Que a justiça criminal no nosso país não está bem, não é de hoje. Que é lenta, funciona mal, é burocrática e manipulável, faz tempo que o sabemos e suas consequências, sofrido. Que a mesma tinha que mudar, todos concordamos e governo após governo, a justiça faz pauta no programa promessa que os leva até lá. Mudar a situação, tomar medidas, melhorá-la nas suas condições, bases estruturais e humanas, quando escassas e mal pagas, é sempre intenção a cumprir. Mas, devagarinho… tão devagarinho, que faz décadas que o ouvimos dizer, sem percebermos nada mudar. Ou, muito pouco!
E nós, que temos o orgulho de viver num distrito, que tanto tem de belo, como infelizmente de pobre, com gente boa, que sempre tem sabido buscar seu trabalho, quer no campo, quer nos rios ou nas fábricas, mas que como qualquer outra, quando filha da miséria social, vulnerável se torna ao desvio. Encontrando muitas vezes no pequeno crime, roubo, trafico, ou outro qualquer, saída errada para a sobrevivência. Não precisando ser vítima ou culpado, somos muitas vezes, vizinhos e testemunhas da arbitrariedade da justiça. Do entrar com pontapé na porta, ao sair por ela algemado, frente a filhos ou pais, vizinhos ou colegas de trabalho, sendo culpado, suspeito ou apenas parecido com ele. Das lambadas no posto, quase sempre “merecidas”, ao abuso de tempo de detenção sem culpa formada, a haver. Ao esgotado e prolongado tempo preventivo, tendo o juiz nada ou pouco encontrado, recorrendo e apelando, já que a lei permite e qualquer pode fazer, se pago com o dinheiro que não tem e defendido com o advogado que o estado pagar. E esperar, mas lá dentro, pois faze-lo cá fora, no jardim da mansão, com ou sem pulseirinha e até arquivamento, já não é para todos. E todos sabemos que assim é, e que socialmente, de posses, posição e fama, estamos longe…, ó se estamos, de sermos iguais.
Mas somo-lo perante a justiça! Diz ela e diziam-no os políticos. Reconhecendo “…que pode melhorar”, mas que nela temos de confiar e tudo ia correndo bem. Isto, para eles, classe intocável, ou quando, apenas com luvas de seda e muito prurido, salvo esta ou aquela exepção flagrante demais, mas de pouco dano. E se antes, nunca o esqueçamos, parte dessa justiça, eles a faziam com a sua própria polícia e seus tribunais. Feita a revolução e instalada a Democracia e apaziguada a euforia, revelaram-se os políticos, sem mancha ou mágoa, todos honestos e íntegros e instaurando a seu jeito um regime novo, que se ia constituindo e que no percurso: dando á justiça o que é da justiça, lhe ia dando leis convenientes, governo atrás de governo. Tão distraídos que de um direito básico desse mesmo regime, se esqueceram: a liberdade de imprensa! E um dia, a casa caiu e á saída do aeroporto um ex-primeiro-ministro é preso. Os seus, criticam, os outros aplaudem, mas tremem. É que, como os jornalistas, bons como sempre os tivemos e agora livres, com mais meios e no seu papel nunca reconhecido de consciência social, investigando e revelando a verdade e impedindo-a de se esconder atrás das moitas da lei, viriam a provar, não no melhor, mas pelos vistos em todo o governo, cai a nodoa. E que se ninguém está acima da lei, de alguns, ela vinha passando ao lado.
E tal como noutros temas: subvenções, apoios e subsídios, quando juntos atacados, juntos se defendem e assim não podendo continuar, a justiça agora, á que reformar. Pois perdoem-me se quiserem, os moralistas da linguagem, mas diz o povo e muito bem: “…pimenta no cu dos outros, para mim, é refresco”, e as escutas, muito bem feitas e justas, ao traficante de droga ou de gente, vigarista ou assaltante. Quando aplicadas aos políticos ou seus benfeitores, empresários e banqueiros, passam a coisa do passado, método Pide, acto ditatorial. E todo o abuso, força excessiva, detenção ilegal, que ao comum, era comum e não passava de excesso de zelo, nem destruía carreira ou família, passa a crime, quando o sujeito é político.
E logo agora, que mesmo uns mais que outros, perante a lei, quase parecíamos iguais.