O presidente da direcção da Sociedade analisa o actual momento da colectividade mais antiga de Palmela, que acaba de celebrar 172 anos de vida
“Os Loureiros, apesar de não parecer, são bastante fortes: já passaram duas guerras mundiais, nove pandemias, três sistemas políticos diferentes e ainda cá andam.” A frase é de João Crespo, presidente da Sociedade Filarmónica Palmelense “Loureiros”, e resume bem a longevidade da instituição – que comemorou na passada sexta-feira 172 anos de vida –, ao mesmo tempo que deixa implícito não só a capacidade de resiliência da colectividade como também, por inerência, o peso do seu contributo para o desenvolvimento cultural local, regional e até mesmo nacional.
Em entrevista a O SETUBALENSE e à Rádio Popular FM (90.9), o responsável pela direcção analisou o actual momento da mais antiga colectividade de Palmela e revelou alguns dos projectos em vista para o futuro.
“É objectivo desta direcção retomar o grupo cénico e manter o crescimento da massa associativa. A longo-prazo é a renovação da sede, que, para ser trazida para o Século XXI, necessita de obras de fundo”, indica João Crespo, que lembra o impacto que o teatro já teve na instituição. “Fez parte de duas fases da história dos Loureiros, acabava por desenvolver a sua actividade, sobretudo, no campo da revista à portuguesa. Vinham pessoas de todas as cidades e vilas aqui à volta ver as nossas revistas, feitas apenas com a ‘prata da casa’. Tudo faremos para que o grupo cénico venha a ser uma realidade dentro em breve. O lançamento do projecto poderá ocorrer ainda dentro deste mandato”, aponta. Porém, a estreia em cena, admite, só “muito dificilmente” acontecerá no ano que falta cumprir dos dois que compõem o mandato.
A actividade da Sociedade Loureiros divide-se em três vertentes: cultura, desporto e recreio. E 2024, para trás que ficaram os constrangimentos provocados pela pandemia, tem sido “um ano de retoma sólida”, a exemplo daquilo que já sucedera em boa medida em 2023.
“Neste momento, a Banda e o Coro, que encabeçam a actividade cultural, estão numa fase de grande renovação de elementos. Na área do desporto, com actividades com mais tempo e outras mais recentes, temos tido um acréscimo de procura e temos, actualmente, cerca de 200 pessoas a praticar desporto diariamente. Procuramos ter sempre ofertas suficientes e diversificadas”, salienta.
A Banda Filarmónica, assume, “é um pilar central dos Loureiros” e conta, de momento, com “cerca de 50 elementos”. “Está numa fase de grande renovação, com bastantes jovens vindos da nossa Escola de Música. Dá-nos a noção de que o projecto vai prosseguir e de que a Banda vai continuar a ser esse pilar de uma Sociedade que já tem 172 anos e que se está a preparar para mais 172”, reforça.
A formação musical assume papel de relevo na instituição. A Escola de Música “andará à volta de 30 jovens, em fases diferentes de evolução enquanto músicos”, e o trabalho que é realizado tem um reflexo ‘palpável’. “Temos diversos músicos que tocam na nossa banda e que são músicos profissionais de bandas militares e de outro tipo de agrupamentos a nível nacional”, sublinha.
A Banda dos Loureiros está, de resto, na génese da colectividade. E é uma aposta prioritária. “Uma das principais motivações do nosso trabalho é continuar a dinamizar a nossa banda e, com isso, fazer com que a mesma possa ser um bastião de qualidade, do que de bom se faz, em termos de música para bandas em Portugal. Temos tido, ao longo da nossa história, os melhores maestros a trabalharem connosco e a comporem peças, que nos ofereceram e que foram primeiras audições nos Loureiros. Isso tem sido uma tradição, que é para manter”, afirma.
Sucesso cultural e oferta desportiva
Com cerca de 30 membros e também em fase de renovação está o Grupo Coral. “É, a par da Banda, outro pilar muito forte dentro dos Loureiros, porque já tem mais de 50 anos de história. E com uma evolução bastante relevante nos últimos anos. A nível nacional, em termos de coros amadores, podemos considerar o dos Loureiros como um coro de bom nível”, afiança.
No que toca a serviços, quer a Banda quer o Grupo Coral têm mostrado predicados de norte a sul do País. E até mesmo além-fronteiras. Em Palmela, cumpre-se um calendário de concertos fixo, a que se juntam actuações fora de portas que deixam marca.
“Recentemente, em Setembro, fomos a um encontro de bandas na Amadora e no passado dia 5 de Outubro fomos a banda convidada pelos One Vision – de tributo aos Queen – para festejar os mil concertos do grupo. A actuação foi em Lisboa, no novo espaço Music Station, e foi muito gratificante e positivo”, exemplifica o presidente da colectividade, sem deixar de vincar a actividade do Grupo Coral. “Durante todo o próximo fim-de-semana, vamos participar no encontro de coros do Algarve, em Lagos”, faz notar.
A actividade dos Loureiros vai, contudo, muito além da vertente cultural. A área desportiva é também vista com particular importância. A ginástica rítmica, com várias classes dentro da modalidade, o ballet clássico e a dança contemporânea – esta última com “grande acréscimo de procura” neste ano – são actividades que engrossam a oferta da Sociedade. Uma oferta que acaba de aumentar. “O krav maga é a nossa mais recente actividade desportiva. Começámos com aulas abertas, que vão continuar esta semana às terças e quintas-feiras para quem quiser experimentar. No próximo mês já iniciaremos as classes. Vão existir duas: uma dos 6 aos 12 anos, às terças e quintas-feiras; outra, dos 12 anos em diante, às terças, quintas e sextas-feiras”, revela, a concluir.
Os Loureiros têm actualmente cerca de 900 sócios pagantes.
Recreio Da inovação da ‘beach party’ à carolice das senhoras das Marchas
Os Loureiros apresentam ainda uma vertente recreativa, que permite a celebração de várias datas, como o Carnaval, o Dia da Mulher, o Baile da Pinha, os Santos Populares com as Marchas ou a Festa das Vindimas, entre outras. E que também conta com inovação, como a criação da ‘Palmela Beach Party’ que cumpriu este ano a 3.ª edição e que trouxe até Palmela “cerca de duas mil pessoas”. Toda esta vitalidade é colocada de pé à custa de muita entrega, de muita carolice. E não só por parte de quem integra os órgãos sociais da colectividade. “Existem os amigos dos Loureiros, alguns nem são sócios e passam horas e horas a fio a trabalhar para a colectividade, como por exemplo um conjunto de senhoras, que produzem todos os fatos das nossas Marchas. Algumas nem sócias são e passam noites a fio a trabalhar, entre Fevereiro e Junho, para termos as Marchas a sair à rua”, enaltece João Crespo.