Que a censura teria acabado e livres seriamos, e tudo: tudo o que pensássemos poderíamos dizer. A Democracia e a sua Liberdade o permitiam, pensava eu, frente ao Liceu Pedro Nunes em Lisboa, aos onze anos de idade, vendo a subir a Av. Pedro Alvares Cabral os manifestantes revolucionários e libertadores, ostentando cartazes e gritando Liberdade.
A vida, a sociedade e a própria Democracia, provar-me-iam que não é bem assim. Que a Liberdade plena de falar o que se pensa em Democracia, se existiu, no decorrer destas cinco décadas, foi-se perdendo no conveniente social. No filho da hipocrisia, que substituindo a mãe, por mal vista estar, sob o nome de politicamente correto, alimenta hoje outra censura, a social velada, dissimulada e sorridente. O que é curioso… ou não, é que esta mesmo, antes não existia. Estávamos todos no mesmo “barco”, o do povo e o resto, os outros, eram o sistema que nos oprimia.
Hoje, profissionalmente, criticar a entidade patronal, já não justifica despedimento, apenas impede a promoção e quem o faz, não sendo líder sindical, não chega longe. Quem critica o partido, não chega a deputado e quem critica os erros de uma Democracia imperfeita, ou tem estatuto que o permita, lembrando o sistema instituído antes dela, ou o melhor é faze-lo baixinho ou no seio da família. Ou de imediato é rotulado e vê o silêncio medroso dos que concordam, e as costas dos outros que se afastam.
É por isso, que concordando ou não com o ponto de vista, há que reconhecer a coragem de um presidente de camara, que pensa não merecer de apoio social e facilidade habitacional, quem despreza precisamente a sociedade que lhos concede. E é visto dia sim dia também, a tomar o pequeno almoço na pastelaria, antes de ir para a bicha da ação social ou no regresso, com o saco dos alimentos que recebeu, protestando por pouco ser, na esplanada da mesma pastelaria a jogar raspadinha, antes de entrar na casa que a câmara disponibilizou, com renda baixa, adaptada e justa, mas nunca paga. Pagam-na os outros, escravos da taxa de juro e indice Euribor, junto com a sua.
Ou a coragem de uma comentadora na Tv, atribuindo o aumento da violência extrema no país ao grande indice de imigrantes, nalgumas zonas das grandes cidades portuguesas. Contrariada de imediato, pois os números, não o confirmam. Como se necessário fosse, estatística alguma dizer que numa zona sem naturais, pois já se foram, os crimes se devem aos que o não são. Nos fazer querer, que naquele bairro com noventa por cento de pessoas desta ou daquela etnia, a criminalidade, a pratica os outros dez por cento. Ou que nem todos os que chegam, vêm para trabalhar. Já que atravessando oceanos ou percorrendo milhares de quilómetros, se abstêm de fazer mais cinquenta ou cem, para trabalhar a onde fazem falta, nas culturas e indústrias do interior do país. Talvez com poucas condições, ou menos bem pagos, mas preferindo eles, vagabundear pelas ruas de grandes cidades, dormir nos jardins em tendas ou nas estações do metro e comboio.
Negar tais evidências, seria o mesmo que dizer aqueles mais velhos como eu, que a violência de antigamente no Bairro Alto, entre clientes e proxenetas, nada tinha a ver com a prostituição. Nem violência no velho Casal Ventoso ou Curraleira, tinha de ver com a droga.
E atenção, não se trata de culpa! Não! Já que em Democracia a culpa nunca é das minorias, pois elas não elegem e a dita, nem sempre está no acto, mas nas condições que o permitem. E desse modo, em responsabilidade, sinto-me culpado também. O meu voto o permitiu!
E é por isso, pela idade que tenho, não ter aspirações políticas nem carreira profissional pela frente, mas principalmente a consciência, que me permito á verdade da minha opinião. Que a respeite quem achar merecer.