João Afonso: “Iremos ter na Câmara ou um presidente permeável aos conflitos de interesses e à corrupção ou um funcionário do partido”

João Afonso: “Iremos ter na Câmara ou um presidente permeável aos conflitos de interesses e à corrupção ou um funcionário do partido”

João Afonso: “Iremos ter na Câmara ou um presidente permeável aos conflitos de interesses e à corrupção ou um funcionário do partido”

O montijense explica as razões que o levaram a renunciar à candidatura à presidência da Câmara do Montijo. Culpa Luís Montenegro e diz que o futuro não augura nada de bom para o município. E garante que não vai candidatar-se como independente nem por outro partido

Triste e magoado com o PSD. É assim que João Afonso, vereador eleito pelo partido na Câmara do Montijo, se diz sentir, depois de ter decidido este sábado saltar fora da corrida pela presidência da autarquia nas próximas eleições, na sequência daquilo que entendeu ser um ultimato lançado por Luís Montenegro.

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Qual foi a razão para se retirar da corrida, depois do seu nome ter sido aprovado pelo Congresso Nacional do PSD, em 2022, e este ano pela estrutura local e pela estrutura distrital do partido?
Não estava no meu horizonte, nem nos cenários mais pessimistas. Fui confrontado com uma decisão do presidente do PSD, Luís Montenegro. Foi-me transmitido pelo presidente da Comissão Política Distrital de Setúbal, Paulo Ribeiro, que o meu nome tinha sido retirado da aprovação dos cabeças-de-lista às autárquicas que foi feita na reunião da Comissão Política Nacional de 11 de Fevereiro (terça-feira). Foi no dia após a notícia de O SETUBALENSE em que pedi a demissão da ministra da Saúde, em determinadas circunstâncias.
Na segunda-feira da semana seguinte [17 de Fevereiro], soube, através de Paulo Ribeiro, que o presidente do PSD tinha ficado bastante desagradado com a minha posição política, pública, sobre a ministra da Saúde e que, em resultado disso, retirou o meu nome da aprovação. Portanto, o meu processo de aprovação estaria suspenso, não saberia se seria aprovado na próxima reunião da Comissão Política Nacional ou não. E acrescentou que eu teria de comportar-me bem, digamos assim, não poderia continuar a ter as opiniões críticas sobre a ministra e a política da Saúde, sob pena de o meu nome ser definitivamente retirado do processo eleitoral autárquico.

Mas pediram para retractar-se?
Pediram, não de uma forma, digamos, totalmente expressa, mas foi isso que me pediram. Eu tinha de deixar de fazer comentários, teria de apoiar as posições da ministra e do Governo. E eu disse ao presidente da distrital que ele estava à procura de um candidato, que não era eu, seguramente, de uma personalidade diferente da minha, porque eu estou aqui para defender os interesses da minha comunidade. Quando há conflito de interesses, entre os interesses da comunidade e os interesses do partido, para mim têm de prevalecer os interesses da comunidade.
Eu não tenho esse perfil, não me iria retractar, não iria dar o dito por não dito e não iria deixar de dizer que o PSD e os seus ministros têm de ter uma maior exigência. Nós temos de ter uma maior exigência com esses ministros e com esses governantes do que tivemos até com os ministros do PS, esta é a minha posição.
O litígio com o presidente do PSD e primeiro-ministro resultou de eles acharem que nós podemos fazer umas criticazinhas baixinhas, pequeninas, mas nunca para lá disso. Achei que me estava a fazer um ultimato e disse presidente da distrital, Paulo Ribeiro, logo nesse dia, que ele devia começar a preparar um plano B para o Montijo, porque eu não iria reflectir, não iria retroceder na minha posição relativamente à ministra e sobre as posições normais que tenho sobre o partido e a governação, porque acho que é assim que tem de ser, nós temos de sermos livres, o PSD é um partido livre.

Por que não esperou para ver como iria a estrutura nacional decidir na próxima reunião de aprovação de candidatos?
Porque eu, dos vários contactos que fiz internamente, percebi que a posição do partido era aquela, que não iria mudar. Eu não poderia estar numa situação de limbo, à espera que o partido entendesse se eu poderia ser candidato ou não, senti isso como uma injustiça profunda. Achei que, atendendo ao trabalho que temos feito no Montijo ao longo destes anos, colocar-me no banco dos réus foi uma decisão profundamente injusta.

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Sente-se mais traído, mais magoado ou arrependido?
Mais magoado. O meu sentimento foi mesmo de tristeza e sinto-me magoado. Acho que o partido não devia ter feito isto, acho que foi uma injustiça para os militantes, para os dirigentes, para comigo, mas principalmente para com os montijenses. Achei absolutamente inqualificável.

