Socialista critica projecto de Catarina Marcelino, que será hoje eleita líder da concelhia. E diz-se alvo de campanha de difamação
O PS ganha hoje no Montijo uma nova liderança, mas já perdeu unidade interna. Catarina Marcelino, presidente da Assembleia Municipal, vai suceder a Nuno Canta na presidência da Comissão Política Concelhia, já que encabeça a única lista que irá a votos esta sexta-feira, depois de Emanuel Costa ter desistido de se candidatar, falhadas as negociações que envolveram até a distrital do partido para uma concertação de posições entre as duas partes. A divisão revelou-se insanável e o socialista Fernando Caria, que preside à Junta de Montijo/Afonsoeiro e que está desde a primeira hora ao lado de Emanuel Costa, abre o livro.
Ficou sem espaço dentro do PS/Montijo com a saída de Emanuel Costa da corrida pela Comissão Política Concelhia?
Fico tal e qual como estava, quando apoiei a candidatura de Emanuel Costa. Era uma candidatura que abria o partido à população, que é o que nos interessa: ouvir as pessoas. A candidatura de Catarina Marcelino não tem isso. Não me revejo nos ideais que ela tem. Para mim, em primeiro lugar está o Montijo e não o partido, como sempre disse. Não me revejo na candidatura (única) de Catarina Marcelino e nem sequer irei votar. Não me revejo politicamente, porque não me revejo neste PS do Montijo. Revejo-me num partido que defende em primeiro lugar a terra. Considero que esta nova liderança não irá colocar a terra em primeiro lugar, mas sim o partido. Já se está a notar isso. E não me revendo não vou criticar nem dizer mal de ninguém, contrariamente ao que eles estão a fazer comigo. Estão a denegrir a minha imagem num grupo que têm, quer em termos pessoais quer em termos autárquicos.
Que grupo é esse?
Um grupo da candidatura de Catarina Marcelino, no WhatsApp. Nesse grupo estão pessoas que não se revêem na maledicência sobre a minha pessoa e que me têm mostrado essas conversas. Há até quem diga que ando a pagar a pessoas para que digam bem de mim nas redes sociais. Sei quem publicou, sei quem diz mal de mim, porque tenho lá pessoas amigas que me vêm mostrar o que se está a passar. A facção de Catarina Marcelino não gosta de mim e chegámos a um ponto em que, para eles, já vale tudo. Dizem que não tenho feito nada como autarca, que não sirvo para o Montijo, que não tenho força absolutamente nenhuma na minha terra, que pouca gente me conhece…
Acha que se enganaram no “número da porta”, desde logo face à percepção que existe da sua maior aceitação no seio da comunidade?
Acho é que estão a enganar-se a eles próprios. Já dei provas no Montijo. Não é por acaso que, nas últimas três autárquicas, tive sempre mais votação na freguesia [Montijo/Afonsoeiro] do que o então presidente da Câmara [Nuno Canta] e a presidente da Assembleia Municipal [Catarina Marcelino].
Caiu por terra a possibilidade de poder vir a candidatar-se à presidência da Câmara nas autárquicas do próximo ano? Pelo menos no seio do partido caiu…
Ainda não pensei sobre isso. Pelo PS não vou ter hipótese de me candidatar, porque eles não querem que eu fique no partido como [próximo] candidato à Câmara Municipal.
Quem querem que seja o candidato? Já havia sido avançado o nome de Ricardo Bernardes numa reunião da comissão política…
Continua a ser o candidato previsível do PS.
Mas acha que poderá mudar?
Não faço ideia. Acho que estou a incomodar muita gente por pensar primeiramente no Montijo do que no partido. O que sei e que vou vendo é que o PS quer Ricardo Bernardes, já está como empregado da Câmara, como chefe de gabinete da actual presidente. Esse é um caminho que está a ser trilhado e, no meu ponto de vista, está aberta e reforçada a candidatura de Ricardo Bernardes à Câmara pelo PS.
Não “querem” Fernando Caria ou é Fernando Caria que se afasta deste PS?
Sou socialista, mas à frente do partido está o Montijo. Se não me revejo nesta candidatura, afasto-me.
E isso pode levá-lo a um afastamento definitivo, a entregar o cartão de militante?
Terei de pensar. Até final deste mandato irei servir a minha terra como presidente de junta e farei tudo o que puder para cumprir na íntegra o programa com que nos submetemos a eleições. A partir daí, vamos ver. Muita água passará por debaixo das pontes.
Por que não houve entendimento entre as partes, depois de a presidente da distrital, Eurídice Pereira, ter vindo ao Montijo apelar à união das duas candidaturas?
Porque não há vontade de quem está frente da candidatura que vai [hoje] a votos de abrir o partido à comunidade. Quando a federação pensou em unir o partido, o nosso grupo, de Emanuel Costa, abdicou de ter alguém como presidente da concelhia. Aceitámos dois nomes: Pedro Marques e também Clara Silva, actual presidente da Câmara, ambos apoiantes da candidatura de Catarina Marcelino. A única condição que apresentámos foi que o candidato do PS à Câmara nas próximas autárquicas fosse escolhido ou pelo resultado de uma sondagem vinculativa junto da população ou por eleições directas no partido junto de todos os militantes. A outra candidatura não aceitou nenhuma destas condições. Ao abdicarem de dar voz à população e aos militantes, saímos da corrida. Não há união no partido. Realizaram-se três reuniões para concertar posições, uma com a presidente da federação e mais duas onde estiveram os dois líderes das candidaturas com Nuno Canta, e na última também Clara Silva.
Acha que a federação distrital fez tudo o que podia neste processo ou esperava mais?
Penso que poderia ter feito um pouco mais. Mas essa é a minha forma de ver. Era de todo o interesse que o partido saísse reforçado no Montijo, mas não tenho a menor dúvida de que não sai reforçado com esta divisão.
Por que razão assume neste momento esta posição?
Porque temos de mostrar a verdade e porque não posso admitir que tentem denegrir a minha imagem.
Teme que após esta entrevista o partido lhe retire a confiança política?
Não tenho problemas com isso, até porque acho que não estou a dar motivos para isso, uma vez que apenas estou a transmitir a minha opinião, sem pôr em causa qualquer pessoa que faz parte do partido. Se quiserem retirar-me a confiança política… o meu partido principal continua a ser o Montijo, a minha terra. Ficaria muito mais desgastado se fosse o povo do Montijo a retirar a confiança em mim depositada. Se a concelhia me retirar a confiança política, acho que me dará mais força.