No passado sábado, 7 de dezembro, cumpriram-se 100 anos do nascimento de Mário Soares.
A este propósito, na passada semana, a Assembleia da República (AR), mas também diversas instituições de referência no nosso país, iniciaram as comemorações do nascimento de Mário Soares, que se estenderão ao longo de um ano com diversas iniciativas a que se associarão escolas, universidades, autarquias, entre outras entidades.
Sendo a AR a casa da democracia, a casa do povo, o órgão de soberania legislativo do país, uma sessão solene reveste-se sempre de um enorme significado político e, portanto, social também.
Como deputado assisti, com grande atenção, aos discursos proferidos. Todos os partidos intervieram bem como o Presidente da Assembleia e o Presidente da República (PR) – este último, diga-se, fez questão de marcar presença em todos os momentos evocativos já referidos.
O Dr. Mário Soares foi, sem dúvida, uma figura ímpar. Isto mesmo ficou demonstrado nas intervenções dos diversos partidos. Mesmo aqueles que muitas vezes se opuseram à sua governação ou posições políticas, casos do PSD, CDS ou PCP, reconheceram a importância vital que teve em momentos decisivos para o desenvolvimento do nosso país. Desde logo, na luta pela democracia e pela liberdade – absolutamente essenciais a uma sociedade progressista e desenvolvida. Depois, pelo rasgo e firmeza em defender a integração de Portugal na Comunidade Europeia, a forma como, sendo o primeiro civil eleito PR no pós 25 de abril, aproximou o povo da Presidência da República e os equilíbrios que sempre procurou defender entre o desenvolvimento tecnológico e a sustentabilidade ambiental – como bem lembrou o PAN, participou na Cimeira da Terra em 1992 que marca o início de uma verdadeira consciência ambiental a nível global.
Conforme disse o PR, esteve e marcou tudo ou quase tudo de decisivo que aconteceu em Portugal entre a última metade do século passado e a primeira década deste século.
Se algum traço comum perpassou os diversos discursos foi o de que, como pessoa que foi, tinha virtudes e defeitos. Nada de novo, portanto. Mas onde alguns leram defeitos, incoerências, incongruências ou más avaliações, o Secretário Geral do Partido Socialista, Pedro Nuno Santos, na sua intervenção ajudou a interpretar, de forma lapidar, e cito: “o mundo mudou, nestas décadas, muito mais do que Mário Soares – e que as inflexões no seu posicionamento resultam mais dos efeitos do pêndulo da História do que de incoerências no seu pensamento”.
De facto, Mário Soares foi sempre o mesmo, lutou contra o comunismo e a presença hegemónica do Estado no pós 25 de abril como anos depois apadrinhou a chamada “geringonça” reconhecendo a importância, naquela altura, da união das esquerdas. Defendeu a Europa e a nossa pertença à União na década de 80, como se insurgiu mais tarde com a predominância neoliberal e alguns desvios do socialismo democrático a nível europeu.
No fundo, foi sempre fiel aos mesmos princípios: defesa da liberdade, da democracia, da justiça e do Estado social.
Por isto, nunca a ninguém se aplicou tão bem a jovial expressão que dá título a este texto.