Se pudesse voltar atrás, não pediria demissão da ministra da Saúde?
Não. Mantenho a mesma posição. Aliás, se as pessoas verificarem a última sessão da Assembleia Municipal, fui confrontado com essas declarações por parte do Partido Socialista e mantive a mesma posição.
Estar num partido é um acto de liberdade, não tem fe ser um acto de carneirismo. As pessoas que são líderes locais nas cidades, como o Montijo, que têm a capacidade de pensar, de reflectir, que são críticas de boa fé do partido e que assumem uma intransigente defesa da sua comunidade, devem ser acarinhadas e devem progredir. Fico absolutamente impressionado como as pessoas como eu são ostracizadas dentro do partido, penalizadas dentro do partido, por razões meramente de opinião, quando não tenho nenhuma contingência legal, criminal ou outra. Sobre mim não paira qualquer tipo de suspeita, sobre nós no Montijo, não paira qualquer tipo de suspeita de conflito de interesses ou de ilegalidade ou corrupção. E depois vejo no partido manterem-se pessoas com esse perfil e com essas condições até ao último dos dias, até o último momento. Portanto, não me arrependo daquilo que disse, voltaria a dizer exactamente a mesma coisa.

Vai cumprir o mandato de vereador na Câmara do Montijo até ao fim?
Vou.

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E vai desfiliar-se do PSD?
Não vou desfiliar-me, vou manter-me filiado, pelo menos, até ao final do mandato.

A decisão de não se candidatar é irreversível?
Está tomada, está fechado o assunto.

Pondera a candidatar-se como independente?
Não, garantidamente.

E se lhe aparecer um outro partido que lance um repto para ser cabeça-de-lista nestas eleições autárquicas, admite ponderar?
Não.

Nem mesmo se for o Chega?
O Chega, há uns meses, abordou-me para ser candidato pelo partido no Montijo. Há uns meses, largos. Cerca de um ano, provavelmente. O tempo passa depressa, mas penso que não tem um ano. Mas recusei. Não tenho o perfil de passar de uma cama para a outra na mesma noite. Não tenho esse perfil. Não é algo que me entusiasme. E, portanto, essa situação está completamente afastada.

Qual vai ser o seu futuro político? Vai andar por aí?
Vou andar por aí. Vou manter-me este tempo como vereador e vou manter a mesma postura. Antes do final do mandato, não irei tomar nenhuma posição definitiva sobre o meu futuro político. Vou manter-me calmo e sereno. Saí deste processo com tristeza, sinto-me magoado com o partido… Mas, acho que saí com dignidade, de cabeça levantada. Percebo que o partido estava à espera que eu me dobrasse, mas não me dobrei. Mais vale quebrar do que dobrar, como diz o povo. E acho que mantenho o meu capital político isento. Ainda sou uma pessoa com muitos anos pela frente. Não sou um jovem, mas sou relativamente jovem para a política, seguramente. E não fecho nenhuma porta.

O que quer dizer quando afirma que não fecha nenhuma porta?
Quer dizer que vou reanalisar a minha situação após as eleições autárquicas. Até lá, não vou tomar nenhuma posição política, a não ser manter o meu mandato até ao fim.

Mantendo-se no PSD?
Mantendo-me no PSD. Luís Montenegro teve uma divergência comigo, não fui eu que tive com ele. Mas o PSD não é só Luís Montenegro.

Mas admite continuar no partido depois das autárquicas?
Vou analisar. Eu não estava à espera desta situação. Fui apanhado um pouco de surpresa com este enorme problema que nos criaram aqui. A nós, ao PSD, a mim e aos montijenses. Agora terei de refletir melhor. Tenho de reanalisar as coisas com calma.

Quem poderá ser um bom candidato em vez de João Afonso pelo PSD à Câmara do Montijo?
Essa é uma pergunta que tem de fazer a Luís Montenegro.

Em quem irá votar nas próximas autárquicas no Montijo?
Sou sempre leal ao partido. O facto de fazer críticas não quer dizer que eu não seja leal ao partido. Acho que as pessoas confundem isso e muitas vezes os partidos confundem esses dois planos. Mas, estou curioso para ver qual é o candidato que o partido vai apresentar. Espero que apresente uma pessoa digna, que seja respeitável na comunidade e que não seja alguém que defende o partido e não defende a comunidade. Reservo o meu direito de ver que pessoa e que perfil eles trazem para aqui.
Acho que todos os partidos têm de repensar muito bem o que andam a fazer. Têm de perceber que têm de aumentar a qualidade política dos seus quadros. Esta situação é um exemplo claro de qual é a mentalidade dos dirigentes nacionais. Os dirigentes nacionais estão habituados a que as pessoas lutem pelas presidências de Câmara por todos os meios, porque os fins justificam os meios. Não estão habituados a que haja verticalidade na política. Se continuarmos a ter a indigência que temos de quadros nos partidos, em todos os partidos, e neste caso no PSD, se continuarmos a ter a indigência de candidatos autárquicos, o caminho será muito difícil daqui para a frente.
Se olharmos, por exemplo, para o cenário autárquico do Montijo, vamos provavelmente ter ou um presidente da Câmara permeável aos conflitos de interesses e à corrupção ou um presidente da Câmara funcionário do partido. É o que provavelmente iremos ter pela frente.
Ao terem-me atacado e colocado no banco dos réus, esperando que eu me tornasse num dos muitos serviçais que o partido tem, desiludiram profundamente os montijenses e prejudicaram muito a qualidade da escolha que nós teremos pela frente. E acho isso absolutamente imperdoável. Luís Montenegro prejudicou muito o Montijo.

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