Os incêndios florestais de 2017 foram um marco trágico na história recente de Portugal, com mais de 100 mortos e uma destruição avassaladora. Nesse ano, todo o país ficou abalado pela dimensão da catástrofe, especialmente depois das imagens de Pedrógão Grande, e a discussão que se seguiu parecia promissora, com promessas de reformas no ordenamento florestal. No entanto, seis anos depois, o que realmente mudou?
Infelizmente, muito pouco. Os incêndios de 2024 são prova disso. O centro e o norte de Portugal voltaram a ser severamente atingidos, com especial gravidade nos distritos de Aveiro, Porto e Viseu, onde milhares de hectares foram consumidos e sete pessoas morreram. Mas a ameaça do fogo não se limita ao interior rural; chega também às áreas urbanas e periurbanas, como no caso do incêndio da Amora, aqui bem próximo, que se propagou até Sesimbra. A sensação é de que as lições de 2017 foram rapidamente esquecidas.
Um dos maiores obstáculos continua a ser a fragmentação das propriedades florestais, com vastos terrenos abandonados ou de proprietários desconhecidos, que, sem gestão, se tornam perigosos, acumulando vegetação seca que alimenta os incêndios. Os especialistas defendem uma gestão integrada, com faixas de interrupção e a promoção de mosaicos agroflorestais – que combinam agricultura e floresta. Contudo, a falta de políticas públicas robustas continua a colocar Portugal numa posição de vulnerabilidade.
Recentemente, vimos o (novo) Governo centrar o discurso na punição dos culpados. Identificar e punir incendiários é importante, mas o país precisa de prevenção. Uma estratégia de longo prazo inclui a limpeza regular do mato, a promoção de espécies autóctones e o envolvimento das comunidades locais na gestão dos seus territórios. Os meios no terreno, como os bombeiros ou a proteção civil, ainda que heroicos, estão sobrecarregados. No caso do incêndio da Amora-Sesimbra, mais de 500 operacionais e cerca de 11 meios aéreos foram mobilizados, o que mostra a magnitude do esforço necessário. Por isso, sim, sem uma política de prevenção eficaz, pedimos demasiado aos nossos bombeiros.
A rentabilidade da floresta é um incentivo eficaz para a prevenção – florestas geridas com fins económicos, como a produção de madeira ou resina, obrigam a um ordenamento rigoroso e manutenção contínua, reduzindo a acumulação de material combustível. Além disso, esta abordagem gera emprego, dinamiza zonas rurais e reduz a dependência de subsídios estatais, criando um ciclo sustentável que mitiga os riscos de incêndios.
Os custos da inação são imensos. Em 2017, estima-se que os incêndios geraram prejuízos de 500 milhões de euros. Em 2024, os danos são, novamente, elevados, com hectares de florestas destruídos e vidas perdidas. Além disso, o impacto ambiental é devastador, com a destruição de biodiversidade e o aumento da erosão dos solos – agravando a suscetibilidade a futuros incêndios.
A realidade é que não podemos continuar a reagir aos incêndios apenas quando já é tarde demais. Uma gestão florestal proativa e uma verdadeira política de prevenção são essenciais para quebrar este ciclo de destruição.
A pergunta mantém-se: “quantos mais Pedrógãos?” serão necessários até que Portugal adote medidas duradouras e eficazes para proteger as suas florestas, as suas pessoas e o seu futuro?