Fernanda Silva saiu para ir trabalhar, mas, depois de ouvir as peixeiras de Sines a apregoarem a revolta militar, voltou para casa, para acompanhar na rádio
Fernanda Silva, 79 anos, compartilha as suas vivências durante o icónico 25 de Abril de 1974 em Sines. Para Fernanda, este momento marcante na história, “considerado por muitos como o momento de viragem no país”, trouxe “algumas liberdades, como por exemplo fazer convívios sem nos preocuparmos com a PIDE”, afirma com um sentimento de alívio.
Relembrando os eventos com uma clareza impressionante, Fernanda transporta-nos para o turbilhão de emoções daquele dia histórico. “Recordo-me vividamente das ruas cheias de gente, uma atmosfera carregada de esperança e ansiedade”, relata com um brilho nos olhos.
Silva testemunhou de perto a Revolução que marcaria o fim de décadas de regime ditatorial em Portugal. “Naquela manhã, misturava-se um murmúrio de conversas nervosas, era como se a cidade inteira estivesse em suspense”, descreve lembrando a incerteza que pairava no ar antes do momento decisivo.
Descobriu que estava a acontecer algo de estranho naquela manhã, pois não ouvia o mesmo movimento dos outros dias. “Estava em casa a preparar-me para ir trabalhar, quando saio de casa, e deparo-me com as peixeiras que habitualmente vendiam peixe na rua, começaram a gritar a dizer que havia uma revolução militar”, expressando um sentimento de felicidade enorme. Ao ouvir isto, e sem perceber o que estava a acontecer, Fernanda decide voltar para casa e acompanhar pela rádio o que estava a acontecer.
Sem hesitar em participar nas manifestações, junta-se aos outros corajosos cidadãos que procuravam uma mudança há muito desejada. “Foi um misto de medo e coragem. Sabíamos que estávamos a lutar por algo maior do que nós mesmos, era mais importante que as nossas próprias vidas”, afirma, lembrando-se da solidariedade palpável entre os manifestantes.
À medida que a Revolução se desenrolava, Sines transformava-se num cenário de esperança e liberdade. “Ver a bandeira actual a substituir a anterior era como testemunhar o crescimento de uma nova era”, partilha referindo-se à substituição da bandeira do Estado Novo pela Bandeira Nacional. Para Silva, o legado do 25 de Abril continua a inspirar as gerações mais jovens: “É crucial que nunca esqueçamos o preço da liberdade e que continuemos a lutar por uma sociedade justa, para não voltarmos a uma ditadura em Portugal”.
“A memória desse dia deve estar marcada na história portuguesa para que as futuras gerações compreendam a importância da democracia e valorizem sempre o direito ao voto”, conclui Fernanda com uma nota de esperança para um futuro luminoso.
Bruno Marques*
*Estudante de Jornalismo da Escola Superior de Educação do Instituto Politécnico de Setúbal (ESE-IPS)