A Oeste tudo de novo

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A Oeste tudo de novo

10 Dezembro 2024, Terça-feira
Presidente da Juventude Socialista do Seixal

Ainda sobre a eleição de Donald Trump. Trump é, de facto, um homem quadrado e é também o próximo presidente dos EUA. Apelando aos desvalidos da vida e com um slogan simples de “fazer a América grande outra vez” esvaziou um partido Democrático que nos seus comícios ia aparecendo ao lado de grandes vedetas e celebridades e que ia atirando ao lado de questões fundamentais: o custo de vida e as extremas desigualdades na sociedade norte americana. “It’s the economy, stupid.”
Apesar do rescaldo inflacionário, Biden até vai legar uma economia relativamente sólida, com investimentos em andamento no valor de milhares de milhões de dólares e até ver com perspectivas de uma “soft landing”. Nada disto foi tema e a percepção ultrapassou a realidade. Os Democratas pareceram ignorar o assunto chave, a economia. Trump e seus acólitos vencem com uma série de slogans que espelham todo um projeto económico: “Drill, baby drill”, tarifa, “a mais bonita palavra do dicionário” e não esquecer o Elon Musk e a narrativa da desregulação… Claro, em caso de dúvida o governo é sempre o problema!
Soma-se a isto um elemento “inimigo de dentro” ligado ao discurso sobre a imigração e um discurso de protecionismo económico (de questionável eficácia) e temos a narrativa vencedora montada. E sim, na minha opinião, os americanos da classe média e trabalhadora entregaram-se ao carrasco, mas é um carrasco com um plano (ainda que mau) e uma mensagem clara, que “disparou” durante a campanha à questão certa, a incerteza económica. Em 2022, o Índice GINI (um bom medidor para a desigualdade da distribuição da riqueza de um país) dos EUA era de 41,3 o de Portugal era, em 2023, 33.7 (e eu até considero o nosso país demasiado desigual).
Há também um elemento mais sinistro no meio da simpatia de algumas massas pelo Donald Trump. Um efeito de culto de personalidade, algo como: é este o herói que vai expiar os problemas da nação. Algo de psicologia de massas, básico e tribal e neste caso a tribo é sinalizada pelo famoso chapéu vermelho “MAGA”.
Noutros tempos foi uma cor de camisa, ou uma banda no braço. Num mundo de aparente violência e de insegurança económica, as pessoas escolhem a permanência e a certeza, e isso encontram na sua nova tribo, a tribo MAGA. Novamente o indivíduo alienado procurando conforto e segurança acaba por cair nas mãos do seu carrasco.
Num mundo em que, aparentemente, não havia alternativa a um sistema democrático e liberal uma parte da esquerda passou a alimentar um discurso demasiado focado nas ditas causas fracturantes, baseado em tribalismos eleitorais (ora agora falamos para as mulheres, ora agora falamos para as pessoas racializadas, etc…).
O alarme deve soar quando as ditas forças progressistas começam a falar para os microcosmos e nichos eleitorais, ao invés de manterem um discurso transversal e universal que procure responder aos problemas da grande generalidade do eleitorado. Estas forças políticas encontram-se no caminho da irrelevância.
O tema universal e histórico que sempre vai permanecer é a forma como a riqueza é distribuída depois de criada. Os problemas da distribuição de riqueza são transversais a toda a sociedade, não olhando a credo, sexo ou cor da pele. Assim, em Portugal e no resto da Europa, cabe à esquerda apresentar um projeto capaz de colmatar as extremas desigualdades económicas e assim aumentar a prosperidade geral da população.
A esquerda social-democrata precisa de apresentar um programa económico que aumente a qualidade de vida de todos. Prosperidade partilhada. É esta a bandeira capaz de derrotar os demagogos. As famosas “guerras culturais” que tanto entretêm a ultra-direita são uma distração das questões fundamentais e por isso devem ser remetidas ao seu lugar, o caixote do lixo da história. Não devem ser alimentadas.
Quanto à democracia norte-americana… quando questionado por Elizabeth Willing Powel “Então doutor, que regime temos, uma república ou uma monarquia?” Benjamin Franklin respondeu: “Uma república, se a conseguirem manter.” As instituições norte-americanas são fortes e talvez aguentem.
Do nosso lado do oceano temos que nos preparar. Tarifas económicas, a tentativa de fragilização do Euro e da União Europeia, a admiração por Putin… Diz a história que muitas das vezes a retórica de um candidato e a práxis política divergem quando confrontados com a realidade governativa… com Trump num segundo mandato, sabemos, infelizmente, que a prática não andará muito longe da sua retórica incendiária.

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