Retomemos aquela curiosidade, alicerçada no espanto, que já por mais de uma vez nos levou a comentar o frenesim de uma jovem mulher habitante na Baixa de Setúbal, em rigor nas entrelaçadas ruas estreitas até aos becos, Largos e Praças, que pedala a alta velocidade assustadora uma bicicleta que arruma no vão de escada, previsivelmente de rodas erguidas.
Pelo que o termo comentar corresponderá com mais rigor a desafiar, porque não nos inibimos de questioná-la bem alto, amigavelmente: “Não consegue pôr-se por uma vez à janela?”
“As janelas fazem calos nos cotovelos” – respondeu em estridente gargalhada.
A comemoração dos 166 anos d’O Setubalense, com a volumosa edição especial desse 30 de Julho, recheada de memórias e contributos para a História, ligou-nos de imediato a ela porque tudo aconteceu nesse dia.
Sabe-se da produção de um azulejo de cor branca, 15cmx15cm, sem data, de qualquer modo anos depois do 25 de Abril por iniciativa do Movimento Democrático de Mulheres, MDM, apenas com a origem de produção made in Portugal marcada em círculo no verso à volta de uma engrenagem que circunda – será então o logotipo da empresa – um pórtico de castelo.
A azul, com plantas interligadas de canto a canto e com as palavras manuscritas, a assinatura da autora sublinhada: – «A mulher que está à janela só vê os muros das casas fronteiras» Maria Lamas -, eis o chamamento a Oceana Zarco de 1925, a Setubalense primeira mulher ciclista federada em Portugal, tantas vezes ganhadora entre os homens.
Em conformidade, eis razões que nos levaram a querer travá-la numa esplanada, que saberia ela de tudo isto?
Agora vai calhar melhor, estamos no 25 com o 25 de Abril Sempre!