Assinalou-se, no dia 5 de Março, o 202º aniversário do nascimento de João Carlos de Almeida Carvalho, fundador do mais antigo periódico de Setúbal, o jornal semanário O Setubalense, um dos mais antigos jornais portugueses, anterior a jornais nacionais, como o Diário de Notícias (1864), o Século (1880), ou o Jornal de Notícias (1888).
Iniciou a sua publicação, com tipografia própria, no dia 1 de Julho de 1855 e o actual periódico O Setubalense: Diário da Região é o herdeiro deste antigo jornal O Setubalense.
O fundador e principal impulsionador do antigo O Setubalense, decano do jornalismo de Setúbal, foi João Carlos de Almeida Carvalho, nascido em Setúbal, no dia 5 de Março de 1817 e falecido, em Setúbal, a 29 de Março de 1897.
No registo de baptismo de João Carlos de Almeida Carvalho podemos recolher outros dados biográficos: “Aos quize dias do mês de Março de mil e oitocentos e dezesete nesta paroquial Igreja de São Sebastião de Setúbal, com licença do reverendo prior, baptizei e pus os santos óleos solemnemente a João, filho legitimo de António Coelho de Carvalho e de Dona Anna Ritta de Almeida e Silva, recebidos na Igreja de Santo António desta ditta villa, que nasceo a cinco do presente mês de Março. Foi padrinho João Carlos de Almeida Soares…”[1].
Nas palavras do bibliógrafo e amigo, Inocêncio Francisco da Silva, que lhe dedica uma entrada no seu Dicionário Bibliográfico, Almeida Carvalho foi “Primeiro Official Tachygrapho da Secretaria da Câmara dos Pares, e Advogado nos auditórios da villa de Setubal, sua pátria”[2].
E o mesmo bibliógrafo descreve a obra publicada por Almeida Carvalho, para além da colaboração no já citado jornal O Setubalense, que se publicou, nesta primeira fase, entre 1 de Julho de 1855 e 27 de Dezembro de 1857: Relatórios dos trabalhos da Sociedade Arqueológica Lusitana. Lisboa: Typ. Da Revista Popular, 1851; e “A roda do sal e a liberdade do comércio” (publicado em A Justiça, nº 140, 141 e 142 e em A Nação, nº 1419, de 1852).
Refere, ainda, a sua colaboração nos Annaes da Sociedade Arqueológica Lusitana, de Setúbal, de quem foi co-fundador, em 1849. Assina, igualmente, vários artigos no jornal A Revolução de Setembro, de Lisboa, sobre diversos acontecimentos passados em Setúbal: “Breve noticia da quebra d’ escudos e as exéquias feitas em Setúbal pela morte da rainha, a senhora D. Maria II” (nº 3513, de 1853); “Setúbal e as suas muralhas” (nº 3792, de 1854); “Considerações sobre o terremoto de 11 de Novembro de 1858 na villa de Setúbal” (nºs 4984, 4985 e 4989, de 1858); “Considerações acerca da necessidade de extinguir o tributo que peza sobre os pescadores” (nº 4995, de 1858); “Archeologia”, artigo sobre umas antiguidades romanas encontradas em Lisboa (nº 5086, de 1859)[3].
Em termos profissionais, Almeida Carvalho era um estenógrafo de mérito e por alturas da publicação do primeiro exemplar do jornal “O Setubalense”, é nomeado, em sessão da Câmara dos Pares, do dia 13 de Julho de 1855, 2º taquígrafo da mesma Câmara dos Pares, em Lisboa.
Antes ainda, em 9 de Maio de 1855, é-lhe passado alvará pelo Supremo Tribunal de Justiça para poder advogar, nos auditórios das comarcas de Setúbal, Almada, Aldeia Galega do Ribatejo e Alcácer do Sal[4].
Assume o cargo de director geral da repartição taquigráfica da Câmara dos Pares, por proposta aprovada em sessão da mesma de 21 de Janeiro de 1878.
Foi, também, um profícuo historiador autodidacta da sua terra natal, tendo-nos legado um espólio riquíssimo com preciosas informações históricas sobre Setúbal, espólio, hoje, depositado no Arquivo Distrital de Setúbal. Mais preciosos, ainda, atendendo ao facto de que algumas das fontes por ele consultadas, nomeadamente os documentos existentes no antigo arquivo da Câmara Municipal de Setúbal, terem desaparecido, no incêndio do edifício dos Paços do Concelho, ocorrido na noite de 4 para 5 de Outubro de 1910.
Decano dos jornalistas de Setúbal, envolvido na política, ao lado do partido regenerador, cidadão activo na causa cívica em prol da sua cidade de Setúbal, João Carlos Almeida Carvalho é merecedor da nossa homenagem e motivo de justificado orgulho da geração actual de jornalistas deste vetusto jornal.
[1] Arquivo Distrital de Setúbal. Paróquia de S. Sebastião (Setúbal). Registos de baptismos. 1810-1818, f. 163v-164r
[2] SILVA, Inocêncio Francisco da – Dicionário Bibliográfico, t. III. Lisboa: Imprensa Nacional, 1859, p. 338.
[3] Idem. Ibidem, p. 338-339
[4] Arquivo Distrital de Setúbal. Arquivo Pessoal Almeida Carvalho. Cota: 12/434/pt. 10/1, p. 185