Portugal já pode dizer que também figura entre os conquistadores da maior liga do mundo de basquetebol. O atleta do Vale da Amoreira foi o primeiro luso a jogar na competição e… a receber o famoso anel do título
O basquetebolista português Neemias Queta reforçou o seu papel de “referência inspiradora” para os mais jovens com o anel de campeão da Liga norte-americana (NBA) conquistado ao serviço dos Boston Celtics, disse à Lusa o presidente da federação.
“Começar por felicitar o Neemias, por ter concretizado primeiro um sonho, que era chegar à NBA, e depois conseguir aquilo que só um número muito restrito [de jogadores] à escala planetária consegue realizar, obtendo o anel mais cobiçado pelos milhares de jogadores que já se cruzaram com a NBA”, afirmou à Lusa Manuel Fernandes, presidente da Federação Portuguesa de Basquetebol (FPB).
Neemias Queta sagrou-se, aos 24 anos, campeão da NBA pelos Boston Celtics na sua primeira época ao serviço da equipa de Massachusetts e à terceira temporada na competição, em que foi o primeiro basquetebolista luso a jogar, quando foi escolhido no draft pelos Sacramento Kings, em 2021.
O dirigente felicitou o poste internacional português “por aquilo que já deu à promoção” do basquetebol nacional, mas também pela “resiliência, vontade e enorme talento” que evidenciou no seu percurso de três anos na NBA, a par das qualidades humanas.
“Eu não queria deixar passar em claro como é bom ver que ele continua a ser uma pessoa humilde e responsável. Isso reforça-o como aquele exemplo que vai servir ainda mais para alimentar o sonho de milhares de jovens basquetebolistas e outros que ainda não começaram no basquete, mas que vão ser influenciados por ele”, destacou o dirigente.
Neemias Queta é “um exemplo de atleta” e também “uma inspiradora referência” que prova que “tudo é possível se acreditarmos no nosso valor e se estivermos determinados em atingir os nossos objectivos”, reforçou o presidente da federação sobre a “força de vontade indómita” e a “vontade férrea de triunfar” do poste luso.
“Basta ver o que se passa na terra dele, no Vale da Amoreira [na Moita], em que o campo 3×3 em sua homenagem e outros campos estão sempre completamente cheios de jovens. Antes jogavam futebol, agora estão lá a jogar basquetebol, porque querem seguir aquele que é um grande herói”, prosseguiu Manuel Fernandes.
Mesmo tendo somado poucos minutos em apenas três jogos nos play-offs, um deles na final da edição 2023/24, em que os Celtics derrotaram os Dallas Mavericks por 4-1, o dirigente lembrou que Neemias “tem ganhado as apostas que fez” nos Celtics, que passaram a ter o maior número de títulos (18) na competição.
Assinou pela formação de Massachusetts com um contrato para jogar em duas competições (NBA e G-League), “mais baixo em termos de valores e que lhe dava menos segurança”, e depois conseguiu o contrato ‘standard’, com o qual pôde jogar nos play-offs, ao cumprir 28 jogos na fase regular da NBA, explicou.
“Ele deu um contributo, mais modesto, mas não esteve só lá para apoiar a equipa, deu também um contributo para que os Celtics chegassem até aqui”, sublinhou o dirigente, acrescentando: “Orgulhamo-nos por este feito que não nos passava pela cabeça há quatro ou cinco anos”.
O futuro de Neemias Queta na NBA está assegurado, garantiu o presidente da FPB, quer seja em Boston quer seja noutra equipa da competição “que precise de um jogador com as características que ele tem”.
O dirigente está convicto de que “a maior referência que o basquetebol português já alguma vez teve” vai deixar de ser inédito, apontando como exemplo Rúben Prey, internacional português de 19 anos do Joventut Badalona, de Espanha, que especialistas indicam ter “potencial enorme” para chegar à NBA.
E, realçou ainda Manuel Fernandes, também haverá mais jogadoras portuguesas na WNBA, a Liga feminina norte-americana de basquetebol, seguindo as pisadas das “emblemáticas” Mery Andrade e Ticha Penicheiro.
Técnico Henrique Pina: “Vida de Neemias dava filme de Hollywood”
A vida do basquetebolista português Neemias Queta dava “um filme de Hollywood”, disse hoje Henrique Pina, antigo treinador de sub-16 do novo campeão da NBA, ponto mais alto de um percurso que acaba por ser “uma surpresa”
“A vida dele daria um filme de inspiração de Hollywood. Porque desde o dia em que ele chegou, com algumas debilidades físicas, passados 12 anos [ver] o homem que está, com a envergadura e o complemento físico que ele tem, só com muito trabalho que foi feito e muita força psicológica”, disse à agência Lusa o actual treinador do Estoril Basket.
De acordo com o técnico, o sucesso do internacional português ao serviço dos Boston Celtics, apesar de ser “um grande orgulho a nível nacional”, também “não deixa de ser uma surpresa”.
Quando o treinou, nos escalões jovens do Barreirense, Henrique Pina augurava-lhe um percurso “forte na Liga portuguesa” e que pudesse “chegar à Selecção Nacional”, mas “nunca se pensaria” que um dia iria “chegar à NBA e logo à equipa campeã”.
Até porque, explicou o técnico, só a enorme força psicológica de um jogador que, naquele tempo, até era “franzino”, fez com que nunca abandonasse a modalidade.
“O percurso dele e a vida pessoal fez com que fosse muito forte psicologicamente, que nunca desistisse. O Neemias morava a cerca de 10 ou 12 quilómetros do pavilhão e muitas das vezes vinha a pé treinar. Com aquela idade, tinha tudo para desistir, mas pela parte psicológica conseguiu chegar onde está com todo o mérito”, recordou Henrique Pina.
Desse tempo, em que o actual campeão de basquetebol da NBA se deslocava a pé desde o Vale da Amoreira, um bairro social na Moita, até ao pavilhão do clube da margem sul do Tejo, o técnico recorda, ainda, um jovem com “dificuldades” físicas.
“Ele era muito franzino, tinha ali algumas carências de saúde, alguns problemas de locomoção. Como era muito grande e, depois, meio franzino, muitas vezes passava o tempo no chão porque caía”, confidenciou o técnico à agência Lusa.
Por isso, apesar do “trabalho físico que depois foi feito” com o jovem internacional português, de 24 anos, e que “surtiu” efeito, o percurso de Neemias acaba por ser surpreendente para os seus antigos treinadores.
“Para nós todos é uma surpresa, ninguém pode dizer que não. Ver o Neemias, enquanto jovem, enquanto atleta, tornar-se campeão da NBA, é um grande orgulho a nível nacional termos um atleta nesse patamar, mas não deixa de ser uma surpresa. Uma boa surpresa”, concluiu Henrique Pina.