, Pinhal Conde da Cunha, Miratejo, Fogueteiro e Paivas. Com estas, a acrescentarem às já existentes, vamos ficar com a melhor rede de creches da Área Metropolitana de Lisboa.
Quanto aos lares, já temos dois em construção duplicando a oferta de lares existentes no concelho. Um deles vai ser inaugurado muito brevemente, outro até ao final do ano, e outro vai começar a ser construído em Pinhal de Frades, e vamos construir um em Corroios.
Entretanto, estamos a construir as novas instalações da Associação de Paralisia Cerebral de Almada Seixal, também as novas instalações da Associação Nacional de Pais e Amigos Rett, a requalificação, ampliação da Cercisa também para a deficiência ter respostas condignas aqui no concelho do Seixal, um concelho para todos e ninguém pode ficar para trás.
Vamos ainda concluir centros e saúde. O de Paio Pires e o dos Foros da Amora. Temos que resolver o de Rosinha, e Pinhal de Frades e a ampliação do de Fernão Ferro em que já temos já um protocolo com a unidade local de saúde: a Câmara Municipal paga 50% e a unidade local de saúde paga outros 50%.
Outro dos compromissos é para com a mobilidade, é o caso da alternativa à Estrada Nacional 10 e o novo acesso à auto-estrada nos Foros da Amora. Também o do Metro Sul do Tejo [MST] para desenvolvermos ainda mais o Arco Ribeirinho Sul atraindo mais empresas e criar mais emprego. Não é compreensível que, por 1,8 quilómetros, o MST não chegue à estação de Foros de Amora quando há espaço canal para isso. Esta extensão iria servir mais 50 mil pessoas.
Outro programa que considero muito importante é o da habitação. Temos que trabalhar para haver habitação acessível a preços que a classe média e baixa consiga pagar, esta é uma das grandes lacunas do País. Com os ordenados baixos que são pagos em Portugal, quem ganha o ordenado mínimo não consegue pagar rendas de 1 100 euros.
Tem de ser o Estado a fomentar habitação com rendas que sejam compatíveis com os ordenados baixos. No concelho há terrenos de propriedade do município e outros do Estado, onde pode ser feita construção. Fracções de 120 mil euros é possível construir sem impostos, sem taxas, isto dividido por quarenta anos, dá três mil euros por ano, ou seja, 250 euros por mês para amortizar o valor do empréstimo, mais o valor do juro, assim se consegue fazer rendas acessíveis. 250 euros para amortização.
É preciso criar um parque público habitacional, basta haver vontade política. Nós temos as propostas, nós temos a vontade, nós temos a capacidade de fazer isso, agora, é preciso que o Governo tenha igual vontade para trabalhar connosco e criarmos esse parque habitacional. Por outro lado, ao criarmos este parque com rendas que as pessoas podem pagar, os privados vão acabar por baixar as rendas porque passa a haver menos procura.
Temos que trabalhar para resolvermos o problema da habitação. É isso que vamos continuar a fazer no próximo mandato: Resolvermos as questões da habitação.
Área da antiga Siderurgia Nacional é para instalar empresas
O candidato da CDU não quer a antiga unidade industrial do concelho votada à especulação imobiliária
Para os espaços no Arco Ribeirinho Sul onde antes funcionaram unidades industriais “fomos o único concelho a defender que estes devem ser unicamente para a instalação de empresas e não para a habitação”, vinca Paulo Silva. Para o candidato comunista, estas zonas não devem ser alvo de especulação imobiliária, mas sim ser usadas para a instalação de “mais empresas nos concelhos”, e criar mais postos de trabalho.
“Temos outras zonas onde se pode haver construção. Não queremos que isso aconteça na antiga zona da Siderurgia Nacional”, reafirma.
O seu foco é “continuar o desenvolvimento do concelho, criando mais emprego para serem cada vez mais os habitantes do Seixal a trabalharem no concelho”.